Entrevista | Fernando Bonassi
Um romance de geração
Em novo livro, escritor Fernando Bonassi faz uma radiografia
da ascenção e queda de uma classe social pela via do consumo
Luiz Rebinski e Marcio Renato dos Santos
Há 5 anos, Fernando Bonassi começou a elaborar uma narrativa
a respeito do Brasil, “país que se deitou embriagado, sonhou um pesadelo
previsível, sem graça, e acordou sufocado, endividado até o pescoço”. O
resultado acaba de se materializar no romance Luxúria que, de acordo com o
autor, trata “dessa confusão entre cidadania e consumo e endividamento, típica
do que aconteceu nos últimos anos. Transformamos os desgraçados em consumidores
sem que se tornassem cidadãos.” Luxúria apresenta a ruína de uma família, de um
operário que pretende construir uma piscina no quintal de sua casa. Mas o livro
trata, simultaneamente, de várias questões, entre as quais, o tempo. “O tempo é
a substância básica de Luxúria. O tempo vendido e comprado, o tempo usado, o
tempo jogado fora, mal aproveitado, arremessado na cara de quem não tem por
aquele que é o seu dono, seu feitor, o tempo que eu roubo de você para que
sobre tempo para mim”, diz o autor que, nesta entrevista, também fala sobre a
sua trajetória, que inclui outras obras literárias e roteiros para TV e cinema,
como os longas-metragens Cazuza — O tempo não para (2004) e Carandiru (2003).
“Reconheço que estraguei algumas boas ideias de romance, novela ou conto para
escrever uma sinopse de afogadilho, cenas banais de seriados e de
longas-metragens. Às vezes as necessidades da sobrevivência te obrigam a dispor
de forma leviana de algo muito querido e acalentado. Mas a vida é isso também.
Estou disponível pro jogo. Sem mágoas”, afirma Bonassi, 53 anos.
Quando, em que momento, você teve o insight, o ponto de
partida, para elaborar Luxúria? Desse primeiro momento até entregar o arquivo
para a editora, quanto tempo se passou? Reescreveu quantas vezes? Colegas
leram, deram algumas sugestões? Como foi, enfim, o processo de idealizar e
escrever o romance?
Eu andava com vontade de escrever algo sobre a profunda
frustração que viveu a minha geração. Eu me refiro àquelas pessoas que nasceram
na primeira metade dos anos 1960 e que assistiram às várias promessas de
civilização que foram sendo feitas e traídas pela venalidade cotidiana do nosso
violento, autodestrutivo e autodepreciativo, fazer político: tentamos eleger um
presidente de maneira direta, mas a ditadura só nos permitiu o colégio
eleitoral; o menos ruim daqueles que concorreram ao colégio eleitoral venceu,
mas teve o mal gosto de morrer antes de assumir, vivemos a era Sarney, as
funestas e cosméticas presenças de Collor e de Itamar Franco, depois assistimos
a cinco mandatos de governos eleitos pelo povo alienarem os seus mais caros
ideais democráticos e de igualdade social e governarem reféns dos partidos
derrotados, em alianças de bandidos num congresso de criminosos retroalimentado
pelo tesão de permanecer no Estado... É um paisinho de merda, não é, parceiro?
Também queria tratar dessa confusão entre cidadania e consumo e endividamento,
típica do que aconteceu nos últimos anos. Transformamos os desgraçados em
consumidores sem que se tornassem cidadãos. Também fui operário, minha antiga
atividade (ajustagem mecânica), por exemplo, entrou em extinção faz tempo: as
máquinas realizam melhor o serviço do que o melhor dos operários. Os homens são
desnecessários, e nunca houve tanto conforto disponível. Fácil, falso, mas
disponível, e todos acreditaram. Queria tratar de um país que se deitou
embriagado, sonhou um pesadelo previsível, sem graça, e acordou sufocado,
endividado até o pescoço. A desgraça de um operário que tenta construir uma
piscina em sua casa e é vencido pela insurreição dos elementos de seu mundo, me
pareceu um maravilhoso microcosmo, grotesco, do que fizemos de nós próprios. É
uma literatura do que está acontecendo, embora o romance tenha começado a ser
escrito faz 5 anos. A história tornou-se tristemente atual, isso é
indiscutível. Luiz Ruffato foi o único leitor do original e deu sugestões importantes,
que eu usei nas várias vezes em que reescrevi a narrativa. O livro teve umas
boas cinco versões, com mudanças substantivas em cada uma delas, até chegar a
esta última.
