Em 1989 o bastão da representação de esquerda dos
trabalhadores passou definitivamente para o PT, enquanto o Varguismo passava
para a história. Desde então o PT é o tronco e a força principal da esquerda
democrática no Brasil, sempre o mais ativo, qualificado e combativo partido
competitivo e que já mostrou com Lula, que pode vencer as eleições e ter plenas
capacidades de governança democrática e reformista. Um novo governo coletivo do
PT e dos movimentos sociais, mais democrático, mais social, mais nacional e
mais reformista é urgente e não o apelo a mais um líder do tipo carismático
isolado, um líder desconhecido e ainda não testado em seu projeto, sem o apoio
de um forte partido político de massas já experiente no poder. Não vejo muita
razão em apoiar ou se inspirar em líderes personalistas como Putin, Erdogan,
chefes de partidos nacionalistas, mas culturalmente muito conservadores e que
não podem ser definidos como de esquerda na atual conjuntura. O Brasil já
conheceu uma ditadura militar com péssimos resultados nos indicadores sociais e
no aumento da fome. Também conheceu um líder saído das oligarquias e que serviu
antes nos governos oligárquicos, antes de ser colocado na frente de um
importante movimento político de renovação. Getúlio Vargas entre 1930 e 1945. A
democracia, os partidos políticos eram questões menores naquele período e com
este tipo de liderança a esquerda organizada, os movimentos sociais sempre são
atacados e destruídos com o apoio da direita, assim que possível. Vargas
promoveu algumas mudanças, mas preservou o “status quo” e o poder das mesmas
oligarquias familiares anteriores. A direita e os conservadores derrotados em
1930, em 1932, logo apoiaram o massacre de Vargas contra a esquerda, em 1935 e
1937, apoiando o fim da democracia, a suspensão das eleições, o fechamento do
Congresso, a censura, a tortura da ditadura do Estado Novo até o fim da Guerra.
Por isso que não vejo com bons olhos pesquisas que colocam a direita apoiando
Bolso, ou mesmo Ciro contra o PT, assim que o candidato principal da direita
seja derrotado. A direita sempre sabe qual é o seu principal inimigo e o mais
perigoso aos seus interesses de classe. No Brasil o PT é o principal inimigo da
direita por motivos óbvios, os outros políticos e partidos até podem ser aceitos
para alianças conservadoras, como FHC e o PSDB que foram de mala e cuia para a
direita e não mais voltaram. Democracia só pode funcionar com grandes partidos
políticos de massa, com partidos representando as maiorias de trabalhadores e
camponeses, a classe média urbana, os professores e intelectuais progressistas.
A “boa memória” que ficou de Getúlio Vargas foi a de 1950-1954, o homem de
partido e de causas sociais, de causas nacionais progressistas, o líder eleito
democraticamente e perseguido pela mesma direita reacionária que o apoiara em
1935 e 1937. Entre 1954 e 1964 a herança varguista teve a sua prova de fogo,
com JK, João Goulart e Brizola, para ser infelizmente derrotada em 1964 e
fechar o seu ciclo histórico. Agora estamos nos tempos do PT e somente este
partido pode defender o Brasil da barbárie fascista, ditatorial, autoritária,
representada por falsos salvadores personalistas de direita.
RCO
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