" Imaginação e religião entronizada são antitéticas. O
dogma, cerne das
grandes religiões monoteístas, nada mais é que uma diligente
e metódica rejeição à curiosidade, autonomia e inventividade. É nesta relação
assimétrica entre aquele que ignora, teme e suplica, e o Outro que tudo sabe e
tudo dispensa que reside o poder das Igrejas".
"Se tomarmos imaginação em sua acepção primeira, ela é
quase o mesmo
que poesia: aquele modo de pensar e exprimir dúbio, sinuoso
e plástico, linguagem elíptica e larga, na qual hesitações, contrastes e
incoerências, o chiaroscuro dos obrigatórios oxímoros, enfim, são virtudes
cardeais. A imaginação não teme o exagero nem o ambíguo, vagueia no fluxo contínuo
e contraditório de ideias e humores, e é seu empenho fazer emergir o
inesperado: numa palavra, cabe à imaginação dar vida ao sujeito. O sujeito
ímpar, imprevisível e assertivo em sua incorrigível unicidade. Se a imaginação
corteja o universal, é porque se nutre do absolutamente individual. Ela é
inseparável do singular, do irrepetível, do novo,
da criatura se afirmando e se recriando, condensando seu
potencial e cintilando, inconfundível. Desta perspectiva, qualquer exercício de
imaginação, por tímido que seja, será sempre um insulto às religiões".
(Marília Pacheco FIORILLO)
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