"As mais severas
críticas à vida moderna têm a imperiosa necessidade de recorrer ao modernismo,
para nos mostrar em que ponto estamos e a partir de que ponto podemos começar a
mudar nossas circunstâncias e a nós mesmos. Em busca de um ponto de partida,
retornei a um dos primeiros e grandes modernistas, Karl Marx. Voltei a ele não
tanto por suas respostas, mas por suas perguntas. O que de mais valioso ele nos
tem a oferecer, hoje, não é um caminho que permita sair das contradições da
vida moderna, e sim um caminho mais seguro e mais profundo que nos coloque
exatamente no cerne dessas contradições. Ele sabia que o caminho para além das
contradições teria de ser procurado através da modernidade, não fora dela. Ele
sabia que precisamos começar do ponto onde estamos: psiquicamente nus, despidos
de qualquer halo religioso, estético ou moral, e de véus sentimentais,
devolvidos à nossa vontade e energia individuais, forçados a explorar aos
demais e a nós mesmos para sobreviver; e mesmo assim, a despeito de tudo, reunidos
pelas mesmas forças que nos separam, vagamente cônscios de tudo o que poderemos
realizar juntos, prontos a nos distendermos na direção de novas possibilidades
humanas, a desenvolver identidades e fronteiras comuns que podem ajudar-nos a
manter-nos juntos, enquanto o selvagem ar moderno explode em calor e frio
através de todos nós.”
– Marshall Berman (1982)
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