Eu tenho a alma errante
e vago na terra a sonhar maravilhas…
Não para um momento!
Eu busco irriquieto o meu sonho inconstante
e sou como as asas, as velas, as quilhas,
as nuvens, o vento…
Eu sou como as coisas inquietas: o veio
que canta na leira; a fumaça que voa
na espira que sobe das achas; o anseio
dos longos coqueiros esguios;
a esteira de prata que deixa uma proa
no espelho dos rios.
Eu tenho a alma errante…
Boêmio, o meu sonho procura a carícia
fugace, procura
a glória mendaz e preclara.
Sou como a veia fenícia
ao largo, uma vela distante…
Eu tenho a alma errante…
E sinto uma estranha delícia
em tudo que passa e não dura,
em tudo que foge e não pára…
Menotti Del Picchia
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