O luto mais soberbo
Os altares de bronze
A chama ardente do espírito
Alimenta-se hoje da opressora agonia,
Os netos por nascerem.
Georg Trakl - Grodek
sábado, 28 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Ceifando ao pé da mata
Ceifando ao pé da mata a sua cevada,
O camponês cortou um trigo antigo;
Quem pereceu nesse lugar e quando,
Como perdeu a vida, e por que foi,
Não lhe interessa. No lugar da luta
A cevada é tão densa e carregada !
Sacrificou-se alguém? Pois, não importa.
O campônio contempla o seu tesouro,
A argêntea foice que o crânio riscou,
E , dando com o pé naqueles ossos,
Resmunga: "Satanás vos espalhou ! "
Evhén Plujnyk.
Antologia da literatura ucraniana.
O camponês cortou um trigo antigo;
Quem pereceu nesse lugar e quando,
Como perdeu a vida, e por que foi,
Não lhe interessa. No lugar da luta
A cevada é tão densa e carregada !
Sacrificou-se alguém? Pois, não importa.
O campônio contempla o seu tesouro,
A argêntea foice que o crânio riscou,
E , dando com o pé naqueles ossos,
Resmunga: "Satanás vos espalhou ! "
Evhén Plujnyk.
Antologia da literatura ucraniana.
"Idade não é documento e no mundo do crime de pouca valia é a força física individual, ao contrário do que muitos pensam. Conheci um encarregado franzino, de 25 anos, que comandava um pavilhão com 1600 homens. E o maior brutamontes da cadeia foi assassinado enquanto dormia, por um branquinho obstinado de 44 quilos. "
Drauzio Varela.in Estação Carandiru
Drauzio Varela.in Estação Carandiru
sábado, 21 de maio de 2011
Kafka e o horror neutro
“É um aparelho singular.” Desse modo, um oficial descreve ao visitante a máquina de execuções em Na Colônia Penal, de Franz Kafka. Essa frase inicial está na primeira cena da versão da graphic novel de Sylvain Ricard (roteiro), Maël (desenho) e Albertine Ralenti (cores), álbum agora lançado em português na tradução de Carol Bensimon pelo selo Quadrinhos na Cia.
Trata-se de um trabalho gráfico bastante sofisticado. Preserva o sumo da história de Kafka e a ilustra com desenhos muito expressivos, que ressaltam o absurdo da trama. O comandante, com seus olhos delirantes, é o personagem principal, que tenta explicar ao visitante o funcionamento da máquina e a beleza da administração da justiça que dela advém.
A primeira frase é um emblema. A máquina de tortura é apenas “singular”. Uma proeza técnica, na qual o engenho humano para infligir sofrimento ao seu semelhante é elevado à categoria de arte. Em sua descrição, o aparelho não é terrível, nem desumano, ou qualquer outro termo que expresse juízo de valor. É apenas singular, fruto da genialidade de outro comandante, antecessor deste que narra e se apresenta como guardião de uma tradição. Ao lado jaz, acorrentado, o pobre-diabo que provará da ação da máquina para deleite do comandante e ilustração do visitante. É um soldado raso que dormiu durante seu turno de guarda e reagiu com violência ao relho do seu superior.
A descrição da máquina “singular” é minuciosa. Trata-se de um aparelho munido de agulhas que imprimem a sentença no corpo do prisioneiro, perfurando-o cada vez mais fundo. O processo inteiro dura 12 horas e, nos “bons tempos”, segundo o oficial, era presenciado por toda a população da cidade. Mesmo pelas crianças, que tinham acesso privilegiado às proximidades do cadafalso. Afinal, era um espetáculo e uma lição. A finalidade: fazer com que o condenado, através da dor, compreendesse, em seu corpo, a verdade da sentença e a sabedoria da justiça.
No traço de Maël, a máquina é apresentada em seus detalhes, sem que a vejamos em seu todo, o que a torna ainda mais terrível. Ressaltam as agulhas compridas, as engrenagens, a mordaça que é colocada na boca para que os gritos da vítima não perturbem o público. Soturno, Maël faz jus a uma das características marcantes de Kafka, a de transformar objetos em personagens e personagens em objetos. Relação de intercâmbio entre homens e coisas que faz a genialidade de sua obra, talvez a mais poderosa sobre a desumanização da espécie.
Em seu texto, Kafka usa sua melhor arma ao tratar com fria objetividade uma situação absurda – não por acaso, Ernesto Sábato o chamava de escritor absolutamente realista. O que há de terrível em sua escrita é o contraste entre aquilo que descreve e a maneira como é descrito. Kafka naturaliza o horror e, assim o fazendo, o coloca diante de nós como um terrível espelho.
Sua paródia sinistra da justiça, apresentada em Na Colônia Penal, é esmiuçada passo a passo. Aquele que vai morrer sabe qual a sentença? Não. Sabe que foi condenado? Não. Sabe como foi conduzida a sua defesa? Não, ele não teve oportunidade de se defender. O oficial prossegue: se tivesse sido interrogado, contaria um monte de mentiras, advogados dariam sua interpretação e perderíamos tempo precioso nesse emaranhado de versões. Tudo pode ser mais simples: “O princípio segundo o qual eu sentencio é de que a culpabilidade nunca deixa dúvidas”. O réu é culpado de antemão, como em O Processo.
Em seu ensaio clássico, Kafka – Pró & Contra (Cosac Naify, 2007), Günther Anders fala da “calma sobriedade de Kafka”, referindo-se, justamente, a Na Colônia Penal. O livro de Anders é de 1946, lançado na ressaca da 2.ª Guerra Mundial, quando então o autor pôde aproximar esse absurdo da violência do texto kafkiano e a mistura de civilização e barbárie do 3.º Reich. Nos campos de extermínio, os nazistas construíam para si aposentos sofisticados, com toca-discos, estofados e abajures, separados por meia parede das câmaras de gás. Talvez a imaginação de Kafka não chegasse a esse ponto.
No entanto, ele escreve Na Colônia Penal em 1919, após a débâcle da civilização europeia na 1.ª Guerra. Essa noção do absurdo, que bebe na natureza humana mas também em sua contingência histórica, continua a garantir atualidade aos textos de Kafka. Afinal, como escreve no prefácio o roteirista da HQ, Sylvain Ricard, “Um olhar para a atualidade, para nossas telas de televisão, pode indicar que o homem colocou com frequência a sua inventividade a serviço da destruição do outro e que a fascinação diante da dor é cada vez mais banalizada. …Não há sombra de dúvida de que uma execução pública na Place de la Concorde teria mais sucesso e mais telespectadores que qualquer outra festividade. O que explica como a obra fascinante que é Na Colônia Penal se torna o espelho da sociedade em que vivemos e daquilo que somos.” Quem há de negar?
Luiz Zanin Oricchio – O Estado de S.Paulo
NA COLÔNIA PENAL
Autor: Franz Kafka. Quadrinhos na Cia (56 págs., R$ 56)
Trata-se de um trabalho gráfico bastante sofisticado. Preserva o sumo da história de Kafka e a ilustra com desenhos muito expressivos, que ressaltam o absurdo da trama. O comandante, com seus olhos delirantes, é o personagem principal, que tenta explicar ao visitante o funcionamento da máquina e a beleza da administração da justiça que dela advém.
A primeira frase é um emblema. A máquina de tortura é apenas “singular”. Uma proeza técnica, na qual o engenho humano para infligir sofrimento ao seu semelhante é elevado à categoria de arte. Em sua descrição, o aparelho não é terrível, nem desumano, ou qualquer outro termo que expresse juízo de valor. É apenas singular, fruto da genialidade de outro comandante, antecessor deste que narra e se apresenta como guardião de uma tradição. Ao lado jaz, acorrentado, o pobre-diabo que provará da ação da máquina para deleite do comandante e ilustração do visitante. É um soldado raso que dormiu durante seu turno de guarda e reagiu com violência ao relho do seu superior.
A descrição da máquina “singular” é minuciosa. Trata-se de um aparelho munido de agulhas que imprimem a sentença no corpo do prisioneiro, perfurando-o cada vez mais fundo. O processo inteiro dura 12 horas e, nos “bons tempos”, segundo o oficial, era presenciado por toda a população da cidade. Mesmo pelas crianças, que tinham acesso privilegiado às proximidades do cadafalso. Afinal, era um espetáculo e uma lição. A finalidade: fazer com que o condenado, através da dor, compreendesse, em seu corpo, a verdade da sentença e a sabedoria da justiça.
No traço de Maël, a máquina é apresentada em seus detalhes, sem que a vejamos em seu todo, o que a torna ainda mais terrível. Ressaltam as agulhas compridas, as engrenagens, a mordaça que é colocada na boca para que os gritos da vítima não perturbem o público. Soturno, Maël faz jus a uma das características marcantes de Kafka, a de transformar objetos em personagens e personagens em objetos. Relação de intercâmbio entre homens e coisas que faz a genialidade de sua obra, talvez a mais poderosa sobre a desumanização da espécie.
Em seu texto, Kafka usa sua melhor arma ao tratar com fria objetividade uma situação absurda – não por acaso, Ernesto Sábato o chamava de escritor absolutamente realista. O que há de terrível em sua escrita é o contraste entre aquilo que descreve e a maneira como é descrito. Kafka naturaliza o horror e, assim o fazendo, o coloca diante de nós como um terrível espelho.
Sua paródia sinistra da justiça, apresentada em Na Colônia Penal, é esmiuçada passo a passo. Aquele que vai morrer sabe qual a sentença? Não. Sabe que foi condenado? Não. Sabe como foi conduzida a sua defesa? Não, ele não teve oportunidade de se defender. O oficial prossegue: se tivesse sido interrogado, contaria um monte de mentiras, advogados dariam sua interpretação e perderíamos tempo precioso nesse emaranhado de versões. Tudo pode ser mais simples: “O princípio segundo o qual eu sentencio é de que a culpabilidade nunca deixa dúvidas”. O réu é culpado de antemão, como em O Processo.
Em seu ensaio clássico, Kafka – Pró & Contra (Cosac Naify, 2007), Günther Anders fala da “calma sobriedade de Kafka”, referindo-se, justamente, a Na Colônia Penal. O livro de Anders é de 1946, lançado na ressaca da 2.ª Guerra Mundial, quando então o autor pôde aproximar esse absurdo da violência do texto kafkiano e a mistura de civilização e barbárie do 3.º Reich. Nos campos de extermínio, os nazistas construíam para si aposentos sofisticados, com toca-discos, estofados e abajures, separados por meia parede das câmaras de gás. Talvez a imaginação de Kafka não chegasse a esse ponto.
No entanto, ele escreve Na Colônia Penal em 1919, após a débâcle da civilização europeia na 1.ª Guerra. Essa noção do absurdo, que bebe na natureza humana mas também em sua contingência histórica, continua a garantir atualidade aos textos de Kafka. Afinal, como escreve no prefácio o roteirista da HQ, Sylvain Ricard, “Um olhar para a atualidade, para nossas telas de televisão, pode indicar que o homem colocou com frequência a sua inventividade a serviço da destruição do outro e que a fascinação diante da dor é cada vez mais banalizada. …Não há sombra de dúvida de que uma execução pública na Place de la Concorde teria mais sucesso e mais telespectadores que qualquer outra festividade. O que explica como a obra fascinante que é Na Colônia Penal se torna o espelho da sociedade em que vivemos e daquilo que somos.” Quem há de negar?
Luiz Zanin Oricchio – O Estado de S.Paulo
NA COLÔNIA PENAL
Autor: Franz Kafka. Quadrinhos na Cia (56 págs., R$ 56)
Politicamente fascista
Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto”
O COMEDIANTE Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque “a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”.
Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.
Não aguentei mais do que alguns minutos do programa “CQC”, na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show “Politicamente Incorreto”, em outubro de 2010.
Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. “Deve ser por isso que tem tanto encosto lá.” Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.
A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque “o câncer era benigno”.
Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: “Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado”.
Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. “Politicamente incorreto”, no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.
A questão é que o rótulo vende. Ser “politicamente incorreto”, no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto” -e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.
Não nego que o “politicamente correto”, em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.
Mas o “politicamente incorreto”, em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.
Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. “Mulheres são burras!” “Ser contra a guerra é viadagem!” “Polícia tem de dar porrada!” “Bolsa Família serve para engordar vagabundo!” “Nordestino é atrasado!” “Criança só endireita no couro!”
Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: “Viram como sou inteligente?”.
“Como sou verdadeiro?” “Como sou corajoso?” “Como sou trágico?” “Como sou politicamente incorreto?”
O problema é que “politicamente incorreto”, na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, “politicamente incorreto”. Quem diz essas coisas é politicamente fascista.
Só que a palavra “fascista”, hoje em dia, virou um termo… politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.
O rótulo “politicamente incorreto” acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, “politicamente correta”) de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.
A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva “de esquerda” que Danilo Gentili resolveu criticar “os velhos de Higienópolis” que não querem metrô perto de casa.
Uma ou outra manifestação de preconceito contra “gente diferenciada”, destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que “elite” são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.
Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.
MARCELO COELHO
Folha de São Paulo
O COMEDIANTE Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque “a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”.
Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.
Não aguentei mais do que alguns minutos do programa “CQC”, na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show “Politicamente Incorreto”, em outubro de 2010.
Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. “Deve ser por isso que tem tanto encosto lá.” Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.
A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque “o câncer era benigno”.
Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: “Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado”.
Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. “Politicamente incorreto”, no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.
A questão é que o rótulo vende. Ser “politicamente incorreto”, no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto” -e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.
Não nego que o “politicamente correto”, em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.
Mas o “politicamente incorreto”, em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.
Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. “Mulheres são burras!” “Ser contra a guerra é viadagem!” “Polícia tem de dar porrada!” “Bolsa Família serve para engordar vagabundo!” “Nordestino é atrasado!” “Criança só endireita no couro!”
Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: “Viram como sou inteligente?”.
“Como sou verdadeiro?” “Como sou corajoso?” “Como sou trágico?” “Como sou politicamente incorreto?”
O problema é que “politicamente incorreto”, na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, “politicamente incorreto”. Quem diz essas coisas é politicamente fascista.
Só que a palavra “fascista”, hoje em dia, virou um termo… politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.
O rótulo “politicamente incorreto” acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, “politicamente correta”) de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.
A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva “de esquerda” que Danilo Gentili resolveu criticar “os velhos de Higienópolis” que não querem metrô perto de casa.
Uma ou outra manifestação de preconceito contra “gente diferenciada”, destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que “elite” são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.
Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.
MARCELO COELHO
Folha de São Paulo
Não tem volta
Se você vai por muito tempo
você nunca volta.
Você retorna,
Você contorna
mas não tem volta
a estrada te sopra pro alto
pra outro lado
enquanto
aquele tempo
vai mudando.
Aí, de quando
em quando você lembra
aquele beijo,
aquele medo
mas você sabe
que tudo ficou antigo
e você não volta
nem com escolta
nem amarrado
porque o passado
já te perdeu
e o perigo
muda mesmo de endereço
Não existe pretexto.
O dia mudou
o carteiro não veio
o principio é o meio
e você retorna
mas não tem volta.
Zélia Duncan
você nunca volta.
Você retorna,
Você contorna
mas não tem volta
a estrada te sopra pro alto
pra outro lado
enquanto
aquele tempo
vai mudando.
Aí, de quando
em quando você lembra
aquele beijo,
aquele medo
mas você sabe
que tudo ficou antigo
e você não volta
nem com escolta
nem amarrado
porque o passado
já te perdeu
e o perigo
muda mesmo de endereço
Não existe pretexto.
O dia mudou
o carteiro não veio
o principio é o meio
e você retorna
mas não tem volta.
Zélia Duncan
Definições
Sou fria e quase muda,
Quando quero ser terna,
Quando quero ser tua.
Sou pedra lisa e dura,
Que jamais canta
E que não se mostra viva,
Jamais.
Sou raiz que adentra pela terra,
Sou poeira que desaparece no ar.
Sou, quem sabe, o brilho na festa da janela,
Quando brilha o luar.
Sou água que evapora,
Sou nuvem que deságua,
Sou o sal que salga a água,
Sou a lágrima salgada
Que rolou do teu olhar…
Roseli Silveira
Primeira antologia dos poetas internautas, Editora Blocos, 1997 – Rio de Janeiro, Brasil
Quando quero ser terna,
Quando quero ser tua.
Sou pedra lisa e dura,
Que jamais canta
E que não se mostra viva,
Jamais.
Sou raiz que adentra pela terra,
Sou poeira que desaparece no ar.
Sou, quem sabe, o brilho na festa da janela,
Quando brilha o luar.
Sou água que evapora,
Sou nuvem que deságua,
Sou o sal que salga a água,
Sou a lágrima salgada
Que rolou do teu olhar…
Roseli Silveira
Primeira antologia dos poetas internautas, Editora Blocos, 1997 – Rio de Janeiro, Brasil
Amor Silêncio
Amor silêncio amargo a roçar-me a morte
grito partido do vidro sobre o peito
ilha deserta no meio das capitais do norte
grilhetas ajustadas no rio em que me deito.
Distância cumulada remanso duma espera
ponte de aventura do dois à unidade
amor brilho raiando a chave do desejo
minuto adormecido ao pé da eternidade.
Amor tempo suspenso, ó lânguido receio,
no pranto do meu canto és a presença forte
estame estremecido dissimulado anseio
amor milagre gesto incandescente porte.
Amor olhos perdidos a riscar desenhos
em largo movimento o espaço circular
amor segundo breve, lanceta, tempo eterno
no rápido castigo da lua a gotejar.
Salette Tavares
grito partido do vidro sobre o peito
ilha deserta no meio das capitais do norte
grilhetas ajustadas no rio em que me deito.
Distância cumulada remanso duma espera
ponte de aventura do dois à unidade
amor brilho raiando a chave do desejo
minuto adormecido ao pé da eternidade.
Amor tempo suspenso, ó lânguido receio,
no pranto do meu canto és a presença forte
estame estremecido dissimulado anseio
amor milagre gesto incandescente porte.
Amor olhos perdidos a riscar desenhos
em largo movimento o espaço circular
amor segundo breve, lanceta, tempo eterno
no rápido castigo da lua a gotejar.
Salette Tavares
Bella Ciao
- Stamattina mi sono alzato Oh bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao Stamattina mi sono alzato e ho trovato l'invasor. partigiano portami via partigiano portami via che mi sento di morir Se io muoio da partigiano Se io muoio da partigiano tu mi devi seppellir seppellire sulla montagna sotto l'ombra di un bel fior E le genti che passeranno ti diranno che bel fior Questo è il fiore del partigiono morto per la libertà
Соловьи - Les Rossignols (mars 1945 - march 1945)
Chanson soviétique Соловьи - Les Rossignols (mars 1945 - march 1945)
Musique par/Music by Vassili Soloviev-Sedoï
Paroles par/Lyrics by Alexeï Fatianov
Rossignols, ô Rossignols,
Ne dérangez point les soldats,
Laissez-les s'assoupir un instant,
S'assoupir un instant.
Le printemps est revenu au front,
Et les soldats n'arrivent pas à dormir,
Non pas à cause des salves de canon,
Mais en raison des rossignols qui ont perdu la tête!
Ils ont oublié que la bataille fait rage,
Et chantent comme à chaque retour du printemps.
(Refrain)
Mais que signifie la guerre, pour un rossignol ?
Un rossignol a sa vie à lui.
Un des soldats ne dort pas; il pense à sa maison,
Aux vertes prairies qui s'étendent par-delà l'étang,
Où les rossignols chantent toute la nuit,
Et où quelqu'un l'attend.
(Refrain)
Cependant, le combat reprendra demain.
C'est le destin, c'est notre devoir d'y aller,
Sans avoir reçu assez damour
Loin de nos bien-aimées épouses,
Loin de nos champs de maïs.
Mais chaque pas en avant
Nous rapproche davantage de notre patrie.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
The spring has come to the frontlines.
And soldiers cannot get asleep.
Not due to cannon salvos' din,
But due to nightingales who lost their minds!
They have forgotten that battles go on
And sing as usual in every spring.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
But what a war means for that bird!
A nightingale has a life of his own.
A soldier doesnt sleep, of his house thinking
And his green garden beyond the pond,
Where nightingales whole nights are singing,
And someone waits that soldier to come back home.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Tomorrow comes another fight -
It is our fate that we had to go
Without having had enough of love,
Away from our cornfields and beloved wives;
But every step forward in that combat
Brings us closer back to our motherland.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
Пришла и к нам на фронт весна,
Солдатам стало не до сна —
Не потому, что пушки бьют,
А потому, что вновь поют,
Забыв, что здесь идут бои,
Поют шальные соловьи.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного поспят.
Но что война для соловья!
У соловья ведь жизнь своя.
Не спит солдат, припомнив дом
И сад зелёный над прудом,
Где соловьи всю ночь поют,
А в доме том солдата ждут.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
А завтра снова будет бой,—
Уж так назначено судьбой,
Чтоб нам уйти, не долюбив,
От наших жён, от наших нив;
Но с каждым шагом в том бою
Нам ближе дом в родном краю.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
Musique par/Music by Vassili Soloviev-Sedoï
Paroles par/Lyrics by Alexeï Fatianov
Rossignols, ô Rossignols,
Ne dérangez point les soldats,
Laissez-les s'assoupir un instant,
S'assoupir un instant.
