domingo, 12 de dezembro de 2010

Hölderlin



Detença, mesmo com as coisas mais íntimas,

não nos é dada; das imagens

cumpridas o espírito arroja-se repentino de mais para as que se



[querem cumprir; lagos

há-os só no eterno. Aqui, é a queda

o mais próprio. Do sentimento sabido

precipitar-nos para baixo para o pressentido, mais além.



A ti, ó magnífico Invocador, a ti toda uma vida

te foi dada a instante imagem, e, quando a exprimias,

o verso fechava-se como um destino, havia uma morte

mesmo no mais suave, e tu entravas nela; mas o deus

que ia à tua frente guiava-te para lá, pra fora dela.



Ó tu espírito errante, o mais errante! Como elas todas

moram no poema quente, agasalhadas, e ficam

longamente na comparação estreita. Partícipes. Só tu

vagueias como a Lua. E em baixo aclara-se e escurece

a tua paisagem nocturna, santamente assustada,

que tu sentes em despedidas. Ninguém

a deu mais sublimemente, a restituiu ao Todo

mais inteira, menos pobre. Assim também

brincaste teu jogo santo por anos já não contados

com a infinita ventura, como se ela não fosse interior, mas jazesse

por aí, pertença de ninguém, na macia

relva da Terra, abandonada por crianças divinas.

Ai, o por que os Altíssimos anseiam, puseste-o tu, sem desejo,

pedra sobre pedra: e ficou. Mas mesmo a sua queda

te não perturbaria.



Se um tal, eterno, houve um dia, porque é que nós

desconfiamos ainda do terrestre? em vez de no transitório

seriamente aprender os sentimentos de qualquer

inclinação, futura no espaço?



(Irschenhausen, Setembro de 1914)





Rainer Maria Rilke





in Friedrich Hölderlin. Poemas. Prefácio, Selecção e trad. Paulo Quintela. Relógio D' Água, Lisboa, 1991, p. 9

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