domingo, 2 de agosto de 2015

Eu não vejo programas de TV que tenham sofás, onde convidados sem nada a dizer revelam detalhes afetivos e sexuais de suas vidas vazias e desinteressantes. Eu também não vejo programas que tenham legendinhas na parte de baixo do vídeo. Muito menos programas pseudo-jornalísticos com apresentadores que posam de indignados enquanto andam de um lado para o outro no estúdio. Principalmente apresentadores que fazem a apologia irresponsável da violência e da repressão policial sem medida. Eu não vejo novelas com tramas repetitivas e inverossímeis, com elenco sofrível e enredo condicionado ao gosto da audiência majoritária.

Eu não ouço programas de rádio AM com mensagens endereçadas a "você, minha amiga dona de casa". Assim como eu também não ouço duplas sertanejas a cantarem, em voz de falsete, desilusões amorosas ou as maravilhas das festas de peão, onde se maltratam os animais e os ouvidos dos freqüentadores. Eu não ouço grupelhos adolescentes a cantar débeis paródias de samba, de letras óbvias e tom meloso, com mais teclados que cavaquinhos. E não ouço música gospel.

Eu não falo nada sobre a vida de atrizes-modelos-cantoras-apresentadoras saídas do Big Brother. Eu não falo que a bandidagem está tendo vida mansa e que a maioridade penal deveria baixar, assim como eu também não falo que tudo era melhor no tempo dos militares. Eu também não falo que político é tudo a mesma merda, e nem que o povo é bobo enquanto estou na fila do banco, sem fazer nada além de reclamar. E eu não falo da vida alheia.


Longe de constituir algum problema de saúde, tudo o que eu não falo, não vejo e não ouço comprova e mantém minha sanidade mental. Nem sempre o melhor cego é o que não quer ver.

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