por Paulo Nogueira Batista Jr. -
[ECONOMIA & POLÍTICA]
Do Projeto Nacional
(*)Paulo Nogueira Batista Jr.
Em fevereiro de 2010, publiquei
nesta coluna um artigo que me deu imensa dor de cabeça.
O título era: “Europa em declínio.” Entre outras coisas,
escrevi que os sinais do declínio relativo da Europa estavam em toda parte. A
recessão havia sido mais profunda na Europa do que nos EUA. A recuperação
europeia também estava sendo mais lenta.
Na periferia europeia, escrevi, o quadro era especialmente
ruim. Muitos países estavam em crise ou próximos disso. Suprema humilhação:
especulava-se que, pela primeira vez, um país integrante da área do euro teria
que recorrer ao FMI – a Grécia. As autoridades europeias, temendo a perda de
prestígio, procuravam evitar esse desfecho. Mas a crise grega já contaminava
outros países do Sul da Europa, também da área do euro, notadamente Portugal e
Espanha.
Os europeus ficaram furiosos comigo. Naquele tempo, eles
ainda tinham tempo de seguir os meus artigos. Fizeram grande pressão e muitas
queixas contra mim, inclusive formais, no FMI e no G-20. Foi medonho.
O artigo terminava com uma citação de De Gaulle que, no fim
da vida, em 2009, observou profeticamente: “Eu tentei fortalecer a França em
face do fim de um mundo. Fracassei? Outros dirão, mais tarde. Sem dúvida, o fim
da Europa está diante de nós.”
Fim da Europa? Leitor, para entender plenamente a crise
atual é preciso ter alguma noção da história da unificação europeia. O assunto
é vasto. Menciono apenas o seguinte: originalmente, a unificação europeia foi
um projeto das elites do continente, em especial das elites francesas e alemãs,
que visava, entre outros objetivos, a conter e reverter o declínio da posição
relativa da Europa no mundo. Uma Europa unida seria capaz de fazer face às
grandes potências do pós-guerra: os EUA e a União Soviética.
Do ponto de vista do Brasil, uma Europa unida e próspera
poderia, em tese, ser um elemento positivo num mundo crescentemente multipolar.
Isso se tornou até mais necessário depois do colapso do bloco soviético.
Em tese, friso. Na prática, a Europa é uma ilusão. Tem sido,
não raro, a principal força pró-status quo na área internacional, inclusive em
instituições financeiras como o FMI. Os europeus estão super-representados nas
organizações e nos foros internacionais. E se agarram tenazmente a suas
posições e privilégios. O pior de tudo é que a área do euro constitui
atualmente o principal risco de desestabilização da economia mundial.
Não se pode generalizar. Evidentemente, há muitos europeus
qualificados e esclarecidos, que oferecem contribuições importantes no FMI, no
G-20 e em outros foros. Infelizmente, isso parece ser mais exceção do que
regra.
A crise na zona do euro, volto a dizer, é uma ameaça muito
considerável, inclusive para o Brasil. A essa altura, não se pode descartar um
colapso geral da união monetária europeia.
Os problemas da zona do euro são legião. As vulnerabilidades
fundamentais estão na própria construção original – toda ela influenciada pela
forma alemã de pensar e por uma versão rígida dos dogmas econômicos liberais:
regras fiscais simplistas, Banco Central Europeu independente e dedicado à
estabilização monetária, unificação monetária sem unificação fiscal e política,
livre movimentação de capitais, insuficiente regulação e supervisão dos
mercados financeiros etc.
Essas fragilidades não apareciam nos tempos de bonança. Com
a crise iniciada nos EUA em 2007, tudo isso veio à tona com força brutal. O
sonho europeu virou pesadelo.
Várias cúpulas europeias, várias reuniões do G-20, inclusive
a cúpula em Cannes na semana passada – nada disso foi capaz de dar resposta
convincente à crise. A zona do euro está à deriva e, dado o seu peso econômico
e financeiro, pode produzir ondas de choque no resto do mundo.
O Brasil precisa estar preparado para uma turbulência
semelhante, talvez mais intensa do que a que ocorreu em fins de 2008 depois do
colapso do Lehman Brothers.
(*)Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor
executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional
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Postado por Evaristo Almeida no ECONOMIA & POLÍTICA
em 11/14/2011 04:50:00 PM
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