"Só vejo vantagens nessa 'confusão' [entre música
popular e poesia]. Ela foi desvantajosa, a certa altura, para a carreira
literária do Vinicius, que foi muito esnobado pela universidade, pela crítica.
Eu sou professor da UFRJ e até quatro, cinco anos atrás não existia uma única
tese sobre Vinicius. Isso não corresponde ao seu tamanho como poeta nem à sua
popularidade. Só que exatamente porque ele era um poeta popular demais, ainda
que isso nunca tivesse sido dito, está na cara de que a questão é: “Se é tão
popular, não pode ser bom”. Então, a idéia da poesia como uma coisa para
poucos, como luxo, não combinava com esse negócio de um poeta de que todo mundo
fala. Ao mesmo tempo, foi essa popularidade do Vinicius, essa junção
cantor-sambista, que fez com que ele se mantivesse como poeta na memória das
pessoas. Elas podem até não saber os sonetos inteiros, mas sabem meia dúzia de
poemas ou de versos soltos. E mesmo que não conheçam os livros, conhecem o
nome, há um carinho por Vinicius, os livros são lidos, as escolas adotam, estão
nas coletâneas. Então, ele se manteve como autor mesmo com todo o desprezo que
a universidade lhe deu. (...) para ele foi desvantajoso. Mas para nós é só
vantagem. É só vantagem que uma dona de casa semi-alfabetizada possa cantar
Dolores Duran e Vinicius."
Eucanaã Ferraz, coordenador da coleção de Vinicius de Moraes
na Companhia das Letras, sobre a recepção crítica de sua poesia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário