segunda-feira, 5 de julho de 2010

ESCADAS

Poesias


ESCADAS




Escadas de caracol



Sempre



São misteriosas; conturbam...



Quando as desce, a gente



Se desparafusa...



Quando a gente as sobe



Se parafusa



– o peito



estreito –



o teto descendo



Descendo descendo como nas histórias de imortal horror !



Mas de que jeito,



Mas como pode ser.



Morrer cair rolar por uma escada de parafuso ?



Além disso não têm, pelo dizem nenhuma acústica...



Oh ! Não há como as escadarias daqueles antigos



edifícios públicos



Para ser assassinado...



Porém não fiques tão eufórico,



– nem tudo são rosas:



Há,



No sonho das velhas casas de cômodos onde moras,



Passos que vêm subindo degrau por degrau em



direção ao teu quarto



E 'sabes' que é um fantasma chamejante e fosfóreo



– o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes !



O melhor



Mesmo



É fechar os olhos



E pensar numa outra coisa...



Pensa, pensa



– o quanto antes !



Naquelas podres escadas de madeira das casas pobres



– escurinho dos teus primeiros aconchegos...



Pensa em cascatas de risos



Escada a baixo



De crianças deixando a escola...



Pensa na escada do poema



Que tu



comigo



vem descendo



agora...



(Hoje em dia todas as escadas são para descer)



Mas não ! Este poema não é



Nenhum



Abrigo



Antiaéreo...



Ah, tu querias que eu te embalasse !?



Eu estava, apenas, explorando uns abismos...



Mário Quintana

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