Prezado Senhor,
tomei a liberdade de escrever para o senhor mesmo sabendo
que o senhor não me conhece, mas isto não vem ao caso. O não vem ao caso, com
certeza lhe permitirá concluir que estou escrevendo de Curitiba, pois não vem ao
caso é uma expressão muito usada por vizinhos ilustres e outras pessoas na
cidade, principalmente aquelas que usam camiseta preta e estão acampadas numa
praça, também pertinho de minha casa.
Vou lhe falar um pouco deles antes de entrar no assunto
dessa missiva .
Os acampados não estão na praça porque pertencem ao MST, nem
são moradores de rua, portanto fique tranquilo. São gente de classe média que
se reveza no acampamento e estão lá porque apoiam uma famosa operação, que
virou pó de traque (to traindo minha origem, desculpe senhor) depois que a
Globo publicou suas conversas com um senador e o presidente da república.
Fico observando os que se revezam na praça e poderia lhe
dizer que são rapazes fortões, com braço grosso (já pensou eles trabalhando no
seu frigorífico, com certeza fariam bonito). As moças quase todas loiras de
óculos escuros, corpos malhados e sapatos de salto alto(também fariam bonito
trabalhando em suas empresas). Além dessa juventude linda, tem uns velhos com
cara de aposentados, senhoras mães de família, gente portanto muito
respeitável. Com certeza são ou foram todos trabalhadores e agora honestamente
lutam pelo bem da republica de curitiba e do brasil, diante de tantas denúncias
de corrupção. Esse brasil dos paranaenses, dos goianos e dos mineiros. Eu tô
fora, eu sou gaúcho, e gostava muito do Seu Brizola, de mais a mais meu pai
sempre me ensinou que a gente tem que ser honesto. Seu pai com certeza lhe
disse isto muitas vezes e por isto o senhor é o empresário de sucesso que é.
Deus salve seus esforços e cumule o senhor de bençãos.
Como gaúcho do interior que sou, queria lhe dizer que ando
meio apertado, sem dinheiro para coisinhas básicas, como pagar as despesas com
veterinário para meus gatos, comprar jornal velho para forrar o chão e a caixa
de areia dos bichanos e também para comprar ração, não tem o que chegue para os
dois. Como vi o senhor falando de sua generosidade, distribuindo um baita
dinheiro até para desconhecidos, quem sabe o senhor me arruma uns pilas para
cobrir essas pequenas despesas? Se não for pedir demais, gostaria que o Senhor
pagasse o conserto das válvulas dos banheiros do Congresso e dos palácios do
Planalto e do Jaburu, porque o cheiro tá brabo, dá pra sentir de longe. Deus
lhe recompensaria com muitas graças por este pedido.
um grande abraço e que deus mantenha o senhor sempre em boa
saúde, e com a guaiaca cheia, pois como o senhor sabe os homens generosos estão
cada vez mais raros. Na espera de sua oferta me despeço com o coração saindo
pela boca.
José Miguel Rasia
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