sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Amores perros

Con el fin del año ha llegado a Lima una extraordinaria novela. El hombre que amaba a los perros, del cubano Leonardo Padura (Tusquets, Buenos Aires, 2011) le da un giro contemporáneo a la conocidísima historia del asesinato de León Trotsky en México a manos de un agente infiltrado en su círculo íntimo por José Stalin, 1940.



Parte del giro está en que el narrador es un cubano que vive en La Habana, presenta al lado del relato histórico su propia vida diaria en la dictadura burocrática contemporánea de los hermanos Castro, y expresa una suerte de simpatía objetiva hacia el lado humano de Trotsky, la víctima de esta historia.



El otro giro es que se trata de una obra de tema político deliberadamente escrita en la forma de una novela de serie negra policial. Padura no omite los contenidos de la enemistad Stalin-Trotsky, pero el tema central es la cacería misma, evocada desde los años 80 como un secreto peligroso, acaso por estar el narrador en Cuba.



El último cubano célebre que narró el asesinato de Trotsky fue Guillermo Cabrera Infante. Su novela Tres tristes tigres (1964) presenta una parodia de cómo tratarían el tema diversos escritores cubanos. Entonces evocar los crímenes de Stalin era una provocación en la isla, aun si el XX Congreso desestalinizador del PCUS había sido ocho años antes.



Hoy las cosas son diferentes. El autoritarismo del régimen cubano nunca ha podido, y en verdad tampoco querido, ni remotamente competir con la vesania del alcohólico Stalin y sus ejecutores. Padura se las ingenia para reconocer esto y a la vez para tender un largo arco de relación entre el horror soviético y las playas tropicales.



Es inevitable que el lector llegue a la conclusión de que todo sistema staliniano, radical o moderado, necesita uno o varios Trotskys para mantener las cosas en su sitio. Los hermanos Castro se libraron de sus críticos y detractores muy temprano, con eficacia y sin la truculencia del colega georgiano. Pero la comparación llegará tarde o temprano.



El libro tiene el ritmo y la estructura de las policiales modernas, y esok inevitablemente influye en nuestra percepción del célebre asesinato. Lo que suele ser presentado como una pugna ideológica aquí aparece sobre todo como la conspiración de un asesino compulsivo, que empieza devorando fichas y termina comiéndose el tablero mismo.



Por eso si bien hay en el texto un Stalin infame, no hay en cambio un Trotsky heroico (el tiempo de la novela empieza después de su caída en desgracia). La naturaleza de la víctima rara vez es relevante en el discurso de la serie negra; es la mentalidad del protagonista lo que nos hace avanzar en la lectura

Por: Mirko Lauer – La República





quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

“Como o interior do trem não era muito claro, aquele espelho não era tão nítido quanto deveria ser. Ele não refletia bem as imagens. Por isso, enquanto Shimamura olhava compenetrado, foi se esquecendo da existência do espelho e começou a pensar que a moça flutuava na paisagem do entardecer.
Foi nesse momento que os raios de sol, já tênues, iluminaram o rosto dela. O reflexo do espelho não era suficiente para apagar a claridade de fora, nem esta, forte o bastante para ofuscar a imagem refletida no espelho. A claridade passava como um relâmpago pelo seu rosto, mas não era suficiente para iluminá-lo. A luz era fria e distante. No momento em que o contorno de sua pequena pupila foi se iluminando, como se os olhos da moça e a luz se sobrepusessem, seus olhos se tornaram um vaga-lume misterioso e belo que pairava entre as ondas da penumbra do cair da tarde.” (p. 15)
O PAÍS DAS NEVES
Yasunari Kawabata

Tradução de Neide Hissae Nagae
“Da janela do trem, avistava uma larga avenida com altas árvores que despontava logo após a estação Yurakucho e se estendia até a estação de Tóquio, cruzando de leste a oeste a linha do trem. Naquele momento, o asfalto refletia o pôr-do-sol tal qual um cinturão de metal radiante. Contudo, as árvores estavam à contraluz e apenas insinuavam-se suas silhuetas. As sombras pareciam frescas. Os galhos se expandiam para todos os lados, cobertos de folhas. Em ambas as calçadas, havia sólidas mansões de estilo ocidental. Estranhamente, poucas pessoas passavam por ali. Não havia viva alma até bem próximo do fosso do Palácio Imperial. Nem carros havia no asfalto que refletia a luminosidade. Observando de dentro daquele trem lotado, o lugar parecia estar suspenso no entardecer de algum mundo além da imaginação. Havia uma atmosfera estrangeira em tudo.” (p. 63)

