terça-feira, 21 de setembro de 2010

Seus olhos

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir,

estrelas incertas, que as águas dormentes do mar vão ferir;



seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, têm meiga expressão,

mais doce que a brisa, – mais doce que a frauta quebrando a soidão.



Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir,

são meigos infantes, gentis, engraçados brincando a sorrir.



São meigos infantes, brincando, saltando em jogo infantil,

inquietos, travessos; – causando tormento,

com beijos nos pagam a dor de um momento, com modo gentil.



Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são;

às vezes luzindo, serenos, tranquilos, às vezes vulcão!



Ás vezes, oh! sim, derramam tão fraco, tão frouxo brilhar,

que a mim me parece que o ar lhes falece,

e os olhos tão meigos, que o pranto umedece, me fazem chorar.



Assim lindo infante, que dorme tranquilo, desperta a chorar;

e mudo e sisudo, cismando mil coisas, não pensa – a pensar.



Nas almas tão puras da virgem, do infante, às vezes do céu

cai doce harmonia duma harpa celeste,

um vago desejo; e a mente se veste de pranto co’um véu.



Que sejam saudades, que sejam desejos da pátria melhor;

eu amo seus olhos que choram sem causa um pranto sem dor.



Eu amo seus olhos tão negros, tão puros, de vivo fulgor;

seus olhos que exprimem tão doce harmonia,

que falam de amores com tanta poesia, com tanto pudor.



Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são;

eu amo esses olhos que falam de amores com tanta paixão.


Gonçalves Dias

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