Eu não vejo programas de TV que tenham sofás, onde
convidados sem nada a dizer revelam detalhes afetivos e sexuais de suas vidas
vazias e desinteressantes. Eu também não vejo programas que tenham legendinhas
na parte de baixo do vídeo. Muito menos programas pseudo-jornalísticos com
apresentadores que posam de indignados enquanto andam de um lado para o outro
no estúdio. Principalmente apresentadores que fazem a apologia irresponsável da
violência e da repressão policial sem medida. Eu não vejo novelas com tramas
repetitivas e inverossímeis, com elenco sofrível e enredo condicionado ao gosto
da audiência majoritária.
Eu não ouço programas de rádio AM com mensagens endereçadas
a "você, minha amiga dona de casa". Assim como eu também não ouço
duplas sertanejas a cantarem, em voz de falsete, desilusões amorosas ou as
maravilhas das festas de peão, onde se maltratam os animais e os ouvidos dos
freqüentadores. Eu não ouço grupelhos adolescentes a cantar débeis paródias de
samba, de letras óbvias e tom meloso, com mais teclados que cavaquinhos. E não
ouço música gospel.
Eu não falo nada sobre a vida de
atrizes-modelos-cantoras-apresentadoras saídas do Big Brother. Eu não falo que
a bandidagem está tendo vida mansa e que a maioridade penal deveria baixar,
assim como eu também não falo que tudo era melhor no tempo dos militares. Eu
também não falo que político é tudo a mesma merda, e nem que o povo é bobo
enquanto estou na fila do banco, sem fazer nada além de reclamar. E eu não falo
da vida alheia.
Longe de constituir algum problema de saúde, tudo o que eu
não falo, não vejo e não ouço comprova e mantém minha sanidade mental. Nem
sempre o melhor cego é o que não quer ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário