domingo, 28 de agosto de 2011

Microclima


Um domingo de manhã com sol, tão fácil



apaixonar-se, acordar mais tarde,



talvez em Abril



ou nas súbitas variações primaveris



do final de Fevereiro,



é fácil apaixonar-se



– apaixonei-me por ti muitas vezes no cais –



do azul, das conversas



dos amigos, sorrisos.



São estes céus insuperáveis, sempre demasiado breves



as horas para as pupilas,



a condicionar as nossas mentes,



as psicologias,



e já não sei viver



na esterilidade sem sentido de culpa.



O que poderia ser – as folhas



nesta avenida comprida, os papéis



nos grandes contentores da freguesia, de madeira – entre nós.



As dissonâncias.



A nossa fronteira são os Alpes



quase azuis, a neve de ontem à noite



faz-nos falar, sentia-se que estava para cair.



Se caísse sobre a cidade sobre a praia



como em oitenta e cinco, as escolas



fechadas, a irrealidade de tudo – outros desesperos.



Os chuviscos tardios nas avenidas que se alagam



facilmente nos lados



e à noite muitas vezes se encontra uma névoa amanteigada



como se estivéssemos no parmigiano. Seguem-se



mal-estares, olheiras, por factos



tão repentinos



e depois as danosas marulhadas, mas também estas



com a sua misteriosa violência, também estas



são qualquer coisa que deve existir

GABRIEL DEL SARTO


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