Ele descia a escada de uma rua e não sabia cantar.Mas era a sua voz que vinha não tanto desengonçada.Entre seu corpo e o vento havia um choque que ele saudava com a canção.
Ao vencer o último degrau , tudo parou.No duro: a canção , o vento, o seu caminhar.a primeira coisa que ele fez foi abrir o sobretudo, como se tivesse algum dispositivo por dentro da roupa que devolvesse a tudo o dom de funcionar.Ele abriu o sobretudo, enfiou calmamente a mão por baixo das lãs e assim ficou por um instante, a pensar.Seria ele uma espécie imatura ainda, incapaz de controlar as disfunções que acometiam a qualquer um?Virou-se,olhou a escada como se estivesse acabado de praticar uma façanha.Uma criança descia.parecia reconhecê-lo.De fato vinha em sua direção...
Relâmpagos.Folha de São Paulo.12/07/01
Nenhum comentário:
Postar um comentário