Le printemps est revenu au front,
Et les soldats n'arrivent pas à dormir,
Non pas à cause des salves de canon,
Mais en raison des rossignols qui ont perdu la tête!
Ils ont oublié que la bataille fait rage,
Et chantent comme à chaque retour du printemps.
(Refrain)
Mais que signifie la guerre, pour un rossignol ?
Un rossignol a sa vie à lui.
Un des soldats ne dort pas; il pense à sa maison,
Aux vertes prairies qui s'étendent par-delà l'étang,
Où les rossignols chantent toute la nuit,
Et où quelqu'un l'attend.
(Refrain)
Cependant, le combat reprendra demain.
C'est le destin, c'est notre devoir d'y aller,
Sans avoir reçu assez damour
Loin de nos bien-aimées épouses,
Loin de nos champs de maïs.
Mais chaque pas en avant
Nous rapproche davantage de notre patrie.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
The spring has come to the frontlines.
And soldiers cannot get asleep.
Not due to cannon salvos' din,
But due to nightingales who lost their minds!
They have forgotten that battles go on
And sing as usual in every spring.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
But what a war means for that bird!
A nightingale has a life of his own.
A soldier doesnt sleep, of his house thinking
And his green garden beyond the pond,
Where nightingales whole nights are singing,
And someone waits that soldier to come back home.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Tomorrow comes another fight -
It is our fate that we had to go
Without having had enough of love,
Away from our cornfields and beloved wives;
But every step forward in that combat
Brings us closer back to our motherland.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
Пришла и к нам на фронт весна,
Солдатам стало не до сна —
Не потому, что пушки бьют,
А потому, что вновь поют,
Забыв, что здесь идут бои,
Поют шальные соловьи.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного поспят.
Но что война для соловья!
У соловья ведь жизнь своя.
Не спит солдат, припомнив дом
И сад зелёный над прудом,
Где соловьи всю ночь поют,
А в доме том солдата ждут.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
А завтра снова будет бой,—
Уж так назначено судьбой,
Чтоб нам уйти, не долюбив,
От наших жён, от наших нив;
Но с каждым шагом в том бою
Нам ближе дом в родном краю.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
sábado, 14 de maio de 2011
I Have a Dream
EU TENHO UM SONHO
“Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás, um grande americano, do qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas, cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com “fundos insuficientes”. Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo. Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só. E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, “Quando vocês estarão satisfeitos?”
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero. Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro: “Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal.”
Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)
“Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás, um grande americano, do qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas, cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com “fundos insuficientes”. Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo. Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só. E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, “Quando vocês estarão satisfeitos?”
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero. Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro: “Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal.”
Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)
A Despedida da Morte
Falo de mim porque bem sei que a vida
lava o meu rosto com o suor dos outros,
que também sou, pois sou tudo o que posto ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,
cicia apenas: — O teu tempo é a trava
que te impede de ter a calma clara
do chão de lajes que o sol recobre,
este esperar por tudo que não corre,
nem pára e nem se apressa, e é só estado,
e nem sequer murmura: — O que te trazem
é o riso e o lamento, o ser amado
e o roçar cada dia a tua morte,
que não repõe em ti o, sem passado,
ficar no teu escuro, pois herdaste
e legas um sussurro, um som de passos,
uma sombra, um olhar sobre a paisagem,
memória, cálcio, húmus, eis que mundo
nada rejeita, sendo pobre e triste
no esplendor que nos dá. A madrugada.
Alberto da Costa e Silva
lava o meu rosto com o suor dos outros,
que também sou, pois sou tudo o que posto ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,
cicia apenas: — O teu tempo é a trava
que te impede de ter a calma clara
do chão de lajes que o sol recobre,
este esperar por tudo que não corre,
nem pára e nem se apressa, e é só estado,
e nem sequer murmura: — O que te trazem
é o riso e o lamento, o ser amado
e o roçar cada dia a tua morte,
que não repõe em ti o, sem passado,
ficar no teu escuro, pois herdaste
e legas um sussurro, um som de passos,
uma sombra, um olhar sobre a paisagem,
memória, cálcio, húmus, eis que mundo
nada rejeita, sendo pobre e triste
no esplendor que nos dá. A madrugada.
Alberto da Costa e Silva
The Future of the Liberal World Order
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The Future of the Liberal World Order
Internationalism After America By G. John Ikenberry
May/June 2011
Article Summary and Author Biography
As the United States' relative power declines, will the open and rule-based liberal international order Washington has championed since the 1940s start to erode? Probably not. That order is alive and well. China and other emerging powers will not seek to undermine the system; instead, they will try to gain more leadership within it.
G. JOHN IKENBERRY is Albert G. Milbank Professor of Politics and International Affairs at Princeton University and the author of Liberal Leviathan: The Origins, Crisis, and Transformation of the American World Order (Princeton University Press, 2011), from which this essay is adapted.
There is no longer any question: wealth and power are moving from the North and the West to the East and the South, and the old order dominated by the United States and Europe is giving way to one increasingly shared with non-Western rising states. But if the great wheel of power is turning, what kind of global political order will emerge in the aftermath?
Some anxious observers argue that the world will not just look less American -- it will also look less liberal. Not only is the United States' preeminence passing away, they say, but so, too, is the open and rule-based international order that the country has championed since the 1940s. In this view, newly powerful states are beginning to advance their own ideas and agendas for global order, and a weakened United States will find it harder to defend the old system. The hallmarks of liberal internationalism -- openness and rule-based relations enshrined in institutions such as the United Nations and norms such as multilateralism -- could give way to a more contested and fragmented system of blocs, spheres of influence, mercantilist networks, and regional rivalries.
The fact that today's rising states are mostly large non-Western developing countries gives force to this narrative. The old liberal international order was designed and built in the West. Brazil, China, India, and other fast-emerging states have a different set of cultural, political, and economic experiences, and they see the world through their anti-imperial and anticolonial pasts. Still grappling with basic problems of development, they do not share the concerns of the advanced capitalist societies. The recent global economic slowdown has also bolstered this narrative of liberal international decline. Beginning in the United States, the crisis has tarnished the American model of liberal capitalism and raised new doubts about the ability of the United States to act as the global economic leader.
For all these reasons, many observers have concluded that world politics is experiencing not just a changing of the guard but also a transition in the ideas and principles that underlie the global order. The journalist Gideon Rachman, for example, says that a cluster of liberal internationalist ideas -- such as faith in democratization, confidence in free markets, and the acceptability of U.S. military power -- are all being called into question. According to this worldview, the future of international order will be shaped above all by China, which will use its growing power and wealth to push world politics in an illiberal direction. Pointing out that China and other non-Western states have weathered the recent financial crisis better than their Western counterparts, pessimists argue that an authoritarian capitalist alternative to Western neoliberal ideas has already emerged. According to the scholar Stefan Halper, emerging-market states "are learning to combine market economics with traditional autocratic or semiautocratic politics in a process that signals an intellectual rejection of the Western economic model."
But this panicked narrative misses a deeper reality: although the United States' position in the global system is changing, the liberal international order is alive and well. The struggle over international order today is not about fundamental principles. China and other emerging great powers do not want to contest the basic rules and principles of the liberal international order; they wish to gain more authority and leadership within it.Indeed, today's power transition represents not the defeat of the liberal order but its ultimate ascendance. Brazil, China, and India have all become more prosperous and capable by operating inside the existing international order -- benefiting from its rules, practices, and institutions, including the World Trade Organization (WTO) and the newly organized G-20. Their economic success and growing influence are tied to the liberal internationalist organization of world politics, and they have deep interests in preserving that system.
In the meantime, alternatives to an open and rule-based order have yet to crystallize. Even though the last decade has brought remarkable upheavals in the global system -- the emergence of new powers, bitter disputes among Western allies over the United States' unipolar ambitions, and a global financial crisis and recession -- the liberal international order has no competitors. On the contrary, the rise of non-Western powers and the growth of economic and security interdependence are creating new constituencies for it.
To be sure, as wealth and power become less concentrated in the United States' hands, the country will be less able to shape world politics. But the underlying foundations of the liberal international order will survive and thrive. Indeed, now may be the best time for the United States and its democratic partners to update the liberal order for a new era, ensuring that it continues to provide the benefits of security and prosperity that it has provided since the middle of the twentieth century.
THE LIBERAL ASCENDANCY
China and the other emerging powers do not face simply an American-led order or a Western system. They face a broader international order that is the product of centuries of struggle and innovation. It is highly developed, expansive, integrated, institutionalized, and deeply rooted in the societies and economies of both advanced capitalist states and developing states. And over the last half century, this order has been unusually capable of assimilating rising powers and reconciling political and cultural diversity.
Today's international order is the product of two order-building projects that began centuries ago. One is the creation and expansion of the modern state system, a project dating back to the Peace of Westphalia in 1648. In the years since then, the project has promulgated rules and principles associated with state sovereignty and norms of great-power conduct. The other project is the construction of the liberal order, which over the last two centuries was led by the United Kingdom and the United States and which in the twentieth century was aided by the rise of liberal democratic states. The two projects have worked together. The Westphalian project has focused on solving the "realist" problems of creating stable and cooperative interstate relations under conditions of anarchy, and the liberal-order-building project has been possible only when relations between the great powers have been stabilized. The "problems of Hobbes," that is, anarchy and power insecurities, have had to be solved in order to take advantage of the "opportunities of Locke," that is, the construction of open and rule-based relations.
At the heart of the Westphalian project is the notion of state sovereignty and great-power relations. The original principles of the Westphalian system -- sovereignty, territorial integrity, and nonintervention -- reflected an emerging consensus that states were the rightful political units for the establishment of legitimate rule. Founded in western Europe, the Westphalian system has expanded outward to encompass the entire globe. New norms and principles -- such as self-determination and mutual recognition among sovereign states -- have evolved within it, further reinforcing the primacy of states and state authority. Under the banners of sovereignty and self-determination, political movements for decolonization and independence were set in motion in the non-Western developing world, coming to fruition in the decades after World War II. Westphalian norms have been violated and ignored, but they have, nonetheless, been the most salient and agreed-on parts of the international order.