MIL TSURUS
Yasunari Kawabata

Tradução de Drik Sada
“O verniz arranhado daquele vaso antigo deixava semi-aparente a assinatura da peça, ‘Soutan’, que também estava presente na caixa onde ele era guardado. Caso fosse autêntica, a cabaça teria cerca de trezentos anos. Kikuji não conhecia as flores usadas na cerimônia do chá, tampouco sua criada o sabia. Apesar disso, aquela bela-da-manhã parecia ideal a uma cerimônia das primeiras horas do dia. Ficou a observar o arranjo por algum tempo. Que fascinante era ver aquele ramo de vida tão efêmera dentro de uma cabaça tão antiga! Aquela singela flor combinaria melhor com o mizusashi de Shino que o ramalhete de estilo ocidental que comprara? Quanto tempo poderia durar num vaso uma bela-da-manhã? Kikuji sentiu certa inquietude ao pensar na sua fugacidade.” (p. 112)

MIL TSURUS
Yasunari Kawabata

Tradução de Drik Sada
“A peça era exatamente como Fumiko havia descrito ao telefone naquela manhã. Seu esmalte branco apresentava um leve toque avermelhado. Observando-o por algum tempo, parecia que aquela tonalidade rubra emergia de dentro do branco. Toda a borda era ligeiramente amarronzada, havendo apenas uma faixa mais escura. Seria ali onde a boca tocava? A bebida bem podia ter-lhe tingido a borda, ou então, seriam os lábios de alguém que a maculara. Aquela suave mancha marrom, à medida que era olhada, começava a parecer rosa. Seria mesmo a marca de batom da viúva impregnada na cerâmica, como Fumiko lhe contara? Kikuji também reparou numa coloração marrom-avermelhada nas trincas naturais da cerâmica. Era um tom parecido com o de um batom desbotado, uma rosa vermelha murcha... Mas quando o associou a uma mancha seca de sangue, sentiu-se enjoado. Tinha a sensação de um embrulho no estômago mesclado a uma certa sedução que o fascinava.” (p. 128-9)

 MIL TSURUS
Yasunari Kawabata

Tradução de Drik Sada
“Ele só havia visto Yukiko duas vezes. A primeira, na cerimônia do chá no templo Engakuji, quando Chikako levara a jovem a fazer uma demonstração, com a função de exibi-la a ele. Durante o preparo do chá, seus gestos eram simples e elegantes. Kikuji ainda trazia fresca na memória a imagem dos ombros e das mangas do quimono de Yukiko, bem como de seus cabelos, iluminados sob a divisória de papel-arroz por onde se projetavam suavemente as sombras das árvores próximas. Só não conseguia recordar-se muito bem de suas feições. Já o fukusa vermelho e o lenço de tsurus brancos que a jovem levava quando se dirigia à sala de chá eram-lhe vivas lembranças.” (p. 144)

MIL TSURUS
Yasunari Kawabata

Tradução de Drik Sada
“Os cedros da aldeia de Kitayama eram todos administrados por pequenos empresários. Contudo, nem toda família era dona de terra. Pelo contrário, poucos o eram. Chieko cogitava se seus pais também teriam sido empregados de alguma família proprietária. A própria Naeko dissera: ‘Estou trabalhando para...’ Tudo havia acontecido vinte anos antes. Chieko teria sido abandonada porque, na época, ter filhos gêmeos era considerado uma vergonha, além do que se acreditava na dificuldade de criá-los com saúde. Era possível que tivessem se preocupado também com os escassos rendimentos da família. Chieko esquecera de perguntar três coisas a Naeko. Por que abandonaram a ela e não a irmã? Quando ocorrera o acidente do pai, sua queda do alto do cedro? Naeko dissera ser ‘recém-nascida’ na época, no entanto... Havia dito também ter nascido na casa do avô materno, um lugar bem mais remoto do que a aldeia dos cedros. Nesse caso, qual seria o nome do lugar?” (140-1)

KYOTO
Yasunari Kawabata

Tradução de Meiko Shimon
“Suas lindas e intensas pupilas negras encerradas em seus grandes olhos eram de rara beleza. Suas sobrancelhas também eram belas. Lembrava uma flor sorrindo. Exatamente: uma flor sorrindo era a melhor definição.” (p. 37)

