sábado, 13 de novembro de 2010

Os amantes aparecem no verão, quando os amigos partiram…

para J.G.



Os amantes aparecem no verão, quando os amigos partiram

para o sul à sua procura, deixando um lugar vago

à mesa, um bilhete entalado na porta, as plantas,

o canário, um beijo e um livro emprestado: a memória

das suas biografias incompletas. Os amigos



desaparecem em agosto. Consomem-nos as labaredas do sol

e os amantes que chegam ao fim da tarde

jantam e de manhã ajudam a regar as raízes das avencas

que os amigos confiaram até setembro, quando regressam



trazem saudades e um romance novo debaixo da língua.

Levam um beijo, os vasos, as gaiolas e os amantes

deixam um lugar vago na memória, cabelos na almofada,

uma carta, desculpas, e um livro de cabeceira que os

amigos lêem, pacientes, ocupando o seu lugar à mesa.


Maria do Rosário Pedreira

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