Há quem diga que a primeira frase deve definir, sintetizar o
romance e, em Luxúria, a narração começa da seguinte maneira: “É um momento
histórico de prosperidade num país acostumado a viver na merda.” Para quem
ainda não leu e mesmo para quem já conhece, considera que a primeira frase faz
uma apresentação da proposta de Luxúria?
Acho que sim. Neste sentido a frase é uma ótima síntese. O
romance trata justamente da construção desse imaginário que nos envolveu e
embriagou nos últimos tempos. Vivemos a falsa ilusão de que tínhamos resolvido
tudo porque os miseráveis estavam comprando carro popular e viajando de avião.
É claro que é maravilhoso que todos os cidadãos brasileiros disponham de bens e
vivam os prazeres e lazeres de uma viagem. No entanto, não conseguimos superar
esta fase infantil de nosso pseudodesenvolvimento. Os governos de esquerda não
realizaram a promessa de redução das diferenças em níveis consideráveis.
Governaram como governou desde sempre a direita, apresentando resultados
práticos, mantendo a injustiça social perto do intolerável, jogando no lixo os
valores que os levaram ao poder. Na hora em que sobrevém a crise e o
desemprego, sobram dívidas, quando deveria ter havido educação integral e de
qualidade e compreensão cultural das coisas do mundo em que vivemos, antes.
Ademais a imprensa e o governo estão cagando para os livros. Luxúria também
trata disso.
Luxúria apresenta uma família que, a partir das
possibilidades do crédito fácil, vai flertar com a sugestão de paraíso, via
consumo, e, em seguida, pagar a conta. Como foi criar esses personagens, o pai
operário, a esposa dependente de antidepressivos e o filho adolescente?
Elaborou a partir de pesquisa e observação?
Digo que o livro é lamentavelmente sobre pessoas e
acontecimentos reais e não minto. Percebi cedo que vinha de uma cepa de vermes
preguiçosos, estelionatários e puxa-sacos que sempre preferiram encostar-se num
sofá, de preferência com um copo de cachaça, a ler um livro, gente que sempre
olhou a ousadia e o progresso, com desconfiança e medo. Observo estas péssimas
qualidades por onde ando, também, especialmente entre os paulistanos à minha
volta, na violência de nossa polícia e do trânsito da cidade de São Paulo, nas
cadeias administradas pelo crime organizado na cidade mais rica do país, na
cegueira cultural, histórica e política do cidadão comum. O desleixo de alunos
e professores com o verdadeiro ensino. Livre, em tempo integral, laico...
Estamos um traste. E não é preciso pesquisar muito para notar estes
personagens: basta abrir os olhos e os ouvidos. Nossa degradação é progressiva,
insistente, inexorável até a burrice final.
Ao comprar uma piscina, a vida do operário ferramenteiro, o
super- -herói do relato, vai mudar, para sempre. A tentativa de instalação da
piscina no quintal da casa vai ocupar parte significativa deLuxúria. O livro
traz informações detalhadas, por exemplo, o que se lê na página 273: “A malha
de aço, a portuguesa, mas quadrada, ou retangular, num rococó reto e definido
por ângulos recortados. Cada quatro ferros de oito e cada estribo de quatro
milímetros são amarrados quatro vezes entre eles, em cada ângulo reto da
junção. Cada figura se gruda numa outra, gêmea, espelhada. Do mesmo tamanho.”
Você pesquisou sobre o assunto? Consultou manuais? Entrevistou profissionais da
área? A ideia foi provocar um efeito irônico?
