quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Apresentação de Sacher-Masoch.


Em Os cento e vinte dias, o libertino se declara excitado não pelos “objetos que aqui estão”, mas pelo Objeto que não está ali, quer dizer a “idéia do mal”. Ora, essa idéia de algo que não está, essa idéia do Não ou da negação, que não é dada nem possível de ser dada na experiência, só pode ser objeto de demonstração (no sentido em que o matemático fala de verdades que guardam todo seu sentido mesmo se dormirmos, e mesmo não existindo na natureza). É o porquê também dos heróis sádicos desesperarem e se enfurecerem vendo seus crimes tão magros comparados àquela idéia que eles só conseguem atingir através da onipotência do raciocínio. Sonham com um crime universal e impessoal ou, como diz Clairwil, com um crime “cujo efeito perpétuo aja, mesmo quando eu não mais agirei, de forma que não se passe mais um só instante da minha vida em que, mesmo dormindo, eu não seja a causa de uma desordem qualquer”. 

 G. Deleuze

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