"Nove dias antes de sua morte, Emmanuel Kant recebeu a
visita de seu médico. Velho, doente e quase cego, levantou-se da cadeira e
ficou em pé, tremendo de fraqueza e murmurando palavras ininteligíveis.
Finalmente, seu fiel acompanhante compreendeu que ele não se sentaria antes que
sua visita o fizesse. Este assim fez e só então Kant deixou-se levar para sua
cadeira e, depois de recobrar um pouco as forças disse: 'Das Gefül für
Humanität, hat mich noch nicht verlassen'. Os dois homens comoveram-se até as
lágrimas. Pois, embora a palavra 'Humanität' apresentasse, no século XVIII, um
significado quase igual a polidez ou civilidade, tinha, para Kant, uma significação
muito mais profunda, que as circunstâncias do momento serviram para enfatizar:
a trágica e orgulhosa consciência no homem de princípios por ele mesmo
aprovados e auto-impostos, contrastando com sua total sujeição à doença, à
decadência, e a tudo o que implica o termo 'mortalidade'."
(PANOFSKY, Erwin. "Significado nas artes visuais".
tr. Maria Clara F. Kneese e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2014. p.
19-20)
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