Estava em casa, exausta depois de um dia dedicado a arrumar, produzir prateleiras, fazer um frete, mudar coisas de lugar – saí a exatamente um mês da casa da minha mãe -, e hoje, a casa ganhou aspecto de casa. Enfim, estava em casa, exausta e tentando me concentrar, tinha trabalho a fazer e francês para estudar. Menezes, o gato, estava posicionado logo abaixo da minha cadeira, onde mora um bode morto, quer dizer, seu couro, muito apreciado pelo gato. Distraída, eu o chutei inúmeras vezes, arrancando-o de seu sono pacífico.
Cansado dos maus tratos, Menezes resolveu – apesar do frio e da chuva que se anunciavam e foram confirmados hoje – sair do bodinho e ir para a janela. Foi quando viu uma gata selvagem pelo jardim. Rapaz, o bicho enlouqueceu! Gemia, as pupilas dilataram, andava obssessivamente de um lado para o outro, o pêlo eriçado, pulava até o parapeito do prédio e voltava para casa. Resolvi ver quem era tal gatinha. Achei que a conhecia mas pensei: se está na rua, deve ter fugido. Então, desci, disposta a averiguar o terreno para que Menezes viesse também. Mas o desespero dele era tamanho, que não houve tempo, só um barulho e o rastro branco. Sim, o pacato Menezes se jogou da janela do segundo andar. Heróico, o gato pulou em busca de seu amor. Burro, caiu do lado errado, dentro da grade do apartamento térreo de fundos.
A vizinha, que tem duas gatas, eventuais paqueras de Menezes, ficou tensa com o pulo do gato. Eu gostei da passionalidade. Eu não gostei de vê-lo cair.
Antonia Pellegrino é escritora. Colaborou com Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa na novela “A Lua Me Disse”. Tem contos publicados nas antologias Dentro de um livro, Prosas Cariocas e Paralelos. Organizou o volume Lucidez Embriagada, com textos de Hélio Pellegrino. Edita o blogue Inveja de Gato.
Antonia Pellegrino
– Escritoras Suicidas
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