domingo, 17 de fevereiro de 2013

NON HABEMUS PAPAM







Já que dizem que a vida imita a arte outros dizem que arte imita a vida, é impossivel não relacionar a auto exoneração do Papa Bento 16 com o filme- “ Habemus Papam”- de Nani Moretti, que ganhou a Palma de Ouro em Canes em 2001. No Brasil, esse país que se gaba de ser o maior país católico do mundo, o filme passou quase desapercebido. Os críticos bem que assinalaram as virtudes da película, discutiram a comédia, a farsa, enfim, aquela crítica quase fraternal e como Moretti brincou com a sucessão papal.
Os exibidores deveriam relançar o filme. Ou quem não o viu deveria procurar o DVD. É uma instigante diversão. Tive a sorte de assisti-lo numa circunstância especial- na Itália, depois de revisitar a Capela Sixtina e o próprio Vaticano. Tudo ficou muito familiar, aliás, como ocorre com o olhar italiano, para quem o Vaticano é território deles. Afinal, há 20 séculos que a maioria dos papas é italiana e tudo o que ocorre entre aquelas cúpulas e colunas interessa a católicos ou não.
Não é exatamente que o filme seja profético, mas tem tudo a ver com o momento que vivemos, Quem faz o papel de papa é Michel Piccoli, que coincidente, tinha a mesma idade do renunciante Bento 16, ou seja, 85 anos, Reconstrói-se toda atmosfera do Vaticano, dos cardeais reunidos, a fumaça anunciatória, o povo esperando pela aparição do eleito. Contudo, o novo papa escolhido não se julga digno da eleição. Quer dizer, simetricamente contrário ao que acontece com Bento 16, ele renuncia antes de aceitar o cargo.
Uma das coisas ousadas do filme é tratar das razões porque o papa não quer assumir. Chegam a chamar um psicanalista, o mais famoso do país. E o papa é submetido a várias sessões de análise. Não deixa de ser irônico: aquele que ouve confissões de todos, acaba necessitando de um confessor fora de sua grei, da cidade dos homens. Quem muito ouvia deve ter muito que falar. Mas que perguntas fazer ao Papa? Pode-se perguntar a ele as perguntas feitas aos simples mortais?
E o filme deriva para outras coisas insólitas. Levam o papa em crise para for a do Vaticano, em busca até de uma mulher como terapeuta. Ele vai a lugares em que geralmente não se espera um papa: lanchonetes, hotel modesdo e até um teatro onde interpretam “A gaivota”de Anton Tchecov .( Peça que tem algo a ver com a situação do papa).
O anúncio da eleição do papa, portanto, demora vários dias. O homem não quer o poder e o povo não pode saber disto. Enquanto isto, do lado de for a, os fiéis esperam fervorosamente. Mas do lado de dentro o colégio de cardeais entrega-se a jogar volei, matar tempo e discutir os desígníos da igreja.
O filme tem também algo de especulativo, muito semelhante ao que ocorre nesses dias em que as pessoas imaginam quem sucederá Bento XVI. Será um africano? Muitos acham que a hora é de um preto no Vaticano. Depois de Obama nos Estados Unidos, isto seria uma sequência natural. E além do mais, traria a África para o foco das atenções. Ou será a vez de um índio da América Latina, já que este continente se desenvolve enquanto a Europa está em crise?
Ora, a especulação dentro e fora do fiilme é pertinente. Se já tivemos um papa que veio do mundo comunista ( Karol Wojtyla) , se tivemos um papa que conheceu a história nazista (Joseph Ratznger), por que não especular sobre outras variantes?
Há quem vislumbre que no futuro poderá haver uma papisa, conforme a lenda do século XIII sobre Joana a Papisa. Dizem alguns especuladores e historiadores que no Vaticano haveria a “cadeira gestatória”na qual se verificaria se o papa tem orgãos sexuais masculinos ou femininos .Aliás, as feministas e muita gente não entende porque as mulheres continuam em segundo plano na hierarquia católica.
Enfim, aguardemos. Ou assistindo o filme ou esperando que a quaresma acabe e a eleição do novo papa nos traga surpresas, Ou não.

(Estado de Minas.Correio Braziliense-17.02.2013)

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