domingo, 12 de dezembro de 2010

O Fim

É o fim, amigo querido,

é o fim, amigo único, o fim

dos planos que forjámos, o fim

de tudo o que era firme, o fim

sem apelo ou surpresa, o fim.

Nem mais te olharei nos olhos.

Vê se imaginas o que vai ser de nós,

limitados e libertos,

desesperadamente necessitados da mão dum estranho

num mundo desesperado?



Perdidos num romano deserto de mágoas,

com todas as crianças atacadas pela loucura,

todas as crianças atacadas pela loucura,

à espera da chuva de Verão.



É perigoso passar ao pé da cidade,

segue a direito pela estrada real.

Cenas mágicas dentro da mina de ouro;

segue pela estrada do oeste, amor.



Vai, vai a cavalo na serpente

até ao lago de antigamente.

A serpente mede sete longas milhas:

põe-te a cavalo na serpente, que é velha

e tem a pele frígida.

O Oeste é óptimo, óptimo é o Oeste,

vem até cá, nós faremos o resto.

O autocarro azul chama por nós,

o autocarro azul chama por nós.

Aonde nos leva, senhor condutor?



O assassino acordou antes da aurora,

calçou as botas,

retirou uma cara da galeria antiga,

e seguiu pelo átrio adiante.

Foi até ao quarto onde a irmã vivia,

foi seguidamente visitar o irmão,

e dali seguiu pelo átrio fora.

E chegou a uma porta

e olhou lá para dentro.

-Pai!

-Sim, meu filho?

- Eu quero matar-te.

Mãe eu quero que...





Entra, fica connosco, tenta uma vez mais, filho,

entra, fica connosco, tenta uma vez mais, filho,

entra, fica connosco, tenta uma vez mais, filho,

opera-me nas traseiras do autocarro azul...





É o fim, amigo querido,

é o fim, amigo único, o fim.

Custa-me deixar-te, mas

nunca irás pra onde eu for.

O fim da risada e das doces mentiras,

o fim das noites em que fizemos por morrer,

é o fim.







Jim Morrison. Uma Oração Americana e outros escritos. Assírio & Alvim, Lisboa., pp.23/5

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