A succession of postwar settlements -- Vienna in 1815, Versailles in 1919, Yalta and Potsdam in 1945, and the U.S., Soviet, and European negotiations that ended the Cold War and reunified Germany in the early 1990s -- allowed the great powers to update the principles and practices of their relations. Through war and settlement, the great powers learned how to operate within a multipolar balance-of-power system. Over time, the order has remained a decentralized system in which major states compete and balance against one another. But it has also evolved. The great powers have developed principles and practices of restraint and accommodation that have served their interests. The Congress of Vienna in 1815, where post-Napoleonic France was returned to the great-power club and a congress system was established to manage conflicts, and the UN Security Council today, which has provided a site for great-power consultations, are emblematic of these efforts to create rules and mechanisms that reinforce restraint and accommodation.
The project of constructing a liberal order built on this evolving system of Westphalian relations. In the nineteenth century, liberal internationalism was manifest in the United Kingdom's championing of free trade and the freedom of the seas, but it was limited and coexisted with imperialism and colonialism. In the twentieth century, the United States advanced the liberal order in several phases. After World War I, President Woodrow Wilson and other liberals pushed for an international order organized around a global collective-security body, the League of Nations, in which states would act together to uphold a system of territorial peace. Open trade, national self-determination, and a belief in progressive global change also undergirded the Wilsonian worldview -- a "one world" vision of nation-states that would trade and interact in a multilateral system of laws. But in the interwar period of closed economic systems and imperial blocs, this experiment in liberal order collapsed.
After World War II, President Franklin Roosevelt's administration tried to construct a liberal order again, embracing a vision of an open trading system and a global organization in which the great powers would cooperate to keep the peace -- the United Nations. Drawing lessons from Wilson's failure and incorporating ideas from the New Deal, American architects of the postwar order also advanced more ambitious ideas about economic and political cooperation, which were embodied in the Bretton Woods institutions. This vision was originally global in spirit and scope, but it evolved into a more American-led and Western-centered system as a result of the weakness of postwar Europe and rising tensions with the Soviet Union. As the Cold War unfolded, the United States took command of the system, adopting new commitments and functional roles in both security and economics. Its own economic and political system became, in effect, the central component of the larger liberal hegemonic order.
Another development of liberal internationalism was quietly launched after World War II, although it took root more slowly and competed with aspects of the Westphalian system. This was the elaboration of the universal rights of man, enshrined in the UN and its Universal Declaration of Human Rights. A steady stream of conventions and treaties followed that together constitute an extraordinary vision of rights, individuals, sovereignty, and global order. In the decades since the end of the Cold War, notions of "the responsibility to protect" have given the international community legal rights and obligations to intervene in the affairs of sovereign states.
Seen in this light, the modern international order is not really American or Western -- even if, for historical reasons, it initially appeared that way. It is something much wider. In the decades after World War II, the United States stepped forward as the hegemonic leader, taking on the privileges and responsibilities of organizing and running the system. It presided over a far-flung international order organized around multilateral institutions, alliances, special relationships, and client states -- a hierarchical order with liberal characteristics.
But now, as this hegemonic organization of the liberal international order starts to change, the hierarchical aspects are fading while the liberal aspects persist. So even as China and other rising states try to contest U.S. leadership -- and there is indeed a struggle over the rights, privileges, and responsibilities of the leading states within the system -- the deeper international order remains intact. Rising powers are finding incentives and opportunities to engage and integrate into this order, doing so to advance their own interests. For these states, the road to modernity runs through -- not away from -- the existing international order.
JOINING THE CLUB
The liberal international order is not just a collection of liberal democratic states but an international mutual-aid society -- a sort of global political club that provides members with tools for economic and political advancement. Participants in the order gain trading opportunities, dispute-resolution mechanisms, frameworks for collective action, regulatory agreements, allied security guarantees, and resources in times of crisis. And just as there are a variety of reasons why rising states will embrace the liberal international order, there are powerful obstacles to opponents who would seek to overturn it.
To begin with, rising states have deep interests in an open and rule-based system. Openness gives them access to other societies -- for trade, investment, and knowledge sharing. Without the unrestricted investment from the United States and Europe of the past several decades, for instance, China and the other rising states would be on a much slower developmental path. As these countries grow, they will encounter protectionist and discriminatory reactions from slower-growing countries threatened with the loss of jobs and markets. As a result, the rising states will find the rules and institutions that uphold nondiscrimination and equal access to be critical. The World Trade Organization -- the most formal and developed institution of the liberal international order -- enshrines these rules and norms, and rising states have been eager to join the WTO and gain the rights and protections it affords. China is already deeply enmeshed in the global trading system, with a remarkable 40 percent of its GNP composed of exports -- 25 percent of which go to the United States.
China could be drawn further into the liberal order through its desire to have the yuan become an international currency rivaling the U.S. dollar. Aside from conferring prestige, this feat could also stabilize China's exchange rate and grant Chinese leaders autonomy in setting macroeconomic policy. But if China wants to make the yuan a global currency, it will need to loosen its currency controls and strengthen its domestic financial rules and institutions. As Barry Eichengreen and other economic historians have noted, the U.S. dollar assumed its international role after World War II not only because the U.S. economy was large but also because the United States had highly developed financial markets and domestic institutions -- economic and political -- that were stable, open, and grounded in the rule of law. China will feel pressures to establish these same institutional preconditions if it wants the benefits of a global currency.
Internationalist-oriented elites in Brazil, China, India, and elsewhere are growing in influence within their societies, creating an expanding global constituency for an open and rule-based international order. These elites were not party to the grand bargains that lay behind the founding of the liberal order in the early postwar decades, and they are seeking to renegotiate their countries' positions within the system. But they are nonetheless embracing the rules and institutions of the old order. They want the protections and rights that come from the international order's Westphalian defense of sovereignty. They care about great-power authority. They want the protections and rights relating to trade and investment. And they want to use the rules and institutions of liberal internationalism as platforms to project their influence and acquire legitimacy at home and abroad. The UN Security Council, the G-20, the governing bodies of the Bretton Woods institutions -- these are all stages on which rising non-Western states can acquire great-power authority and exercise global leadership.
NO OTHER ORDER
Meanwhile, there is no competing global organizing logic to liberal internationalism. An alternative, illiberal order -- a "Beijing model" -- would presumably be organized around exclusive blocs, spheres of influence, and mercantilist networks. It would be less open and rule-based, and it would be dominated by an array of state-to-state ties. But on a global scale, such a system would not advance the interests of any of the major states, including China. The Beijing model only works when one or a few states opportunistically exploit an open system of markets. But if everyone does, it is no longer an open system but a fragmented, mercantilist, and protectionist complex -- and everyone suffers.
It is possible that China could nonetheless move in this direction. This is a future in which China is not a full-blown illiberal hegemon that reorganizes the global rules and institutions. It is simply a spoiler. It attempts to operate both inside and outside the liberal international order. In this case, China would be successful enough with its authoritarian model of development to resist the pressures to liberalize and democratize. But if the rest of the world does not gravitate toward this model, China will find itself subjected to pressure to play by the rules. This dynamic was on display in February 2011, when Brazilian President Dilma Rousseff joined U.S. Treasury Secretary Timothy Geithner in expressing concern over China's currency policy. China can free-ride on the liberal international order, but it will pay the costs of doing so -- and it will still not be able to impose its illiberal vision on the world.
In the background, meanwhile, democracy and the rule of law are still the hallmarks of modernity and the global standard for legitimate governance. Although it is true that the spread of democracy has stalled in recent years and that authoritarian China has performed well in the recent economic crisis, there is little evidence that authoritarian states can become truly advanced societies without moving in a liberal democratic direction. The legitimacy of one-party rule within China rests more on the state's ability to deliver economic growth and full employment than on authoritarian -- let alone communist -- political principles. Kishore Mahbubani, a Singaporean intellectual who has championed China's rise, admits that "China cannot succeed in its goal of becoming a modern developed society until it can take the leap and allow the Chinese people to choose their own rulers." No one knows how far or fast democratic reforms will unfold in China, but a growing middle class, business elites, and human rights groups will exert pressure for them. The Chinese government certainly appears to worry about the long-term preservation of one-party rule, and in the wake of the ongoing revolts against Arab authoritarian regimes, it has tried harder to prevent student gatherings and control foreign journalists.
Outside China, democracy has become a near-universal ideal. As the economist Amartya Sen has noted, "While democracy is not yet universally practiced, nor indeed universally accepted, in the general climate of world opinion democratic governance has achieved the status of being taken to be generally right." All the leading institutions of the global system enshrine democracy as the proper and just form of governance -- and no competing political ideals even lurk on the sidelines.
The recent global economic downturn was the first great postwar economic upheaval that emerged from the United States, raising doubts about an American-led world economy and Washington's particular brand of economics. The doctrines of neoliberalism and market fundamentalism have been discredited, particularly among the emerging economies. But liberal internationalism is not the same as neoliberalism or market fundamentalism. The liberal internationalism that the United States articulated in the 1940s entailed a more holistic set of ideas about markets, openness, and social stability. It was an attempt to construct an open world economy and reconcile it with social welfare and employment stability. Sustained domestic support for openness, postwar leaders knew, would be possible only if countries also established social protections and regulations that safeguarded economic stability.
Indeed, the notions of national security and economic security emerged together in the 1940s, reflecting New Deal and World War II thinking about how liberal democracies would be rendered safe and stable. The Atlantic Charter, announced by Roosevelt and Winston Churchill in 1941, and the Bretton Woods agreements of 1944 were early efforts to articulate a vision of economic openness and social stability. The United States would do well to try to reach back and rearticulate this view. The world is not rejecting openness and markets; it is asking for a more expansive notion of stability and economic security.
REASON FOR REASSURANCE
Rising powers will discover another reason to embrace the existing global rules and institutions: doing so will reassure their neighbors as they grow more powerful. A stronger China will make neighboring states potentially less secure, especially if it acts aggressively and exhibits revisionist ambitions. Since this will trigger a balancing backlash, Beijing has incentives to signal restraint. It will find ways to do so by participating in various regional and global institutions. If China hopes to convince its neighbors that it has embarked on a "peaceful rise," it will need to become more integrated into the international order.
China has already experienced a taste of such a backlash. Last year, its military made a series of provocative moves -- including naval exercises -- in the South China Sea, actions taken to support the government's claims to sovereign rights over contested islands and waters. Many of the countries disputing China's claims joined with the United States at the Regional Forum of the Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) in July to reject Chinese bullying and reaffirm open access to Asia's waters and respect for international law. In September, a Chinese fishing trawler operating near islands administered by Japan in the East China Sea rammed into two Japanese coast guard ships. After Japanese authorities detained the trawler's crew, China responded with what one Japanese journalist described as a "diplomatic 'shock and awe' campaign," suspending ministerial-level contacts, demanding an apology, detaining several Japanese workers in China, and instituting a de facto ban on exports of rare-earth minerals to Japan. These actions -- seen as manifestations of a more bellicose and aggressive foreign policy -- pushed ASEAN, Japan, and South Korea perceptibly closer to the United States.
