sábado, 3 de outubro de 2015


Desgasta-me perceber que numa época em que dizer que a crítica literária não existe é algo como afirmar que todos os políticos são desonestos – uma sentença definitiva e abrangente –, uma resenha dupla de Amador Ribeiro Neto sobre os semifinalistas do Prêmio Oceanos acabe gerando tanta repercussão. Duas coisas me incomodam sobremaneira. 1) uma certa estratégia contemporânea: para ser ouvido atualmente é preciso andar mais na direção da agressão do que da compreensão, mais beligerância do que entendimento. 2) num território reconhecido de ausência de políticas educacionais – os dados estão aí, mostrando como o brasileiro sequer lê, na média, dois livros por ano –, penso que um crítico literário poderia cumprir um papel fundamental nesse cenário de excessos e desventuras: auxiliar leitores a procurar (ou não) certos autores, certos livros.

A crítica destrutiva por ela mesma pouco me interessa. Infelizmente gera audiência e desconfio que impele outros entusiastas a praticar o mesmo caminho retórico.

Daniel Zanella

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