No dia 17 de junho de 1953, quatro anos após sua criação, a
República Democrática Alemã estava à beira do colapso econômico, o que levou a
violentos confrontos entre a população e o poder estatal.
Manifestantes jogam pedras contra tanque soviético em Berlim
Oriental
Oito anos após o final da Segunda Guerra Mundial, a então
República Democrática Alemã (RDA) ainda enfrentava graves problemas econômicos.
Enquanto a Alemanha Ocidental era reconstruída com a ajuda dos Aliados
ocidentais, o Alemanha Oriental, controlada pelos soviéticos, sucumbia sob uma
grave crise de abastecimento.
Um ano antes, o secretário-geral do Partido Socialista
Unitário (SED), Walter Ulbricht, havia anunciado a "construção planejada
do socialismo" segundo o modelo soviético. Os pesados pagamentos de
reparações de guerra e o estímulo à indústria pesada causaram uma crise de
abastecimento, agravando a escassez de gêneros básicos como manteiga, carne,
frutas e verduras, que só podiam ser adquiridos através de senhas de
racionamento.
Evasão de cidadãos
O florescimento econômico da Alemanha Ocidental e a
insatisfação com os rumos políticos no Leste alemão levaram muitos a voltarem
as costas à RDA. Em 1952, 180 mil pessoas haviam deixado o país. No primeiro
semestre de 1953, foram 226 mil.
Mesmo assim, o governo de Berlim Oriental não mudou o curso
político e econômico. Em abril de 1953, ovos, carne e doces tiveram seus preços
aumentados. O apogeu deste desrespeito aos cidadãos alemães-orientais aconteceu
em maio de 1953, com a imposição ao trabalhador de produzir 10% a mais na mesma
carga horária.
Novas lideranças – nova política
A morte do ditador soviético Josef Stalin em março de 1953
levou à insegurança e lutas pelo poder entre os líderes de vários países da
Europa Oriental.
Otto Grotewohl
O próprio chefe de governo alemão-oriental na época, Otto
Grotewohl, havia reconhecido a situação de seu país ao criticar que
"quando pessoas se distanciam de nós, se além da brecha estatal e econômica
também são dilaceradas as relações humanas entre os alemães, então esta
política está errada".
Para atrair de volta os agricultores, comerciantes e
trabalhadores que haviam emigrado para a Alemanha Ocidental, foi-lhes acenado
com a possibilidade de devolução das propriedades.
A Justiça, cujas sentenças arbitrárias haviam levado à
duplicação da população carcerária no período de um ano, seria encarregada de
revisar suas decisões. Até mesmo com a Igreja os responsáveis pelo governo
pretendiam entrar em acordo. Só o aumento salarial continuou tabu, o que foi
interpretado como provocação pelos trabalhadores, que responderam com
protestos.
Protestos pararam a Alemanha Oriental
Diante do prédio do governo em Berlim, no dia 16 de junho,
os trabalhadores da construção civil convocaram uma greve geral para o dia
seguinte. O apelo foi divulgado dentro da Alemanha Oriental e no estado
vizinho, através da imprensa.
Manifestantes marcham através do Portão de Brandemburgo
O clima era de euforia, o regime já era visto como
derrotado. Em alguns locais, os insurgentes chegaram a tomar o poder. Mais de
um milhão de pessoas participaram de manifestações e greves em 700 cidades e
comunidades da RDA.
A revolta por melhores salários transformou-se rapidamente
em um levante pela liberdade, democracia e unidade da Alemanha. Em faixas e
cartazes, os manifestantes reivindicavam melhores condições de vida, a renúncia
do governo da RDA, eleições livres e a reunificação do país.
A chegada dos tanques
A liderança política da RDA já havia perdido o controle
sobre a situação quando a força de ocupação soviética declarou estado de
emergência. Tanques militares invadiram o principal ponto de concentração de
manifestantes, na praça Potsdamer Platz, em Berlim.
Os acontecimentos foram narrados ao vivo pelos repórteres
que acompanharam as dramáticas cenas de 17 de junho de 1953. A violência
militar reprimiu o levante dos alemães-orientais, deixando um saldo de centenas
de mortos e feridos. Cerca de dez mil manifestantes e membros do comitê de
greve foram detidos. Mais de 1.600 participantes do levante cumpriram, em
parte, longas penas de prisão.
Algumas semanas depois, o Bundestag (câmara baixa do
Parlamento da República Federal da Alemanha) proclamou o dia 17 de junho como
Dia da Unidade Alemã. Após a reunificação, em 1990, este feriado passou a ser
comemorado em 3 de outubro.
Em busca de insurgentes
Para evitar futuras rebeliões e detectar eventuais
insurgentes, a então Alemanha Oriental ampliou as competências de seu serviço
secreto (Stasi), que passou a vigiar a vida dos alemães-orientais.
Demoraria 36 anos para que a população voltasse a reunir
forças para se rebelar contra o regime. Desta vez, em 9 de novembro de 1989,
derrubaria o Muro de Berlim. A diferença em relação a 1953 é que o poder em
Moscou estava nas mãos do reformista Mikhail Gorbachov, que preferiu deixar os
tanques nas casernas.
Com o fim da RDA, começou a derrocada do bloco socialista da
Europa oriental, culminando com a dissolução da União Soviética.
Crônica dos acontecimentos de 17 de junho de 1953
Autoria Marcel Fürstenau (rw)
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