As China's economic and military power grow, its neighbors will only become more worried about Chinese aggressiveness, and so Beijing will have reason to allay their fears. Of course, it might be that some elites in China are not interested in practicing restraint. But to the extent that China is interested in doing so, it will find itself needing to signal peaceful intentions -- redoubling its participation in existing institutions, such as the ASEAN Regional Forum and the East Asia Summit, or working with the other great powers in the region to build new ones. This is, of course, precisely what the United States did in the decades after World War II. The country operated within layers of regional and global economic, political, and security institutions and constructed new ones -- thereby making itself more predictable and approachable and reducing the incentives for other states to undermine it by building countervailing coalitions.
More generally, given the emerging problems of the twenty-first century, there will be growing incentives among all the great powers to embrace an open, rule-based international system. In a world of rising economic and security interdependence, the costs of not following multilateral rules and not forging cooperative ties go up. As the global economic system becomes more interdependent, all states -- even large, powerful ones -- will find it harder to ensure prosperity on their own.
Growing interdependence in the realm of security is also creating a demand for multilateral rules and institutions. Both the established and the rising great powers are threatened less by mass armies marching across borders than by transnational dangers, such as terrorism, climate change, and pandemic disease. What goes on in one country -- radicalism, carbon emissions, or public health failures -- can increasingly harm another country.
Intensifying economic and security interdependence are giving the United States and other powerful countries reason to seek new and more extensive forms of multilateral cooperation. Even now, as the United States engages China and other rising states, the agenda includes expanded cooperation in areas such as clean energy, environmental protection, nonproliferation, and global economic governance. The old and rising powers may disagree on how exactly this cooperation should proceed, but they all have reasons to avoid a breakdown in the multilateral order itself. So they will increasingly experiment with new and more extensive forms of liberal internationalism.
TIME FOR RENEWAL
Pronouncements of American decline miss the real transformation under way today. What is occurring is not American decline but a dynamic process in which other states are catching up and growing more connected. In an open and rule-based international order, this is what happens. If the architects of the postwar liberal order were alive to see today's system, they would think that their vision had succeeded beyond their wildest dreams. Markets and democracy have spread. Societies outside the West are trading and growing. The United States has more alliance partners today than it did during the Cold War. Rival hegemonic states with revisionist and illiberal agendas have been pushed off the global stage. It is difficult to read these world-historical developments as a story of American decline and liberal unraveling.
In a way, however, the liberal international order has sown the seeds of its own discontent, since, paradoxically, the challenges facing it now -- the rise of non-Western states and new transnational threats -- are artifacts of its success. But the solutions to these problems -- integrating rising powers and tackling problems cooperatively -- will lead the order's old guardians and new stakeholders to an agenda of renewal. The coming divide in world politics will not be between the United States (and the West) and the non-Western rising states. Rather, the struggle will be between those who want to renew and expand today's system of multilateral governance arrangements and those who want to move to a less cooperative order built on spheres of influence. These fault lines do not map onto geography, nor do they split the West and the non-West. There are passionate champions of the UN, the WTO, and a rule-based international order in Asia, and there are isolationist, protectionist, and anti-internationalist factions in the West.
The liberal international order has succeeded over the decades because its rules and institutions have not just enshrined open trade and free markets but also provided tools for governments to manage economic and security interdependence. The agenda for the renewal of the liberal international order should be driven by this same imperative: to reinforce the capacities of national governments to govern and achieve their economic and security goals.
As the hegemonic organization of the liberal international order slowly gives way, more states will have authority and status. But this will still be a world that the United States wants to inhabit. A wider array of states will share the burdens of global economic and political governance, and with its worldwide system of alliances, the United States will remain at the center of the global system. Rising states do not just grow more powerful on the global stage; they grow more powerful within their regions, and this creates its own set of worries and insecurities -- which is why states will continue to look to Washington for security and partnership. In this new age of international order, the United States will not be able to rule. But it can still lead.
Fonte : Foreign Affairs
The Future of the Liberal World Order
Internationalism After America By G. John Ikenberry
May/June 2011
Article Summary and Author Biography
As the United States' relative power declines, will the open and rule-based liberal international order Washington has championed since the 1940s start to erode? Probably not. That order is alive and well. China and other emerging powers will not seek to undermine the system; instead, they will try to gain more leadership within it.
G. JOHN IKENBERRY is Albert G. Milbank Professor of Politics and International Affairs at Princeton University and the author of Liberal Leviathan: The Origins, Crisis, and Transformation of the American World Order (Princeton University Press, 2011), from which this essay is adapted.
There is no longer any question: wealth and power are moving from the North and the West to the East and the South, and the old order dominated by the United States and Europe is giving way to one increasingly shared with non-Western rising states. But if the great wheel of power is turning, what kind of global political order will emerge in the aftermath?
Some anxious observers argue that the world will not just look less American -- it will also look less liberal. Not only is the United States' preeminence passing away, they say, but so, too, is the open and rule-based international order that the country has championed since the 1940s. In this view, newly powerful states are beginning to advance their own ideas and agendas for global order, and a weakened United States will find it harder to defend the old system. The hallmarks of liberal internationalism -- openness and rule-based relations enshrined in institutions such as the United Nations and norms such as multilateralism -- could give way to a more contested and fragmented system of blocs, spheres of influence, mercantilist networks, and regional rivalries.
The fact that today's rising states are mostly large non-Western developing countries gives force to this narrative. The old liberal international order was designed and built in the West. Brazil, China, India, and other fast-emerging states have a different set of cultural, political, and economic experiences, and they see the world through their anti-imperial and anticolonial pasts. Still grappling with basic problems of development, they do not share the concerns of the advanced capitalist societies. The recent global economic slowdown has also bolstered this narrative of liberal international decline. Beginning in the United States, the crisis has tarnished the American model of liberal capitalism and raised new doubts about the ability of the United States to act as the global economic leader.
For all these reasons, many observers have concluded that world politics is experiencing not just a changing of the guard but also a transition in the ideas and principles that underlie the global order. The journalist Gideon Rachman, for example, says that a cluster of liberal internationalist ideas -- such as faith in democratization, confidence in free markets, and the acceptability of U.S. military power -- are all being called into question. According to this worldview, the future of international order will be shaped above all by China, which will use its growing power and wealth to push world politics in an illiberal direction. Pointing out that China and other non-Western states have weathered the recent financial crisis better than their Western counterparts, pessimists argue that an authoritarian capitalist alternative to Western neoliberal ideas has already emerged. According to the scholar Stefan Halper, emerging-market states "are learning to combine market economics with traditional autocratic or semiautocratic politics in a process that signals an intellectual rejection of the Western economic model."
But this panicked narrative misses a deeper reality: although the United States' position in the global system is changing, the liberal international order is alive and well. The struggle over international order today is not about fundamental principles. China and other emerging great powers do not want to contest the basic rules and principles of the liberal international order; they wish to gain more authority and leadership within it.Indeed, today's power transition represents not the defeat of the liberal order but its ultimate ascendance. Brazil, China, and India have all become more prosperous and capable by operating inside the existing international order -- benefiting from its rules, practices, and institutions, including the World Trade Organization (WTO) and the newly organized G-20. Their economic success and growing influence are tied to the liberal internationalist organization of world politics, and they have deep interests in preserving that system.
In the meantime, alternatives to an open and rule-based order have yet to crystallize. Even though the last decade has brought remarkable upheavals in the global system -- the emergence of new powers, bitter disputes among Western allies over the United States' unipolar ambitions, and a global financial crisis and recession -- the liberal international order has no competitors. On the contrary, the rise of non-Western powers and the growth of economic and security interdependence are creating new constituencies for it.
To be sure, as wealth and power become less concentrated in the United States' hands, the country will be less able to shape world politics. But the underlying foundations of the liberal international order will survive and thrive. Indeed, now may be the best time for the United States and its democratic partners to update the liberal order for a new era, ensuring that it continues to provide the benefits of security and prosperity that it has provided since the middle of the twentieth century.
THE LIBERAL ASCENDANCY
China and the other emerging powers do not face simply an American-led order or a Western system. They face a broader international order that is the product of centuries of struggle and innovation. It is highly developed, expansive, integrated, institutionalized, and deeply rooted in the societies and economies of both advanced capitalist states and developing states. And over the last half century, this order has been unusually capable of assimilating rising powers and reconciling political and cultural diversity.
Today's international order is the product of two order-building projects that began centuries ago. One is the creation and expansion of the modern state system, a project dating back to the Peace of Westphalia in 1648. In the years since then, the project has promulgated rules and principles associated with state sovereignty and norms of great-power conduct. The other project is the construction of the liberal order, which over the last two centuries was led by the United Kingdom and the United States and which in the twentieth century was aided by the rise of liberal democratic states. The two projects have worked together. The Westphalian project has focused on solving the "realist" problems of creating stable and cooperative interstate relations under conditions of anarchy, and the liberal-order-building project has been possible only when relations between the great powers have been stabilized. The "problems of Hobbes," that is, anarchy and power insecurities, have had to be solved in order to take advantage of the "opportunities of Locke," that is, the construction of open and rule-based relations.
At the heart of the Westphalian project is the notion of state sovereignty and great-power relations. The original principles of the Westphalian system -- sovereignty, territorial integrity, and nonintervention -- reflected an emerging consensus that states were the rightful political units for the establishment of legitimate rule. Founded in western Europe, the Westphalian system has expanded outward to encompass the entire globe. New norms and principles -- such as self-determination and mutual recognition among sovereign states -- have evolved within it, further reinforcing the primacy of states and state authority. Under the banners of sovereignty and self-determination, political movements for decolonization and independence were set in motion in the non-Western developing world, coming to fruition in the decades after World War II. Westphalian norms have been violated and ignored, but they have, nonetheless, been the most salient and agreed-on parts of the international order.
A succession of postwar settlements -- Vienna in 1815, Versailles in 1919, Yalta and Potsdam in 1945, and the U.S., Soviet, and European negotiations that ended the Cold War and reunified Germany in the early 1990s -- allowed the great powers to update the principles and practices of their relations. Through war and settlement, the great powers learned how to operate within a multipolar balance-of-power system. Over time, the order has remained a decentralized system in which major states compete and balance against one another. But it has also evolved. The great powers have developed principles and practices of restraint and accommodation that have served their interests. The Congress of Vienna in 1815, where post-Napoleonic France was returned to the great-power club and a congress system was established to manage conflicts, and the UN Security Council today, which has provided a site for great-power consultations, are emblematic of these efforts to create rules and mechanisms that reinforce restraint and accommodation.
