terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

 

Em geral as descrições utópicas de sociedades ideais , que partem de uma aspiração igualitária , descrevem e simultaneamente prescrevem uma sociedade coletivista ; que Jean Jacque s Rousseau , quando se interroga  sobre a origem das desigualdade dos homens , irrompe na famosa invectiva  contra o primeiro homem  que circundando  seu poder , declarou “Isso é meu ! “ ; que de Rousseu  retira inspiração  o movimento que deu vida à Conspiração dos Iguais , inexoravelmente contrária  a qualquer forma de  propriedade individual , que todas as sociedades de iguais  que se formara no século  passado , nas quais a própria esquerda  muitas vezes se reconheceu , consideraram a propriedade individual como uma iníqua instituição a ser abatida ; que são igualitários e coletivistas todos os partidos que nascem da matriz marxista ; que uma das primeiras medidas da revolução triunfante  no mundo dos czares  foi a abolição da propriedade individual da terra  e das empresas. A luta  pela abolição da propriedade individual , pela coletivização , ainda que não integral , dos meios de produção , sempre foi , para a esquerda , uma luta pela igualdade , pela remoção do principal obstáculo para a realização de uma sociedade de iguais . Até mesmo a prática das nacionalizações , que por um longo tempo caracterizou a política econômica dos partidos socialistas , foi conduzida em nome de um ideal igualitário, não tanto no sentido positivo de aumentar  a igualdade , mas no sentido negativo de diminuir uma fonte de desigualdade .

 

Que a discriminação entre ricos e pobres ,introduzida  e perpetuada  pela persistência do direito tido como inalienável à propriedade individual , seja considerada  a principal causa da desigualdade , não exclui o reconhecimento de outras razões de discriminação , como a discriminação entre homens e mulheres , trabalho manual e trabalho intelectual , povos superiores e povos inferiores.

 

Norberto Bobbio , 122 -123