A DANÇARINA DE IZU
Yasunari Kawabata
“Quando se deitavam em contato com a nudez da jovem mulher, os sentimentos que ressurgiam do fundo do seus âmagos talvez não fossem apenas o medo da morte que se aproximava ou o lamento pela juventude perdida. Talvez houvesse neles também certo arrependimento pelos pecados cometidos, ou pela infelicidade no lar, coisa muito comum nas famílias dos vencedores. Decerto os velhotes não possuíam seu Buda, diante do qual pudessem ajoelhar-se e orar. Por mais que abraçassem fortemente a bela desnuda, derramassem lágrimas frias, se desmanchassem em choro convulsivo ou berrassem, a garota nada ficaria sabendo e jamais acordaria.” (p. 80)
A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS
Yasunari Kawabata

Tradução de Meiko Shimon
Poder-se-ia dizer que o mestre sofreu na última partida de go de sua vida com o racionalismo da modernidade, que tornou tudo rigorosamente amarrado em meticulosas regras; com isso, a graça e a elegância dessa arte tornaram-se artigos obsoletos, o respeito e a consideração aos superiores foram esquecidos, e nem ao menos há o mútuo apreço como seres humanos. (p. 67)
              
O MESTRE DE GO
Yasunari Kawabata

Tradução do japonês: Meiko Shimon
Diante do tabuleiro, a tensão entre o mestre e Otake se manifestava de modos opostos: calma contra agitação, indiferença contra nervosismo. Imerso no mundo do go, o mestre não mais deixava o tabuleiro. Para um profissional, basta ver a postura ou a expressão de seu adversário para saber se a situação da partida será favorável ou não; mas dizem que isso não se aplica no caso do mestre Shusai. (p. 56)

O MESTRE DE GO
Yasunari Kawabata

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

• Toda minha vida, tive o sentimento de estar distante de meu verdadeiro lugar. Se a expressão “exílio metafísico” não tivesse nenhum significado, minha existência sozinha forneceria um a ela.

(Emil Cioran)

domingo, 18 de dezembro de 2011

Silêncio, fale comigo

Silêncio fale comigo
E ecoe o timbre da voz
Que já sussurrou promessas
Que se calou tão depressa
E assim se fez tão algoz

Silêncio fale comigo
Venham matear ao meu lado
Desperte esta placidez
Não fique assim tão calado
Fale comigo outra vez.

Cesar Tomazzini Liscano
Caminante, son tus huellas


el camino, y nada más;

caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

Al andar se hace camino,

y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca

se ha de volver a pisar.

Caminante, no hay camino,

sino estelas en la mar.



Português



Caminhante, são teus rastos

o caminho, e nada mais;

caminhante, não há caminho,

faz-se caminho ao andar.

Ao andar faz-se o caminho,

e ao olhar-se para trás

vê-se a senda que jamais

se há-de voltar a pisar.

Caminhante, não há caminho,

somente sulcos no mar.


Antonio Machado

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dime


Dime por favor donde estás,
en que rincón puedo no verte,
dónde puedo dormir sin recordarte
y dónde recordar sin que me duela.

Dime por favor dónde pueda caminar
sin ver tus huellas,
dónde puedo correr sin recordarte
y dónde descansar con mi tristeza.

Dime por favor cuál es el cielo
que no tiene el calor de tu mirada
y cuál es el sol que tiene luz tan sólo
y no la sensación de que me llamas.

Dime por favor cuál es el rincón
en el que no dejaste tu presencia.
Dime por favor cual es el hueco de mi almohada
que no tiene escondidos tus recuerdos.

Dime por favor cuál es la noche
en que no vendrás para velar mis sueños...
Que no puedo vivir porque te extraño
y no puedo morir porque te quiero.

Jorge Luis Borges

A Traição




quando do cavalo de tróia saiu outro
cavalo de tróia e deste um outro
e destoutro um quarto cavalinho de
tróia tu pensaste que da barriguinha
do último já nada podia sair
e que tudo aquilo era como uma parábola
que algum brejeiro estivesse a contar-te
pois foi quando pegaste nessa espécie
de gato de tróia que do cavalo maior
saiu armada até aos dentes de formidável amor
a guerreira a que já trazia dentro em si
os quatro cavalões do vosso apocalipse.

Alexandre O’Neill