sábado, 28 de agosto de 2010

Soneto do amor difícil

A praia abandonada recomeça

logo que o mar se vai, a desejá-lo:

é como o nosso amor, somente embalo

enquanto não é mais que uma promessa…

Mas se na praia a onda se espedaça,

há logo nostalgia duma flor

que ali devia estar para compor

a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos

no silêncio de morte que nos tolhe,

como entre o mar e a praia um longo molhe

de súbito surgido à flor dos limos.

E deste amor difícil só nasceu

desencanto na curva do teu céu.

David Mourão-Ferreira

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