The project of constructing a liberal order built on this evolving system of Westphalian relations. In the nineteenth century, liberal internationalism was manifest in the United Kingdom's championing of free trade and the freedom of the seas, but it was limited and coexisted with imperialism and colonialism. In the twentieth century, the United States advanced the liberal order in several phases. After World War I, President Woodrow Wilson and other liberals pushed for an international order organized around a global collective-security body, the League of Nations, in which states would act together to uphold a system of territorial peace. Open trade, national self-determination, and a belief in progressive global change also undergirded the Wilsonian worldview -- a "one world" vision of nation-states that would trade and interact in a multilateral system of laws. But in the interwar period of closed economic systems and imperial blocs, this experiment in liberal order collapsed.
After World War II, President Franklin Roosevelt's administration tried to construct a liberal order again, embracing a vision of an open trading system and a global organization in which the great powers would cooperate to keep the peace -- the United Nations. Drawing lessons from Wilson's failure and incorporating ideas from the New Deal, American architects of the postwar order also advanced more ambitious ideas about economic and political cooperation, which were embodied in the Bretton Woods institutions. This vision was originally global in spirit and scope, but it evolved into a more American-led and Western-centered system as a result of the weakness of postwar Europe and rising tensions with the Soviet Union. As the Cold War unfolded, the United States took command of the system, adopting new commitments and functional roles in both security and economics. Its own economic and political system became, in effect, the central component of the larger liberal hegemonic order.
Another development of liberal internationalism was quietly launched after World War II, although it took root more slowly and competed with aspects of the Westphalian system. This was the elaboration of the universal rights of man, enshrined in the UN and its Universal Declaration of Human Rights. A steady stream of conventions and treaties followed that together constitute an extraordinary vision of rights, individuals, sovereignty, and global order. In the decades since the end of the Cold War, notions of "the responsibility to protect" have given the international community legal rights and obligations to intervene in the affairs of sovereign states.
Seen in this light, the modern international order is not really American or Western -- even if, for historical reasons, it initially appeared that way. It is something much wider. In the decades after World War II, the United States stepped forward as the hegemonic leader, taking on the privileges and responsibilities of organizing and running the system. It presided over a far-flung international order organized around multilateral institutions, alliances, special relationships, and client states -- a hierarchical order with liberal characteristics.
But now, as this hegemonic organization of the liberal international order starts to change, the hierarchical aspects are fading while the liberal aspects persist. So even as China and other rising states try to contest U.S. leadership -- and there is indeed a struggle over the rights, privileges, and responsibilities of the leading states within the system -- the deeper international order remains intact. Rising powers are finding incentives and opportunities to engage and integrate into this order, doing so to advance their own interests. For these states, the road to modernity runs through -- not away from -- the existing international order.
JOINING THE CLUB
The liberal international order is not just a collection of liberal democratic states but an international mutual-aid society -- a sort of global political club that provides members with tools for economic and political advancement. Participants in the order gain trading opportunities, dispute-resolution mechanisms, frameworks for collective action, regulatory agreements, allied security guarantees, and resources in times of crisis. And just as there are a variety of reasons why rising states will embrace the liberal international order, there are powerful obstacles to opponents who would seek to overturn it.
To begin with, rising states have deep interests in an open and rule-based system. Openness gives them access to other societies -- for trade, investment, and knowledge sharing. Without the unrestricted investment from the United States and Europe of the past several decades, for instance, China and the other rising states would be on a much slower developmental path. As these countries grow, they will encounter protectionist and discriminatory reactions from slower-growing countries threatened with the loss of jobs and markets. As a result, the rising states will find the rules and institutions that uphold nondiscrimination and equal access to be critical. The World Trade Organization -- the most formal and developed institution of the liberal international order -- enshrines these rules and norms, and rising states have been eager to join the WTO and gain the rights and protections it affords. China is already deeply enmeshed in the global trading system, with a remarkable 40 percent of its GNP composed of exports -- 25 percent of which go to the United States.
China could be drawn further into the liberal order through its desire to have the yuan become an international currency rivaling the U.S. dollar. Aside from conferring prestige, this feat could also stabilize China's exchange rate and grant Chinese leaders autonomy in setting macroeconomic policy. But if China wants to make the yuan a global currency, it will need to loosen its currency controls and strengthen its domestic financial rules and institutions. As Barry Eichengreen and other economic historians have noted, the U.S. dollar assumed its international role after World War II not only because the U.S. economy was large but also because the United States had highly developed financial markets and domestic institutions -- economic and political -- that were stable, open, and grounded in the rule of law. China will feel pressures to establish these same institutional preconditions if it wants the benefits of a global currency.
Internationalist-oriented elites in Brazil, China, India, and elsewhere are growing in influence within their societies, creating an expanding global constituency for an open and rule-based international order. These elites were not party to the grand bargains that lay behind the founding of the liberal order in the early postwar decades, and they are seeking to renegotiate their countries' positions within the system. But they are nonetheless embracing the rules and institutions of the old order. They want the protections and rights that come from the international order's Westphalian defense of sovereignty. They care about great-power authority. They want the protections and rights relating to trade and investment. And they want to use the rules and institutions of liberal internationalism as platforms to project their influence and acquire legitimacy at home and abroad. The UN Security Council, the G-20, the governing bodies of the Bretton Woods institutions -- these are all stages on which rising non-Western states can acquire great-power authority and exercise global leadership.
NO OTHER ORDER
Meanwhile, there is no competing global organizing logic to liberal internationalism. An alternative, illiberal order -- a "Beijing model" -- would presumably be organized around exclusive blocs, spheres of influence, and mercantilist networks. It would be less open and rule-based, and it would be dominated by an array of state-to-state ties. But on a global scale, such a system would not advance the interests of any of the major states, including China. The Beijing model only works when one or a few states opportunistically exploit an open system of markets. But if everyone does, it is no longer an open system but a fragmented, mercantilist, and protectionist complex -- and everyone suffers.
It is possible that China could nonetheless move in this direction. This is a future in which China is not a full-blown illiberal hegemon that reorganizes the global rules and institutions. It is simply a spoiler. It attempts to operate both inside and outside the liberal international order. In this case, China would be successful enough with its authoritarian model of development to resist the pressures to liberalize and democratize. But if the rest of the world does not gravitate toward this model, China will find itself subjected to pressure to play by the rules. This dynamic was on display in February 2011, when Brazilian President Dilma Rousseff joined U.S. Treasury Secretary Timothy Geithner in expressing concern over China's currency policy. China can free-ride on the liberal international order, but it will pay the costs of doing so -- and it will still not be able to impose its illiberal vision on the world.
In the background, meanwhile, democracy and the rule of law are still the hallmarks of modernity and the global standard for legitimate governance. Although it is true that the spread of democracy has stalled in recent years and that authoritarian China has performed well in the recent economic crisis, there is little evidence that authoritarian states can become truly advanced societies without moving in a liberal democratic direction. The legitimacy of one-party rule within China rests more on the state's ability to deliver economic growth and full employment than on authoritarian -- let alone communist -- political principles. Kishore Mahbubani, a Singaporean intellectual who has championed China's rise, admits that "China cannot succeed in its goal of becoming a modern developed society until it can take the leap and allow the Chinese people to choose their own rulers." No one knows how far or fast democratic reforms will unfold in China, but a growing middle class, business elites, and human rights groups will exert pressure for them. The Chinese government certainly appears to worry about the long-term preservation of one-party rule, and in the wake of the ongoing revolts against Arab authoritarian regimes, it has tried harder to prevent student gatherings and control foreign journalists.
Outside China, democracy has become a near-universal ideal. As the economist Amartya Sen has noted, "While democracy is not yet universally practiced, nor indeed universally accepted, in the general climate of world opinion democratic governance has achieved the status of being taken to be generally right." All the leading institutions of the global system enshrine democracy as the proper and just form of governance -- and no competing political ideals even lurk on the sidelines.
The recent global economic downturn was the first great postwar economic upheaval that emerged from the United States, raising doubts about an American-led world economy and Washington's particular brand of economics. The doctrines of neoliberalism and market fundamentalism have been discredited, particularly among the emerging economies. But liberal internationalism is not the same as neoliberalism or market fundamentalism. The liberal internationalism that the United States articulated in the 1940s entailed a more holistic set of ideas about markets, openness, and social stability. It was an attempt to construct an open world economy and reconcile it with social welfare and employment stability. Sustained domestic support for openness, postwar leaders knew, would be possible only if countries also established social protections and regulations that safeguarded economic stability.
Indeed, the notions of national security and economic security emerged together in the 1940s, reflecting New Deal and World War II thinking about how liberal democracies would be rendered safe and stable. The Atlantic Charter, announced by Roosevelt and Winston Churchill in 1941, and the Bretton Woods agreements of 1944 were early efforts to articulate a vision of economic openness and social stability. The United States would do well to try to reach back and rearticulate this view. The world is not rejecting openness and markets; it is asking for a more expansive notion of stability and economic security.
REASON FOR REASSURANCE
Rising powers will discover another reason to embrace the existing global rules and institutions: doing so will reassure their neighbors as they grow more powerful. A stronger China will make neighboring states potentially less secure, especially if it acts aggressively and exhibits revisionist ambitions. Since this will trigger a balancing backlash, Beijing has incentives to signal restraint. It will find ways to do so by participating in various regional and global institutions. If China hopes to convince its neighbors that it has embarked on a "peaceful rise," it will need to become more integrated into the international order.
China has already experienced a taste of such a backlash. Last year, its military made a series of provocative moves -- including naval exercises -- in the South China Sea, actions taken to support the government's claims to sovereign rights over contested islands and waters. Many of the countries disputing China's claims joined with the United States at the Regional Forum of the Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) in July to reject Chinese bullying and reaffirm open access to Asia's waters and respect for international law. In September, a Chinese fishing trawler operating near islands administered by Japan in the East China Sea rammed into two Japanese coast guard ships. After Japanese authorities detained the trawler's crew, China responded with what one Japanese journalist described as a "diplomatic 'shock and awe' campaign," suspending ministerial-level contacts, demanding an apology, detaining several Japanese workers in China, and instituting a de facto ban on exports of rare-earth minerals to Japan. These actions -- seen as manifestations of a more bellicose and aggressive foreign policy -- pushed ASEAN, Japan, and South Korea perceptibly closer to the United States.