O mundo do trabalho não requereu pesquisa nenhuma, pois fiz
o curso de ajustagem mecânica numa unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), numa fábrica de engrenagens do ABC paulista (A ZF de São
Caetano) em meados dos anos 1970, além de conviver numa família de operários
metalúrgicos reacionários, brutos e semialfabetizados (sabiam contar dinheiro e
calcular ângulos simples nos tornos, nada mais). Já a construção de piscinas,
seus tipos e seu funcionamento, isso sim me interessou pesquisar e colhi algumas
pastas de dados. Descobri coisas engraçadas e aterradoras. Usei muita coisa.
O capítulo 12 — “Recorde de acessos na semana” — traz
praticamente a descrição de um vídeo, a decupagem de um audiovisual. Neste
caso, você se valeu do seu conhecimento de com TV e cinema para incluir a
linguagem de roteiro dentro do romance?
Sou um escritor que teve a vantagem de viver num momento
histórico em que há diversas mídias que ainda necessitam desta coisa antiga,
mas sofisticadíssima, que é a dramaturgia, a literatura, enfim. Roteiro e livro
tem naturezas diferentes, mas brincar com as conexões entre as suas linguagens
específicas, é parte do meu prazer e interesse estético, desde sempre. Posso
fazer você “visualizar uma cena” num livro; ou fazer o espectador ouvir determinado
texto, viver certa emoção literária num filme. São questões que cada modalidade
de arte impõe aos verdadeiros criadores todos os dias, aliás.
Antes do fim do livro, há uma sequência de capítulos com
linguagens diferentes entre si, mas que, de maneira geral, funcionam — o
efeito, para o leitor, é surpreendente. O capítulo 71 traz a narração presente
em grande parte de Luxúria, o narrador em terceira pessoa apresentando uma
situação dramática. Já o capítulo 72, a exemplo do que foi perguntado na questão
anterior, mostra quase a decupagem de um audiovisual. O capítulo 73 é uma carta
de demissão. A sua estratégia, para conduzir Luxúria, foi, enfim, fazer uma
mistura, uma mescla, de opções narrativas?
Aprecio a ideia de narrar usando documentos (como a carta de
demissão, por exemplo), que substituem, ou melhor, que incluem em si próprios,
uma narrativa. O fato de os capítulos representarem abordagens diferentes, tem
à ver com o meu gosto pelas diversas linguagens que compõem a arte e a vida.
Sempre gostei de cinema, troço cosmopolita em essência, e de cultura pop em
geral. Aprendi filosofia com a Nouvelle Vague, política com Eisenstein e o
Cinema Novo, geografia e história com o Rock´n´Roll e assim por diante.
Em Luxúria há, na falta de palavra/ expressão mais precisa,
alguns núcleos: a casa da família, a empresa, a escola, a rua e a igreja. Esses
são, ou podem ser, os espaços, os cenários, em que personagens da realidade —
em diálogo com os personagens que aparecem no livro — circulam neste Brasil onde
teve crédito fácil em tempos recentes?
Na verdade, meus personagens são, tragicamente, “limitados”
por estes núcleos/ cenários. A vida da maioria dos meus sempre foi um
deslocamento entre o trabalho, lugar de sofrimento, e a casa, lugar de solidão.
A religião é triste e punitiva. O serviço a prestar uma repetição tola e
infinita. Os prazeres sexuais e gastronômicos limitados, a insegurança material
e espiritual constante. Culpa, cobrança, inveja, desprezo pela liberdade,
mesquinhez, desalento. A impressão generalizada é que se recebe pouco por andar
dentro da lei. É um caldo de cultura péssimo este em que estamos submersos, e
que vai nos levar à autodestruição em poucas décadas, é quase certo.
O tempo é uma questão em Luxúria: “Na fábrica o relógio anda
para trás, na escola o relógio não anda e em casa o relógio anda para o lado.”
(Sem mencionar a última, e arrebatadora frase do romance) os personagens de
Luxúria são engolidos pelo tempo?
