"A austeridade, para quem
não tenha notado, não funciona. Como diz Stiglitz, nunca funcionou. Por uma
razão simples: o capitalismo, para se expandir, precisa de produtores, mas
também de consumidores. No centro do raciocínio, está a ilusão de que não temos
recursos suficientes para incluir os pobres. As políticas sociais e um salário
mínimo decente não caberiam na economia, no orçamento, ou na Constituição,
segundo os políticos. Façam um cálculo simples: o Brasil produz 6,3 trilhões de
reais de bens e serviços, o montante do nosso PIB. Isso dividido por 208
milhões de habitantes nos dá um per capita de 30 mil reais ao ano, ou seja, 10
mil reais por mês por família de 4 pessoas. Isso está longe das ambições de
consumo da nossa classe média alta, mas assegura, para o comum dos mortais, o
suficiente para uma vida digna e confortável. Nosso problema não é falta de
recursos, e sim a burrice na sua distribuição. Na fase do lulismo, a economia
cresceu, sendo que a renda dos mais pobres e das regiões mais pobres cresceu
mais do que a renda dos mais ricos: todos ganharam, os pobres de maneira mais
acelerada, reduzindo a desigualdade. A ascensão dos pobres gerou nos ricos a
reação esperada: a mesma que tiveram com Getúlio e com Jango, agora repetida
com Dilma e com Lula. Reconhecer que funciona o que sempre denunciaram seria
penoso demais. A burrice é muito teimosa. Portugal tem uma experiência
simpática: mandou a austeridade às favas, e está indo de vento em popa. Com uma
lei absurda de teto de gastos, nós institucionalizamos o aprofundamento da
desigualdade. Já se notou que a austeridade recomendada é a dos pobres que têm
pouco, e não a dos ricos que têm muito e ainda esbanjam?"
Ladislau Dowbor
22 de dezembro de 2018
(via Wilson Sasso)
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