Deus (ou minha consciência) que me livre de um dia me julgar
acima da crítica dos amigos. De achar que sou perfeito e que sempre estarei
certo. Se isso acontecer terei sido vencido pelo maior de todos os meus
inimigos - meu ego. Estarei cercado por oportunistas. Viverei uma vida inautêntica,
de bajulações, chantagens, de vitórias sem mérito.
A literatura hoje não passa de um hobbie meio arcaico:
inútil, irrelevante, inofensivo. Como aeromodelismo, filatelia, bonsai... O que
buscamos queimando as pestanas em tantos e tantos livros? Uma epifania, o santo
graal, o paraíso perdido? Não sei. Eu pensei que era tudo (a revelação da
máquina do mundo), hoje desconfio que é nada. Mas é um nada com cara de tudo.
Há na saudade dessa aura algo da aura perdida, um vislumbre dos reflexos da
idade do ouro... Não importa se é ou não irrelevante. De repente a única coisa
importante na vida é a irrelevância. Pronto, confesso: sou irrelevante. E me
regozijo nisso.
Will Coutinho Hamon
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