Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente onde o meu braço chega
-
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não onde penso.
Só me posso sentar onde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente
verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra
cousa,
E somos vadios do nosso corpo.
- Alberto Caeiro [Heterônimo de Fernando Pessoa], In Poemas
Inconjuntos - In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard
Zenith, 2001
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