domingo, 7 de novembro de 2010

Grito

Cedros, abetos,

pinheiros novos.

O que há no tecto

do céu deserto,

além do grito?

Tudo que e’ nosso.

São os teus olhos

desmesurados,

lagos enormes,

mas concentrados

nos meus sentidos.

Tudo o que é nosso

é excessivo.

E a minha boca,

de tão rasgada,

corre-te o corpo

de pólo a pólo,

desfaz-te o colo

de espádua a espádua,

são os teus olhos,

depois o grito.

Cedros, abetos,

pinheiros novos.

É o regresso.

É no silêncio

de outro extremo

desta cidade

a tua casa.

É no teu quarto

de novo o grito.

E mais nocturna

do que nunca

a envergadura

das nossas asas.

Punhal de vento,

rosa de espuma:

morre o desejo,

nasce a ternura.

Mas que silêncio

na tua casa.

David Mourão Ferreira

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