As China's economic and military power grow, its neighbors will only become more worried about Chinese aggressiveness, and so Beijing will have reason to allay their fears. Of course, it might be that some elites in China are not interested in practicing restraint. But to the extent that China is interested in doing so, it will find itself needing to signal peaceful intentions -- redoubling its participation in existing institutions, such as the ASEAN Regional Forum and the East Asia Summit, or working with the other great powers in the region to build new ones. This is, of course, precisely what the United States did in the decades after World War II. The country operated within layers of regional and global economic, political, and security institutions and constructed new ones -- thereby making itself more predictable and approachable and reducing the incentives for other states to undermine it by building countervailing coalitions.
More generally, given the emerging problems of the twenty-first century, there will be growing incentives among all the great powers to embrace an open, rule-based international system. In a world of rising economic and security interdependence, the costs of not following multilateral rules and not forging cooperative ties go up. As the global economic system becomes more interdependent, all states -- even large, powerful ones -- will find it harder to ensure prosperity on their own.
Growing interdependence in the realm of security is also creating a demand for multilateral rules and institutions. Both the established and the rising great powers are threatened less by mass armies marching across borders than by transnational dangers, such as terrorism, climate change, and pandemic disease. What goes on in one country -- radicalism, carbon emissions, or public health failures -- can increasingly harm another country.
Intensifying economic and security interdependence are giving the United States and other powerful countries reason to seek new and more extensive forms of multilateral cooperation. Even now, as the United States engages China and other rising states, the agenda includes expanded cooperation in areas such as clean energy, environmental protection, nonproliferation, and global economic governance. The old and rising powers may disagree on how exactly this cooperation should proceed, but they all have reasons to avoid a breakdown in the multilateral order itself. So they will increasingly experiment with new and more extensive forms of liberal internationalism.
TIME FOR RENEWAL
Pronouncements of American decline miss the real transformation under way today. What is occurring is not American decline but a dynamic process in which other states are catching up and growing more connected. In an open and rule-based international order, this is what happens. If the architects of the postwar liberal order were alive to see today's system, they would think that their vision had succeeded beyond their wildest dreams. Markets and democracy have spread. Societies outside the West are trading and growing. The United States has more alliance partners today than it did during the Cold War. Rival hegemonic states with revisionist and illiberal agendas have been pushed off the global stage. It is difficult to read these world-historical developments as a story of American decline and liberal unraveling.
In a way, however, the liberal international order has sown the seeds of its own discontent, since, paradoxically, the challenges facing it now -- the rise of non-Western states and new transnational threats -- are artifacts of its success. But the solutions to these problems -- integrating rising powers and tackling problems cooperatively -- will lead the order's old guardians and new stakeholders to an agenda of renewal. The coming divide in world politics will not be between the United States (and the West) and the non-Western rising states. Rather, the struggle will be between those who want to renew and expand today's system of multilateral governance arrangements and those who want to move to a less cooperative order built on spheres of influence. These fault lines do not map onto geography, nor do they split the West and the non-West. There are passionate champions of the UN, the WTO, and a rule-based international order in Asia, and there are isolationist, protectionist, and anti-internationalist factions in the West.
The liberal international order has succeeded over the decades because its rules and institutions have not just enshrined open trade and free markets but also provided tools for governments to manage economic and security interdependence. The agenda for the renewal of the liberal international order should be driven by this same imperative: to reinforce the capacities of national governments to govern and achieve their economic and security goals.
As the hegemonic organization of the liberal international order slowly gives way, more states will have authority and status. But this will still be a world that the United States wants to inhabit. A wider array of states will share the burdens of global economic and political governance, and with its worldwide system of alliances, the United States will remain at the center of the global system. Rising states do not just grow more powerful on the global stage; they grow more powerful within their regions, and this creates its own set of worries and insecurities -- which is why states will continue to look to Washington for security and partnership. In this new age of international order, the United States will not be able to rule. But it can still lead.
Fonte : Foreign Affairs
segunda-feira, 9 de maio de 2011
NADA DE NOVO NO FRONT
(um trecho)
Estamos no outono. Dos veteranos, já não há muitos. Sou o último dos sete colegas de turma que vieram para cá.
Todos falam de paz e armistício. Todos esperam. Se for outra decepção, eles vão se desmoronar. As esperanças são muito fortes; é impossível destruí-las sem uma reação brutal. Se não houver paz, então haverá revolução.
Tenho catorze dias de licença, porque engoli um pouco de gás. Num pequeno jardim, fico sentado o dia inteiro ao sol. O armistício virá e breve, até eu já acredito agora. Então iremos para casa.
Neste ponto meus pensamentos param e não vão mais adiante. O que me atrai e me arrasta são os sentimentos. É a ânsia de viver, é a nostalgia da terra natal, é o sangue, é a embriaguez da salvação. Mas não são objetivos.
Se tivéssemos voltado em 1916, do nosso sofrimento e da força de nossa experiência poderíamos ter desencadeado uma tempestade. Mas se voltarmos agora estaremos cansados, quebrados, deprimidos, vazios, sem raízes e sem esperanças. Não conseguiremos mais achar o caminho.
E as pessoas não nos compreenderão, pois antes da nossa cresceu uma geração que, sem dúvida, passou estes anos aqui junto a nós, mas que já tinha um lar e uma profissão, e que agora voltará para suas antigas colocações e esquecerá a guerra... e depois de nós crescerá uma geração semelhante à que fomos em outros tempos, que nos será estranha e nos deixará de lado. Seremos inúteis até para nós mesmos. Envelheceremos, alguns se adaptarão, outros simplesmente se resignarão e a maioria ficará desorientada: os anos passarão e, por fim, pereceremos todos.
Mas talvez tudo que penso seja apenas melancolia e desalento que desaparecerão quando estiver de novo sob os choupos e ouvir novamente o murmúrio das suas folhas. É impossível que já não existam a doçura que fazia nosso sangue se agitar, a incerteza, o futuro com suas mil faces, a melodia dos sonhos e dos livros, os sussurros e os pressentimentos das mulheres. Tudo isso não pode ter desaparecido nos bombardeios, no desespero e nos bordéis. Aqui as árvores brilham, alegres e douradas, os frutos das sorveiras têm matizes avermelhados por entre a folhagem; as estradas correm brancas para o horizonte, os rumores de paz fazem as cantinas zumbirem como colmeias.
Levanto-me.
Estou muito tranqüilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar mais nada de mim, não podem me tirar mais nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo. A vida, que me arrastou por todos estes anos, eu ainda a tenho nas mãos e nos olhos. Se a venci, não sei. Mas enquanto existir dentro de mim - queira ou não esta força que em mim reside e que se chama eu -, ela procurará seu próprio caminho.
Tombou morto em outubro de 1918, num dia tão tranqüilo em toda a linha de frente que o comunicado se limitou a uma frase: "Nada de novo no front".
Caiu de bruços e ficou estendido, como se estivesse dormindo. Quando alguém o virou, viu-se que ele não devia ter sofrido muito. Tinha no rosto uma expressão tão serena que quase parecia estar satisfeito de ter terminado assim.
Erich Maria Remarque
Estamos no outono. Dos veteranos, já não há muitos. Sou o último dos sete colegas de turma que vieram para cá.
Todos falam de paz e armistício. Todos esperam. Se for outra decepção, eles vão se desmoronar. As esperanças são muito fortes; é impossível destruí-las sem uma reação brutal. Se não houver paz, então haverá revolução.
Tenho catorze dias de licença, porque engoli um pouco de gás. Num pequeno jardim, fico sentado o dia inteiro ao sol. O armistício virá e breve, até eu já acredito agora. Então iremos para casa.
Neste ponto meus pensamentos param e não vão mais adiante. O que me atrai e me arrasta são os sentimentos. É a ânsia de viver, é a nostalgia da terra natal, é o sangue, é a embriaguez da salvação. Mas não são objetivos.
Se tivéssemos voltado em 1916, do nosso sofrimento e da força de nossa experiência poderíamos ter desencadeado uma tempestade. Mas se voltarmos agora estaremos cansados, quebrados, deprimidos, vazios, sem raízes e sem esperanças. Não conseguiremos mais achar o caminho.
E as pessoas não nos compreenderão, pois antes da nossa cresceu uma geração que, sem dúvida, passou estes anos aqui junto a nós, mas que já tinha um lar e uma profissão, e que agora voltará para suas antigas colocações e esquecerá a guerra... e depois de nós crescerá uma geração semelhante à que fomos em outros tempos, que nos será estranha e nos deixará de lado. Seremos inúteis até para nós mesmos. Envelheceremos, alguns se adaptarão, outros simplesmente se resignarão e a maioria ficará desorientada: os anos passarão e, por fim, pereceremos todos.
Mas talvez tudo que penso seja apenas melancolia e desalento que desaparecerão quando estiver de novo sob os choupos e ouvir novamente o murmúrio das suas folhas. É impossível que já não existam a doçura que fazia nosso sangue se agitar, a incerteza, o futuro com suas mil faces, a melodia dos sonhos e dos livros, os sussurros e os pressentimentos das mulheres. Tudo isso não pode ter desaparecido nos bombardeios, no desespero e nos bordéis. Aqui as árvores brilham, alegres e douradas, os frutos das sorveiras têm matizes avermelhados por entre a folhagem; as estradas correm brancas para o horizonte, os rumores de paz fazem as cantinas zumbirem como colmeias.
Levanto-me.
Estou muito tranqüilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar mais nada de mim, não podem me tirar mais nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo. A vida, que me arrastou por todos estes anos, eu ainda a tenho nas mãos e nos olhos. Se a venci, não sei. Mas enquanto existir dentro de mim - queira ou não esta força que em mim reside e que se chama eu -, ela procurará seu próprio caminho.
Tombou morto em outubro de 1918, num dia tão tranqüilo em toda a linha de frente que o comunicado se limitou a uma frase: "Nada de novo no front".
Caiu de bruços e ficou estendido, como se estivesse dormindo. Quando alguém o virou, viu-se que ele não devia ter sofrido muito. Tinha no rosto uma expressão tão serena que quase parecia estar satisfeito de ter terminado assim.
Erich Maria Remarque
O MESTRE E A MARGARIDA
Um trecho:
1
Nunca falem com estranhos.
Na hora de um quente pôr do sol primaveril, surgiram dois cidadãos em Patriarchi Prudý. O primeiro, com aproximadamente quarenta anos, trajava um costume cinza de verão, era de estatura baixa, cabelos escuros, rechonchudo, careca, na mão seu respeitável chapéu Fedora. Óculos de tamanho sobrenatural de armação preta de chifre ornavam seu rosto cuidadosamente escanhoado. O segundo era um jovem de ombros largos, arruivado, hirsuto, com um boné xadrez caído na nuca, camisa de caubói, calças brancas amarrotadas e tênis pretos.
