Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo
que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o
poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma
transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a
política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de
governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o
que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista
do poder, mais econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também
por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras. É mais simples
manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever
impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência. As formas da
política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação
democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao
fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política
tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos
seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar
integralmente, de cabo a cabo, aquilo que até agora havíamos definido com a
expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.
[Giorgio Agamben]
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