quinta-feira, 24 de junho de 2010

Poemas de Sylvia Beirute

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A DEFINIÇÃO DO SILÊNCIO



porque o tempo é de corpo, {de passagem},

porque a boca é de nomes próprios, do verbo viver-morrer

dobrado sobre si mesmo como duas cores

que se misturam e imitam,

porque a tua borboleta percorre um pequeno país

que bate as asas no sentido oposto,

porque vens sem corpo, por entre os satélites, em

direcção ao amor conclusivo,

porque o lugar que há em ti não tem onde ficar:

o silêncio é a recompensa da tua permanência.



mas quem decifra o silêncio, querido herberto,

não é quem permanece.









POEMA SIMPLES SOBRE O SILÊNCIO



{do silêncio}. do sinal de fogo.

citar-te, escrever-te, transcrever-te, conjugar-te, oralizar-te

na orla do teu tronco demasiado extenso

para a curva do vento órfão de vontades.

{do silêncio}. grotesco. do sinal de fogo. literatura.

comer-te. beber-te com rigor moral, como consta

do guião de contra-indicações. infra.

{do silêncio}. ler-te. do sinal de fogo. contar-te

uma história verídica num outro contexto.

incomensurável. definitivamente provisório. belo.

{do silêncio}. quadriculado, vândalo. do sinal de fogo.

do ruído preceptivo. do processo de esverdeamento

do corpo com saudade. da cápsula de tempo.

{do silêncio}. um acto. do homem que se debruça

sobre cada órbita. um gesto. do mundo digestivo. instintivo.

somos um acto mas não um gesto. mera raiz da voz oca.

e numa linha recta aberta refundimos como quem

se ouve a si mesmo. do silêncio. do sinal de fogo.



Sylvia Beirute é natural de Faro, Portugal, e nasceu em 10 de Dezembro de 1984. É autora do blogue “Uma casa em Beirute”: http://www.sylviabeirute.blogspot.com/

E-mail: sylvia.beirute@gmail.com

Fonte: Cronópios

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