Leonardo Sakamoto
"Tá com dó? Leva para casa!" é uma daquelas frases
icônicas, através das quais consegue-se avaliar se o interlocutor merece
respeito ou um abraço forte e solidário. É utilizada por pessoas com síndrome
de pombo-enxadrista (faz sujeira no tabuleiro, joga ignorando regras mínimas de
sociabilidade e sai voando, cantando vitória), normalmente diante do clamor
para políticas voltadas àquela gente pobre, parda, perdida ou violada que
habita as frestas das grandes cidades.
É só falar da necessidade de políticas específicas que
garantam qualidade de vida para esse pessoal mas, ao mesmo tempo, respeitem seu
direito de ir e vir e ocupar o espaço público que o povo vira bicho. Ou melhor,
vira pombo.
Este tema não é novo por aqui, mas vi que a frase passou a
ser usada diante da última crise de refugiados na Europa. Gente empregando-a
para negar a necessidade de acolher refugiados, não só da Síria, mas da Ásia,
África e América Latina. "Querem trazer mais deles para o Brasil?
Coloque-os na sua casa!"
Tanto na Europa quanto por aqui, ações individuais ajudam a
mitigar o impacto inicial dos refugiados, garantindo apoio a quem perdeu tudo.
E é ótimo que seja assim. Mas eles devem ser alvo, principalmente, de uma
política pública, com intervenção direta do Estado, única instituição com
tamanho e legitimidade para garantir uma ação nacional, transnacional e de
escala. Porque isso também inclui a garantia da autonomia econômica e social às
famílias. Quem acha que o Estado é um simples entrave e não a forma que
construímos para impedir que nos devoremos, tem dificuldade de entender que o
acolhimento de refugiados e migrantes não é caridade individual, mas sim a
efetivação de compromissos assumidos internacionalmente por um povo.
(Mais no blog do Sakamoto )
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