''O revoltado, no sentido etimológico, é alguém que se
rebela. Caminhava sob o chicote do senhor, agora o enfrenta. Contrapõe o que é
preferível ao que não o é. Nem todo valor acarreta a revolta, mas todo
movimento de revolta invoca tacitamente um valor. (…) Segundo os bons autores,
o valor ‘representa, na maioria das vezes, uma passagem do fato ao direito, do
desejado ao desejável (em geral, por meio do geralmente desejado)’ (Lalande,
Vocabulário Filosófico). A revolta passa do ‘seria necessário que assim fosse’
ao ‘quero que assim seja’, mas talvez, mais ainda, a essa noção de superação do
indivíduo para um bem doravante comum. O surgimento do Tudo ou Nada mostra que
a revolta, contrariamente à voz corrente, e apesar de oriunda daquilo que o
homem tem de mais estritamente individual, questiona a própria noção de
indivíduo. Se com efeito o indivíduo aceita morrer, e morre quando surge a
ocasião, no movimento de sua revolta, ele mostra com isso que se sacrifica em
prol de um bem que julga transcender o seu próprio destino.”
Albert Camus
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