domingo, 12 de dezembro de 2010

A Celebração do Lagarto

Leões na rua, vadios

Cães babando raiva e cio

Fera enjaulada dentro da cidade

O corpo da mãe

A apodrecer no asfalto do Verão.

Ele fugiu da cidade.



Desceu para Sul e passou a fronteira

Deixou o caos e a desordem

Tudo para trás das costas.



Acordou um dia numa pensão verde

Com um estranho ser rosnando ao seu lado.

O suor encharcava-lhe a pele luzidia.



Já está toda a gente?

Vamos dar início ao cerimonial.





Desperta!

Não te lembras de onde foi?

O tal sonho terminou?



A serpente era de ouro baço

Vítrea & enroscada.

Receávamos tocar-lhe.

Os lençóis eram prisões mortalmente abafadas

& ela sempre à minha beira.

Velha não era...jovem

De cabelo ruivo escuro

A pele branca e macia.

Corre prà casa de banho e vê-te

ao espelho!



Aí vem ela a entrar

Cada gesto dela é um século lento que eu não sei viver.

Deixo-me cair e encosto a cara

Ao cimento gelado.

Sinto a fria doçura do sangue a espicaçar-me,

O brando assobio das serpentes da chuva...



Brinquei em tempos a um jogo

Gostava de regressar rastejando mentalmente

Deves saber de que jogo se trata

É o jogo chamado «fazer de maluco»



Devias tentar brincar a esse jogo

Fechas os olhos esqueces o nome

Esqueces o mundo, esqueces toda a gente

E ambos erguemos uma torre diferente.



(...)





Jim Morrison. Uma Oração Americana e outros escritos. Assírio & Alvim, Lisboa., pp. 89-91

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