Na sociedade capitalista desencantada, onde tudo é transformado em mercadoria com preço estandardizado, onde através de mensagens subliminares, incitando ao entorpecido ouvinte ou telespectador a consumir por consumir, onde pela insistência de uma receita ‘consagrada’,
um best-seller ou uma canção que “emplacou”, e por isso tem sido tocada nas rádios de forma totalizante, sufocando a emergência de novos ritmos, por serem novos e não possuírem apelos de mercado a cultura torna-se medíocre, empobrecendo ouvires e olhares.
Tudo atende aos imperativos mercadológicos, se insere no sistema, é parte de uma ideologia a qual é impercebida por uma platéia idiotizada, que se submete a ilusão da novela, perde o referencial reflexivo de sua condição de oprimida, transformando-se em uma massa disforme de pão moldada pelo padeiro da indústria cultural.
Tal condição se manifesta ao inviabilizar movimentos,que não atendem aos imperativos de valoração mercadológica das ‘commodities’ culturais contra àqueles os quais defendem a cultura como patrimônio intangível, alma de um povo sua identidade,não de meros consumidores , mas parte da nação à qual se identificam em sua conjuntura espacial de destino,na leitura plural de suas manifestações.
É dado relevante a cooptação por parte dos mecanismos de mercado daqueles agentes contestadores do ‘status quo’ os quais são absorvidos oferecendo restrito espaço de manifestação, de visibilidade de sua mensagem, castrando e domesticando sua palavra e práxis.
Como deve ser fabricado e quem fabricará o espelho da suposta identidade, isso de fato é substantivo para a elite intelectual globalizada, da ‘world music ‘ e de maneira geral do que vem a ser’ típico’ do Brasil.
O meio transformou-se em mensagem, a arte, heméticamente apreciada pelos meios cultivados ou aquilo que explode no coração da massa na base da raça como traço de uma civilização tropical e miscigenada, pluriétnica, a qual parcela bem-nascida começa a não torcer tanto o nariz.
Quem definirá o que é cultura, o Estado ou o Mercado, construir o edifício da consciência crítica ou trangenizar cultura com entretenimento, idéia contrabandeada no riso ou dormindo em meio ao bombardeio de imagens.
A abertura para o diálogo com os sotaques e temperos brasileiros e latino-americanos, enfim o banquete onde o alimento é oferecido ou cai adicto ou ainda nossa dieta básica com o veneno da ideologia no sabor insosso de uma “junk food “.
Precisar lutar com fundas e pedras contra tanques, uma atividade artesanal contra uma indústria e fetiche que determina padrões não apenas às esfarrapadas periferias do planeta, também na Europa, impõe cotasà discriminação e sobretudo a monumental assimetria em protesto contra o “dumping” , que se valendo dos argumentos mercadológicos transnacionais precisam salvaguardar a produção local e o multi-lateralismo cultural nessa guerra por hegemonia, onde mitos e folclore ao invés de vir se amalgamar a substância local termina por anular a expressão da voz nativa.
A visibilidade da alma de um povo trazendo o reflexo da própria imagem , vínculo entre o povo e usa história seu destino comum como nação singular.
O dirigismo estatal pode levar tanto a criação de uma imagem deformada e panfletária, quanto a partir da discussão da identidade formar o nacional a partir da polifonia multi-cultural e não na moldura de um neo-realismo socialista ou a falsificação teatral fascista, mas é fundamental preparar o caldo de cultura necessário para que a massa saia do torpor diante de uma linguajem alienígena, bela mas em sua maioria plana de substância. Que o estado tome partido de seu povo e não do poder, do governo, levar ao povo a “Kultur “ livrando-o da barbárie.
A reflexão e a busca da sofisticação cognitiva a partir da ânsia por responder as inquietações que surgem a cada nova descoberta, a cada página virada do cérebro ao ler, assistir uma peça ou película;escutar a melodia nos tornam mais distantes dos cães e das amebas.
Entretenimento e relaxamento, remédio necessário mas em doses cavalares redunda em veneno.Tanta gente com AVC cognitivo por ser bombardeada do acordar ao dormir ,até quando pensamos estar nos "informamos "através dos telejornais ,estamos apenas sendo telespectadores de um 'show' de notícias editadas por interesses comerciais . Quando lemos encartes culturais o que de fato estamos diante é de uma campanha publicitária de uma editora que pertence a um grupo empresarial que detém outros veículos midiáticos.
É um dado da realidade, a palavra encarquilhada "sistema"e blá, blá,...é pedra se perpetuando.A sobrevalorização da aparência sobre a essência, para conferir uma embalagem na mensagem epidérmica é eficaz ,embora deturpe e enfraqueça o alimento do espírito(a cultura ),entendido como a "massa-cinzenta" adiposada.
A luz que se insinua entre as trevas é a opacidade intuiotiva, ou a saturação do espetáculo por parte da massa , o que se verifica no índice de vendas dos jornais e revistas , o que leva os patrocinadores e financeiras a por mais brindes em oferta.
A função do intelectual é de varrer mitos e por 'mãos à obra ' junto à sociedade ,participando das discussões candentes ,de fundo, da urbe .Cidadão.E não estar confortavelmente se encastelando, subindo ao topo da montanha para escapar do Tsunami da esfacelada e animalizada sociedade.
A revolução burguesa que desaguou no desencantamento do mundo,retirou a cultura dos palácios e catedrais da veneração dos demiurgos e dos eupatridas para o comum das gentes . O que assistimos hoje é o retorno farsesco ao escapismo opiácio espiritual contra as luzes que se mostraram em tal grau de explosões de tecnologia, claridade e drama termonuclear, que pulverizou a certeza no determinismo libertador da ciência e da relevância da cultura como patrimônio de uma Nação (Mercado?).
Nação? Cidadãos ou consumidores? Sem identidade com seu passado indiferentes ao seu futuro;gado ruminando num presente perpétuo sua ânsia por necessidades supérfluas que abarrotem sua existência de 'sem-vidas' e 'sem rostos'.
A nata está podre e pobre de conteúdo por se dobrar à mercadolatria midiocrática, cultura não é uma commoditie, a utopia reside no povo onde brota a alma da cultura .
Wilson Roberto Nogueira