Desgasta-me perceber que numa época em que dizer que a
crítica literária não existe é algo como afirmar que todos os políticos são
desonestos – uma sentença definitiva e abrangente –, uma resenha dupla de
Amador Ribeiro Neto sobre os semifinalistas do Prêmio Oceanos acabe gerando
tanta repercussão. Duas coisas me incomodam sobremaneira. 1) uma certa
estratégia contemporânea: para ser ouvido atualmente é preciso andar mais na
direção da agressão do que da compreensão, mais beligerância do que
entendimento. 2) num território reconhecido de ausência de políticas
educacionais – os dados estão aí, mostrando como o brasileiro sequer lê, na
média, dois livros por ano –, penso que um crítico literário poderia cumprir um
papel fundamental nesse cenário de excessos e desventuras: auxiliar leitores a
procurar (ou não) certos autores, certos livros.
A crítica destrutiva por ela mesma pouco me interessa.
Infelizmente gera audiência e desconfio que impele outros entusiastas a
praticar o mesmo caminho retórico.
Daniel Zanella
Nenhum comentário:
Postar um comentário