Em geral as descrições utópicas
de sociedades ideais , que partem de uma aspiração igualitária , descrevem e
simultaneamente prescrevem uma sociedade coletivista ; que Jean Jacque s
Rousseau , quando se interroga sobre a
origem das desigualdade dos homens , irrompe na famosa invectiva contra o primeiro homem que circundando seu poder , declarou “Isso é meu ! “ ; que de
Rousseu retira inspiração o movimento que deu vida à Conspiração dos
Iguais , inexoravelmente contrária a
qualquer forma de propriedade individual
, que todas as sociedades de iguais que
se formara no século passado , nas quais
a própria esquerda muitas vezes se
reconheceu , consideraram a propriedade individual como uma iníqua instituição
a ser abatida ; que são igualitários e coletivistas todos os partidos que
nascem da matriz marxista ; que uma das primeiras medidas da revolução triunfante
no mundo dos czares foi a abolição da propriedade individual da terra e das empresas. A luta pela abolição da propriedade individual ,
pela coletivização , ainda que não integral , dos meios de produção , sempre
foi , para a esquerda , uma luta pela igualdade , pela remoção do principal
obstáculo para a realização de uma sociedade de iguais . Até mesmo a prática
das nacionalizações , que por um longo tempo caracterizou a política econômica dos
partidos socialistas , foi conduzida em nome de um ideal igualitário, não tanto
no sentido positivo de aumentar a
igualdade , mas no sentido negativo de diminuir uma fonte de desigualdade .
Que a discriminação entre ricos e
pobres ,introduzida e perpetuada pela persistência do direito tido como inalienável
à propriedade individual , seja considerada
a principal causa da desigualdade , não exclui o reconhecimento de
outras razões de discriminação , como a discriminação entre homens e mulheres ,
trabalho manual e trabalho intelectual , povos superiores e povos inferiores.
Norberto Bobbio , 122 -123