sábado, 12 de junho de 2010

O alumbramento dos corpos




ALUMBRAMENTO



Eu vi os céus! Eu vi os céus!

Oh, essa angélica brancura

Sem tristes pejos e sem véus!



Nem uma nuvem de amargura

Vem a alma desassossegar.

E sinto-a bela… e sinto-a pura…



Eu vi nevar! Eu vi nevar!

Oh, cristalizações da bruma

A amortalhar, a cintilar!



Eu vi o mar! Lírios de espuma

Vinham desabrochar à flor

Da água que o vento desapruma…



Eu vi a estrela do pastor…

Vi a licorne alvinitente!…

Vi… vi o rastro do Senhor!…



E vi a Via-Láctea ardente…

Vi comunhões… capelas… véus…

Súbito… alucinadamente…

Vi carros triunfais… troféus…

Pérolas grandes como a lua…

Eu vi os céus! Eu vi os céus!

- Eu vi-a nua… toda nua!


Manuel Bandeira
Clavadel, 1913.

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