Poesia
Tarás Chevtchenko, o Poeta da Ucrânia
Redação e coautoria de Mariano Czaikowski. Edição
independente, 162 págs., R$ 40. Vendas pelo telefone (41) 3335-1220.
“É-me Indiferente”
Já não me importa... É-me indiferente
Que eu morra na Ucrânia, ou algures,
Que alguém me lembre, ou olvide
Sozinho entre as neves do exílio,
Aí, não me importa, não me importa!
Cresci no exílio, como escravo,
Pois, exilado morrerei
E tudo levarei comigo.
Não deixo nem um rasto leve
Em nossa Ucrânia tão gloriosa,
Em nossa pátria escravizada.
Não lembrará o pai ao filho,
Não lhe dirá: “Aí, reze, filho,
Pois, pelo amor que teve à Ucrânia,
Outrora, foi sacrificado...”
E não me importa que esse filho
Reze, ou não reze por min´alma.
O que me dói é que homens maus
A Ucrânia embalam, com mentiras
E um dia acorde, o incêndio e o roubo.
Aí, isso, sim é que me importa!
Tradução: Wira Selanski e Helena Kolody.
Foi mais do que oportuna a publicação de Tarás Chevtchenko,
o Poeta da Ucrânia neste ano de seu bicentenário de nascimento – que coincidiu
com o tenso momento por que passa seu país, dividido entre as influências
europeia e russa.
O poeta, morto em 1861, é considerado o autor e pintor
inaugural de um nacionalismo realista ucraniano, escrevendo em sua língua
materna numa época de opressão pelos czares russos. Conforme o relato
apresentado pelo livro, seus escritos ajudaram a resgatar o sentimento nacional
entre camponeses reduzidos a servos de glebas doadas a amigos do império. Em
Curitiba, o símbolo de sua relevância entre imigrantes é a grande estátua
dedicada ao artista, situada na Praça da Ucrânia.
“Tudo o que ele sofreu e pregou hoje está sendo um manual de
atuação do verdadeiro patriota ucraniano”, emociona-se Mariano Chevtchenko,
organizador da obra que integra a terceira geração de ucranianos no Paraná.
“Temos que lutar e não aceitar a dominação. Estão querendo oprimir um país,
então, precisa de tudo aquilo de novo.”
“Leiam Chevtchenko, pois lá está criada para vocês a
completa revelação, história e alma do povo ucraniano. E enquanto nosso povo
estiver lutando pela sua libertação, até então esse filho de servos estará
diante dos nossos olhos”, escreveu Vassyl Stefanyk, escritor ucraniano morto em
1936.
A dedicação de Chevtchenko à luta pela liberdade do país
lhe custou caro. Preso em posse de manuscritos em que insultava a família do
czar e pregava a revolução armada, foi enviado ao exílio na cidade de Orenburg,
na Rússia, por dez anos. Pior do que as tarefas humilhantes a que era
submetido, a proibição de escrever e pintar, sua expressão artística inicial,
foi o mais duro de enfrentar.
Poemas
A relação entre a vida e a obra de Chevtchenko é o cerne da
obra recentemente publicada, que reúne textos editados anteriormente, agora
numa só edição, pela primeira vez bilíngue, feita por iniciativa da
Representação Central Ucraniano-Brasileira. Dividido em três partes, o livro
traz uma biografia (escrita por Mariano Czaikowski), um ensaio sobre a relação
do poeta ucraniano com a obra do brasileiro Castro Alves e poemas traduzidos
por Wira Selanski em parceria com a poeta Helena Kolody (1912-2004), que
versificou a obra. Helena contava, em suas memórias de família, que um dos
livros de cabeceira da mãe era de poesias de Chevtchenko.
Os onze poemas apresentados no livro foram escritos entre
1837 e 1861 e reúnem trabalhos nacionalistas românticos, criados em São
Petersburgo; realistas; marcados pelo exílio de dez anos e, no final da vida do
poeta, escritos de uma fase lírica.
Ainda que em algumas poesias ele exalte as belezas naturais
de seu país e a infância simples, a maior parte é dedicada à revolta contra a
opressão. O poeta faz isso usando, com frequência, narrativas – pequenas
histórias que ele conta nos versos retrabalhados em português por Helena
Kolody.
Há espaço ainda para temas realistas classificados como
comédia: “E eu, boa gente?/ Dia e noite só festejo/ Triste ou contente./ As
censuras não me atingem/ Ergo o copo cheio,/ Pois eu bebo o próprio sangue/ Não
sangue alheio”.
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