O tempo é a substância básica de Luxúria. O tempo vendido e
comprado, o tempo usado, o tempo jogado fora, mal aproveitado, arremessado na
cara de quem não tem por aquele que é o seu dono, seu feitor, o tempo que eu
roubo de você para que sobre tempo para mim. As relações de trabalho, em países
pobres, burros e violentos como o nosso, são extremamente danosas para quem não
estudou e ganha pouco. O tempo dessas pessoas é um tempo inferior ao dos
outros, os que acham que podem fazer o que querem... Mas esta destruição do
tempo, essa banalização do tempo, no livro, é uma de suas partes artísticas
mais bem-sucedidas, na minha opinião. Acho verdadeiro aquilo que está lá,
conheço bem a perversidade, vivi e fui vivido por aquilo, fui humilhado e
humilhei dentro daqueles moldes.
A relação entre os personagens de Luxúria é marcada pela
tensão, há hostilidade e violência no convívio, seja entre os membros da
família ou outros personagens. Os brasileiros, os humanos, são violentos? Essa
é a característica que pode nos definir?
Violência é o traço de convivência que define sociedades e
países que desprezam a cultura, o ensino que aproxima o aprendizado das várias
gerações e os valores civilizatórios em geral, como é o caso do Brasil, em que
educação é merda até para os altos burocratas pau-mandados da educação privada
que, em São Paulo, por exemplo, advogam o ensino técnico. Eu pergunto: quem vai
dizer ao jovem: pare de conhecer, de se interessar e ampliar seus horizontes e
vá para a primeira linha de montagem que o aceitar, apertar parafusos?
Ridículos estes homens de poder, são ridículos e jurássicos todos eles...
Thor, o cachorro de estimação da família do operário
ferramenteiro, tem espaço, e destaque, em Luxúria. Um dos mercados que mais
crescem entre as micro e pequenas empresas é o dos pet shops. Há pensatas sobre
a relação entre cachorro e ser humano no romance. A relevância dos cães é cada
vez mais no Brasil contemporâneo?
Fiz a experiência de tentar doar um cão na Internet e quase
fui linchado. Os cães domésticos costumam preencher o vazio moral, sexual e
amoroso dos seus proprietários e este livro apenas esboça um quadro, muito
tênue, disso. Nada demais.
Você estreou com o livro de poesia Fibra ótica, ainda nos
anos 1980. Desde então, escreveu coletâneas de contos, romances, histórias
infantojuvenis, peças de teatro e roteiros para o cinema e a TV. Como você
entrou e se adaptou a tantos gêneros, que, apesar de utilizarem a mesma matriz
— a palavra — são idiossincraticamente diferentes?
Como já anotei, faço parte de uma geração em que as mídias
se abriram para o texto. Vindo de um ambiente operário eu sabia que devia fazer
algo que me permitisse pagar as contas. A ideia e a vontade de vender meu
texto, de entrar em embates criativos com a indústria cultural, me levou a me
interessar e praticar diversas linguagens. Estar preparado para enfrentar as
encomendas sem sofrer, mas produzindo o melhor possível.
Em alguns de seus projetos, seja na literatura ou no teatro,
há uma clara tentativa de subverter a linguagem, mas, ao mesmo tempo, sempre
com o objetivo de “contar” uma história. Como você dosa a vontade de
transgredir, inerente a maior parte dos escritores, com o princípio básico da
literatura, que é a narrativa?
A melhor solução de prosa, portanto estamos no campo da
narrativa, para mim, é aquela que contempla a linguagem, que apresenta o que há
para ser expresso sob uma forma que determina seu conteúdo, que o torna muito
específico, e único, e ao mesmo tempo, dotada de beleza e força poética, de
verdade ficcional, em todos os seus detalhes. Parece teórico. E não é muito
simples mesmo. Arte é originalidade. Foda de alcançar.
Você se envolveu com roteiro de cinema e TV, algo que
consome tempo e ideias. E também não é um escritor apenas de livros, trafega em
outras linguagens. Isso, de alguma forma, atrapalhou sua carreira como
ficcionista (contista e romancista)?
Sim, atrapalhou. Hoje, com 53 anos a agilidade mental não é
a mesma, reconheço que estraguei algumas boas ideias de romance, novela ou
conto para escrever uma sinopse de afogadilho, cenas banais de seriados e de
longas-metragens. Às vezes as necessidades da sobrevivência te obrigam a dispor
de forma leviana de algo muito querido e acalentado. Mas a vida é isso também.
