"A relação entre os intelectuais e o mundo da produção
não é imediata, como ocorre no caso dos grupos sociais fundamentais, mas é
'mediatizada', em diversos graus, por todo o tecido social, pelo conjunto das
superestruturas, do qual os intelectuais são precisamente os 'funcionários'.
Seria possível medir a 'organicidade' dos diversos estratos intelectuais sua
conexão mais ou menos estreita com um grupo social fundamental, fixando uma
gradação das funções das superestruturas de baixo para cima (da base estrutural
para o alto). Por enquanto, podem-se fixar dois grandes 'planos'
superestruturais: o que pode ser chamado de 'sociedade civil' ( isto é, o
conjunto de organismos designados vulgarmente como 'privados') e o da
'sociedade política ou Estado', planos que correspondem, respectivamente, à
função de 'hegemonia' que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela
de 'domínio direto' ou de comando, que se expressa no Estado e no governo
'jurídico'. Estas funções são precisamente organizativas e conectivas. Os
intelectuais são os 'prepostos' do grupo dominante para o exercício das funções
subalternas da hegemonia social e do governo político, isto é:
1) do consenso 'espontâneo' dado pelas grandes massas da
população à orientação impressa pelo grupo fundamental dominante à vida social,
consenso que nasce 'historicamente' do prestígio (e, portanto, da confiança)
obtida pelo grupo dominante por causa de sua posição e de sua função no mundo
da produção;
2) do aparelho de coerção estatal que assegura 'legalmente'
a disciplina dos grupos que não 'consentem", nem ativa nem passivamente,
mas que é constituído para toda a sociedade na previsão dos momentos de crise
no comando e na direção, nos quais desaparece o consenso espontâneo.
Esta colocação do problema tem como resultado uma ampliação
muito grande do conceito de intelectual, mas só assim se torna possível chegar
a uma aproximação concreta à realidade."
Antonio Gramsci. Caderno 12. In: Cadernos do cárcere.
Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2000. v. 2. p.20-21.
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