O primeiro era nada mais nada menos que Mikhail Aleksándrovitch Berlioz, editor de uma volumosa revista de arte e presidente do conselho administrativo de uma das maiores associações literárias de Moscou, abreviadamente denominada Massolit. Já seu jovem acompanhante era o poeta Ivan Nikoláievitch Ponyriov, que escrevia sob o pseudônimo de Bezdômny.
Assim que entraram na sombra das tílias verdejantes, os escritores se precipitaram para um quiosque multicolorido com a placa "Cerveja e refrescos".
Sim, convém destacar a primeira esquisitice desse terrível entardecer de maio. Não só perto do quiosque, mas também em toda a aleia paralela à rua Málaia Brônnaia, não havia vivalma. Naquela hora, quando não se tinha forças nem para respirar, quando o sol, após incandescer Moscou, mergulhava numa neblina seca em algum lugar de Sadôvoie Koltsô, ninguém viera para a sombra das tílias, ninguém se sentara no banco, a aleia estava vazia.
- Uma água com gás - pediu Berlioz.
- Não tem - respondeu a mulher do quiosque, e sabe-se lá por que se ofendeu.
- Tem cerveja? - quis saber Bezdômny, com a voz rouca.
- Vão trazer mais tarde - respondeu a mulher.
- Então tem o quê? - perguntou Berlioz.
- Refresco de damasco, e só quente - disse a mulher.
- Então vai, pode ser, pode ser!...
O refresco de damasco formou uma espuma densa e amarela, surgiu no ar um cheiro de cabeleireiro. Depois de beberem, os literatos imediatamente começaram a soluçar, pagaram e sentaram-se no banco, de frente para o lago e de costas para a Brônnaia.
Nesse momento, ocorreu a segunda esquisitice, que só tinha a ver com Berlioz. Ele parou de soluçar repentinamente, seu coração bateu e, num rufo, sentiu como se tivesse despencado para algum lugar e depois voltado, mas com uma agulha cega cravada nele. Além disso, Berlioz foi tomado por um medo infundado, mas tão forte, que teve vontade de sair correndo imediatamente de Patriarchi, sem olhar para trás.
Berlioz olhou em volta angustiado, sem entender o que o assustara tanto. Empalideceu, enxugou a testa com um lenço e pensou: "O que está acontecendo comigo? Nunca senti isso... o coração está falhando... estou esgotado... Acho que está na hora de mandar tudo para o inferno e ir para Kislovôdsk..."
Na mesma hora, o ar tórrido condensou-se diante dele e desse ar fez-se um cidadão transparente, de aspecto estranhíssimo. Na pequena cabeça, um boné de jóquei, um paletó xadrez apertado e também vaporoso... Um cidadão de estatura colossal, mas de ombros estreitos, incrivelmente magro e de fisionomia, quero destacar, zombeteira.
A vida de Berlioz transcorria de tal modo que ele não estava acostumado a fenômenos extraordinários. Empalidecendo ainda mais, ele esbugalhou os olhos e pensou, confuso: "Isso não pode ser real!"
Mas infelizmente era real, e através daquilo se via um cidadão alongado e transparente, que balançava diante dele, ora para a esquerda ora para a direita, sem tocar no chão.
Nesse instante, o pavor tomou conta de Berlioz de tal forma que ele fechou os olhos. Quando os abriu, viu que tudo tinha acabado, a miragem evaporara, o xadrez desaparecera e, a propósito, a agulha cega se desprendera de seu coração."
Mikhail Bulgákov
1
Nunca falem com estranhos.
Na hora de um quente pôr do sol primaveril, surgiram dois cidadãos em Patriarchi Prudý. O primeiro, com aproximadamente quarenta anos, trajava um costume cinza de verão, era de estatura baixa, cabelos escuros, rechonchudo, careca, na mão seu respeitável chapéu Fedora. Óculos de tamanho sobrenatural de armação preta de chifre ornavam seu rosto cuidadosamente escanhoado. O segundo era um jovem de ombros largos, arruivado, hirsuto, com um boné xadrez caído na nuca, camisa de caubói, calças brancas amarrotadas e tênis pretos.
O primeiro era nada mais nada menos que Mikhail Aleksándrovitch Berlioz, editor de uma volumosa revista de arte e presidente do conselho administrativo de uma das maiores associações literárias de Moscou, abreviadamente denominada Massolit. Já seu jovem acompanhante era o poeta Ivan Nikoláievitch Ponyriov, que escrevia sob o pseudônimo de Bezdômny.
Assim que entraram na sombra das tílias verdejantes, os escritores se precipitaram para um quiosque multicolorido com a placa "Cerveja e refrescos".
Sim, convém destacar a primeira esquisitice desse terrível entardecer de maio. Não só perto do quiosque, mas também em toda a aleia paralela à rua Málaia Brônnaia, não havia vivalma. Naquela hora, quando não se tinha forças nem para respirar, quando o sol, após incandescer Moscou, mergulhava numa neblina seca em algum lugar de Sadôvoie Koltsô, ninguém viera para a sombra das tílias, ninguém se sentara no banco, a aleia estava vazia.
- Uma água com gás - pediu Berlioz.
- Não tem - respondeu a mulher do quiosque, e sabe-se lá por que se ofendeu.
- Tem cerveja? - quis saber Bezdômny, com a voz rouca.
- Vão trazer mais tarde - respondeu a mulher.
- Então tem o quê? - perguntou Berlioz.
- Refresco de damasco, e só quente - disse a mulher.
- Então vai, pode ser, pode ser!...
O refresco de damasco formou uma espuma densa e amarela, surgiu no ar um cheiro de cabeleireiro. Depois de beberem, os literatos imediatamente começaram a soluçar, pagaram e sentaram-se no banco, de frente para o lago e de costas para a Brônnaia.
Nesse momento, ocorreu a segunda esquisitice, que só tinha a ver com Berlioz. Ele parou de soluçar repentinamente, seu coração bateu e, num rufo, sentiu como se tivesse despencado para algum lugar e depois voltado, mas com uma agulha cega cravada nele. Além disso, Berlioz foi tomado por um medo infundado, mas tão forte, que teve vontade de sair correndo imediatamente de Patriarchi, sem olhar para trás.
Berlioz olhou em volta angustiado, sem entender o que o assustara tanto. Empalideceu, enxugou a testa com um lenço e pensou: "O que está acontecendo comigo? Nunca senti isso... o coração está falhando... estou esgotado... Acho que está na hora de mandar tudo para o inferno e ir para Kislovôdsk..."
Na mesma hora, o ar tórrido condensou-se diante dele e desse ar fez-se um cidadão transparente, de aspecto estranhíssimo. Na pequena cabeça, um boné de jóquei, um paletó xadrez apertado e também vaporoso... Um cidadão de estatura colossal, mas de ombros estreitos, incrivelmente magro e de fisionomia, quero destacar, zombeteira.
A vida de Berlioz transcorria de tal modo que ele não estava acostumado a fenômenos extraordinários. Empalidecendo ainda mais, ele esbugalhou os olhos e pensou, confuso: "Isso não pode ser real!"
Mas infelizmente era real, e através daquilo se via um cidadão alongado e transparente, que balançava diante dele, ora para a esquerda ora para a direita, sem tocar no chão.
Nesse instante, o pavor tomou conta de Berlioz de tal forma que ele fechou os olhos. Quando os abriu, viu que tudo tinha acabado, a miragem evaporara, o xadrez desaparecera e, a propósito, a agulha cega se desprendera de seu coração."
Mikhail Bulgákov
domingo, 1 de maio de 2011
ESA DROGA LLAMADA PODER
En el silencio nocturno y absoluto relajo, escucho una suave melodía que me motiva a filosofar sobre el poder: suprema potestad deseada ansiosamente por el común de los mortales. Estimo que existen diversas formas de ejercer el poder: económico, bélico, político, religioso, entre otros.
Según mi peculiar criterio, considero que el poder es una droga potencialmente adictiva, más aún que las conocidas drogas tradicionales: alcohol, tabaco, marihuana, cocaína, etc., que con el tiempo deterioran el organismo de sus consumidores hasta quedar convertidos en despojos humanos sin neuronas, y por continuar con su descontrolado consumo autoextinguen sus vidas, poniendo punto final al grave problema causado a la sociedad y en particular a su familia, quien arrastra aquel lastre.
Sin embargo, esa droga llamada poder, no afecta en lo más mínimo el organismo de quienes la consumen. Muy por el contrario, a mayor consumo adquieren más fuerza, más prepotencia, más autoritarismo, requiriendo dosis mayores para satisfacer su enfermiza adicción, y cuando padecen una crisis por sobredosis: ¡Dios nos coja confesados! porque la mente se les nubla de tal forma, que en total delirio se alucinan ser dueños del universo... qué grave problema ¿verdad?
Y pensar que somos culpables de la existencia de estos viles consumidores, al procurar con nuestros votos en urna de plata la droga poder. En razón de ello, por disponer de esa droga a su libre albedrío, estos despreciables sujetos no tienen en mente dejar su privilegiada investidura ni tampoco dicha adicción: ¡dejar el poder!
Concluyo formulando la siguiente pregunta: ¿Hasta cuándo seremos los responsables directos de la existencia de estos repudiables consumidores?
©SKORPIONA
Inés de la Puente Spiers
http://www.blogger.com/goog_623261698
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Según mi peculiar criterio, considero que el poder es una droga potencialmente adictiva, más aún que las conocidas drogas tradicionales: alcohol, tabaco, marihuana, cocaína, etc., que con el tiempo deterioran el organismo de sus consumidores hasta quedar convertidos en despojos humanos sin neuronas, y por continuar con su descontrolado consumo autoextinguen sus vidas, poniendo punto final al grave problema causado a la sociedad y en particular a su familia, quien arrastra aquel lastre.
Sin embargo, esa droga llamada poder, no afecta en lo más mínimo el organismo de quienes la consumen. Muy por el contrario, a mayor consumo adquieren más fuerza, más prepotencia, más autoritarismo, requiriendo dosis mayores para satisfacer su enfermiza adicción, y cuando padecen una crisis por sobredosis: ¡Dios nos coja confesados! porque la mente se les nubla de tal forma, que en total delirio se alucinan ser dueños del universo... qué grave problema ¿verdad?
Y pensar que somos culpables de la existencia de estos viles consumidores, al procurar con nuestros votos en urna de plata la droga poder. En razón de ello, por disponer de esa droga a su libre albedrío, estos despreciables sujetos no tienen en mente dejar su privilegiada investidura ni tampoco dicha adicción: ¡dejar el poder!
Concluyo formulando la siguiente pregunta: ¿Hasta cuándo seremos los responsables directos de la existencia de estos repudiables consumidores?
©SKORPIONA
Inés de la Puente Spiers
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