Estou disponível pro jogo. Sem mágoas.
Até a década de 1980, o escritor, em geral, se tornava
jornalista, professor ou funcionário público para ganhar a vida. Hoje há muitas
outras possibilidades, como a produção audiovisual, a internet, etc. Para você,
a televisão (e o cinema, em menor medida) é apenas uma forma de ganhar a vida
ou é uma atividade que também te completa como criador?
É uma atividade para ganhar a vida que amoleceu e tornou
muito mais versátil o meu texto literário.
Vários de seus livros falam sobre a periferia. Mas uma
periferia menos miserável, pelo menos economicamente, se comparada aos morros
cariocas. É a classe média baixa, o trabalhador com emprego, mas que ganha pouco.
Praticamente o mesmo tema dos livros do escritor Luiz Ruffato. Vê semelhanças
entre a sua produção e a dele?
Nossas literaturas, com todas as nossas diferenças formais,
políticas, pessoais e estilísticas, abordam este mesmo lugar e tempo, que foi a
transformação do Brasil do século XX, aquele país em que se “amarrava cachorro
com linguiça”, neste em que vivemos agora, de alta tecnologia e alta miséria em
permanente coexistência. O Ruffato leu isto com uma voz e uma poética incomuns.
Eles eram muitos cavalos é grande, é porrada, já tem o seu lugar na História.
Você e Marçal Aquino foram parceiros em diversos projetos,
por exemplo, na série Força tarefa, da TV Globo. Ele é o escritor com quem tem
mais afinidade? Como surgiu essa parceria?
Marçal Aquino e eu formamos uma dupla de criação em que o
respeito mútuo e a prevalência do que é melhor, guia o trabalho. Trabalhamos
ombro a ombro na casa dele (tenho duas filhas pequenas e um tanto barulhentas,
na minha casa, no momento), decidindo a cada passo o que é melhor e mais
original para o que escrevemos, nas condições e para o público que almejamos.
Marçal tem um repertório e memória incríveis. Dá muito conforto trabalhar com
um artista assim. Eu faço o que eu gosto; me divirto fabulando, inventando, e
depois encontrando palavras para descrevê-lo. Não é ruim.
E falando de geração, que avaliação você faz da sua própria
geração e, em geral, do cenário literário brasileiro? Além dos meios de
publicação, o que mudou dos anos 1980 pra cá em termos literários?
Minha geração... Cacete, o que é isso? Quem somos? Bem, há
certa diversidade, pelo menos. E uma impressão de leitor/escritor que fomos um
tanto inúteis, nos rendemos aos prazeres fáceis da indústria cultural, da
conivência com uma política de criminosos, não retratamos o que fizemos de nós
todos e o que todos nós fizemos do país, dos sonhos, dos pesadelos e dos
abortos... Eu gostaria de dizer “fomos considerados indigestos pelos
autoritários e ousados diante dos poderosos”, mas não acho que seja o nosso
caso. Hoje em dia, de todo modo, é bem mais fácil publicar. O livro ficou
barato. E há os incentivos fiscais, os prêmios... Os blogs, que permitem
exercício permanente. A tecnologia foi madrinha disso, felizmente. Os caras
acima de 50, como eu, sabem que era mais complicado antes.
Para finalizar, você tem algum hábito diário, além de ler e
escrever. Por exemplo, caminha? Vai em algum lugar olhar o movimento? Fica
parado pensando? Um hábito que se repete e que você não abre mão? Caso sim, o
que é?
Ando uma hora por dia, leio bons livros, vejo bons filmes e
procuro me manter estimulado, artisticamente, conhecendo ou revisitando a obra
de gente que me toca, me desafia, me incomoda, me tira de minha mesquinhez e do
ramerrão cotidianos. Não é hábito, mas uma certa disciplina criativa: escrever
um punhado de literatura, nem que seja um tiquinho, todos os dias.
(Cândido, Jornal da Biblioteca Pública do Paraná, dezembro
de 2015)
http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1009
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