Publicado em Sexta, 19 Agosto 2016 15:20
Marcio Pochmann*
A cantilena da redução dos direitos voltou a ser entoada,
sob o coro dos patrões.
A terceirização e a “simplificação” trabalhista apontam para
a uberização das relações de trabalho no Brasil.
Desde a transição da sociedade agrária para a urbana e
industrial, iniciada na década de 1930, aos dias de hoje, o Brasil conheceu
quatro distintas recessões econômicas, com impactos decisivos sobre os direitos
sociais e trabalhistas.
De todas, constata-se que em duas delas houve o sentido
geral de reação organizada da sociedade que permitiu a ampliação dos direitos
da classe trabalhadora, enquanto em apenas uma percebeu-se o retrocesso.
Na atual recessão, os direitos sociais e trabalhistas
voltaram a ser ameaçados, exigindo resposta firme e consistente do conjunto dos
trabalhadores.
Na grande recessão do início da década de 1930, por exemplo,
o envolvimento dos trabalhadores se mostrou fundamental para a difusão de uma
diversificada e heterogênea legislação social e trabalhista.
Com isso, somente no ano de 1943, com a implementação da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), os trabalhadores urbanos passaram a
deter inéditos direitos sociais e trabalhistas.
Na sequência, a grave recessão do início dos anos de 1980
descortinou uma nova etapa de lutas dos trabalhadores voltada para a proteção
das ocupações, bem como a redução da jornada de trabalho, entre outras
reivindicações.
O resultado disso foi a aprovação pela Constituição Federal
de 1988 do novo patamar dos direitos sociais e trabalhistas.
Dois anos depois, contudo, a recessão do início da década de
1990 implicou retrocesso aos direitos da classe trabalhadora. Com a adoção do
receituário neoliberal, o objetivo de enfraquecer o mundo do trabalho foi
alcançado, mostrando-se fundamental para evitar a reação organizada da
sociedade ao rebaixamento das condições e relações de trabalho.
Desde o ano de 2015 que o Brasil convive com a quarta
recessão econômica, cujos efeitos têm sido a ampliação do sofrimento humano,
sobretudo dos trabalhadores que passaram a ter rendimento menor e ocupações a
menos. O desemprego generalizado e a pobreza crescente apontam para direção
inversa à verificada nos anos 2000.
Tal como nos governos neoliberais durante os anos de 1990, a
velha cantilena da redução dos direitos sociais e trabalhistas voltou a ser
entoada pelo governo sob o coro dos patrões. Não apenas a nova lei da
terceirização, como a simplificação trabalhista propostas apontam para a
uberização das relações de trabalho no Brasil.
O propósito atual de enxugar os direitos sociais e
trabalhistas assenta-se na ideia de que quanto menor o custo de contratação do
trabalho pelo empregador, maior a possibilidade de elevar a competitividade da
empresa, permitindo, na sequência, elevar o nível de emprego. Mas ao mesmo
tempo em que o emprego da mão de obra é custo para o patrão, também é o
rendimento para os ocupados.
Com menor rendimento e maior flexibilidade contratual, os
trabalhadores consomem menos ainda, fazendo contrair, em consequência, o
consumo. E, por sua vez, a provocação da queda da demanda na economia como um
todo, fazendo aumentar o desemprego da força de trabalho. Retrocesso em cima de
retrocessos.
(*) Economista, ex-presidente do Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA). Artigo publicado originalmente na Rede Brasil
Atual em 13/08/2016.
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