Prezados amigos.
Hoje, 27, é o dia dedicado à Shoah, ou seja, a data reservada à memória dos cerca de 6 milhões de hebreus exterminados pelos nazistas e pelos seus aliados fascistas. Para se ter idéia dos aliados, em 1938, Mussolini impôs a lei que determinou a expulsão dos hebreus de todos os colégios da Itália.
Talvez por condenável egocentrismo, a primeira coisa que penso no 27 de janeiro é que não teria existido. Explico melhor. Se os meus avós e o meu pai não tivessem fugido da Polônia e do pogrom que alcançou o auge entre 1821 e 1921, eu não estaria neste mundo e, por evidente, no facebook.
No Brasil, o meu pai conheceu a Lydia Fanganiello e eu nasci. Não me importa que este que vos escreve não seja considerado um hebreu: só são hebreus, --tenham religião judaica ou não--, os filhos de mães hebréias. Isso não me importa nada porque o sofrimento desse povo, do qual tenho 50% de sangue, está na minha alma. E as tragédias sofridas são reapresentadas nos meus pesadelos noturnos: mil vezes a reprise da tragédia de Marzaboto. E já se renova um fato recente, a entrega, no sábado passado e no denominado Ghetto di Roma e aos cuidados do embaixador de Israel, de três pacotes postais. Dentro estavam três cabeças de porcos e papeis com insultos.
De tempo em tempo procuro os livros, assisto os filmes, os documentários, recordo os testemunhos, as conversas, os relatos. Enfim, a tristeza e o inconformismo viram a minha companhia.
Ontem, no programa “Che Tempo Che Fa”, o jornalista e âncora Fabio Fazio entrevistou um professor italiano de história da arte. Ele fez uma exposição desde quanto a brutalidade, a desumanidade, sensibilizou os pintores e relacionou os quadros expostos nos museus. Por exemplo, Guernica, pintura de Picasso depois do bombardeamento dessa cidade e durante a guerra civil espanhola. Ou, Goya e a célebre tela intitulada O Fuzilamento: http://www.homolaicus.com/arte/goya.htm.
O referido programa “Che Tempo Che Fa” (que tempo que faz), recordou a Shoah. Também o Holocausto (além de hebreus, as prisões e extermínios dos homossexuais, dos prisioneiros de guerra, dos grupos étnicos de ciganos-Rom- Sinti- Jenish- e os grupos religiosos de Pentecostais e Testemunhas de Jeová). E , ainda, os genocídios que continuam a ocorrer. Falou-se do binário 21 da Estação Central de Milão, hoje transformado em memorial ( ----os judeus italianos eram embarcados para os campos de extermínio de Auchwitz-Birkenau, Bergen e Belsem. E os presos políticos, antifascista, deportados para os campos italianos de concentração de Bolzano e Fossoli--).
O programa contou, ainda, com a maravilhosa entrevista da octogenária Vera Vigevene Jarach, cujo avô foi morto em Auschwitz e a filha, aos 18 anos, pela ditadura argentina e sob o governo do general-açougueiro Jorge Vidella.
No momento, vivo na companhia do livro intitulado “Vittime” (edizione BUR-Storia) do historiador Benny Morris, da Universidade Ben-Gurion. Esse historiador é referência na imprensa européia e em face da sua isenção. A obra versa sbre a “história do conflito árabe-sionista a cobris o arco de 1881 a 2001.
Pano rápido. No Dia da Memória, estou sempre conectado em memória à dona Mirna. Era minha vizinha judia de fronteira, ou melhor, rua Anhanguera, divisa entre os bairros operários do Bom Retiro e da Barra Funda. Essa senhora sobreviveu ao campo de Auschwitz e, no braço, tinha o número de prisioneira tatuado. No campo, perdeu os pais.
Do meu lado, os avós Salomão e Sirla, os seus filhos Sara, Jacob e Moysés (meu pai de 94 anos), deixaram, no gueto polonês, o restante da família. Meu pai conta: os avós recomendavam fugir e diziam que, pela idade, não possuía força e nem recursos: o meu bisavô era sapateiro-remendão (só fazia remendos). Em síntese eles ficaram, deram as economias para os mais jovens fugirem para o Brasil. Acabaram exterminados, como bem sabiam.
Walter Fanganiello Maierovitch
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