Em 1964 eu era uma aeromoça e fiquei sabendo, no último
instante, que os Beatles estariam no meu voo de duas horas de Nova Iorque para
Miami. Eu já era fã de suas músicas pelo rádio e agora teria o privilégio de
vê-los cara a cara e ainda servi-los. Levei semanas para refazer-me da emoção
de tê-los conhecido justamente em sua primeira visita ao meu país. John, ao
lado de sua esposa Cynthia, permaneceu quieto o tempo todo, sentado na última
fileira. Os outros não paravam de distribuir autógrafos. Eles primavam pela
alegria, simpatia e um senso de humor que eu nunca vira antes. Eles davam a
nítida impressão de que não estavam levando a sério esta ideia de conquistar o
maior mercado de consumo do mundo. Na verdade, eles não levavam os Beatles a
sério. Para eles, tudo não passava de uma grande aventura. Eles deviam estar
pensando: ‘Já que estão nos pagando, por que não aproveitar e divertir-se?’
Ringo insistiu em colocar um colete salva-vidas antes de aterrissar e queria, a
todo custo, ver da janela do avião algum tubarão no mar. Paul era a prova cabal
de que os Beatles não esperavam tornar-se famosos nos EUA. Ele perguntou-me:
‘Será que vai ter alguém nos esperando no aeroporto?’ Ao descer na pista,
milhares de pessoas enlouquecidas os aguardavam do lado de fora. Eles
desfilaram em carro aberto pelas ruas e eram saudados pelo povo como se fossem
heróis astronautas voltando da primeira viagem tripulada à Lua. Algumas de
nossas celebridades, com uma pontinha de inveja, dizem que nós entregamos a
América de bandeja para eles. É verdade que eles não precisaram conquistar
nada; o mundo todo prostrou-se aos seus pés como súditos reconhecendo a
majestade de seus reis.
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