sábado, 11 de janeiro de 2014

Política Cultural

Marilia Kubota
Apesar dos esforços do Ademir Demarchi em fazer um amplo mapeamento da poesia no Paraná, publicar o resultado da investigação num jornal como o "Cândido" não está com nada. Nem antologia patrocinada pela BPPR, com fins marqueteiros. Em privado escrevi ao Ademir, não concordo com esse marketing patrocinado pelo estado. Ah, literatura e poder. Já vimos esse filme em Curitiba, com a Travessa dos Editores. Mas aqui, ter amnésia cultural é estratégico.

Jorginho da Hora Ver "artistas" e produtores culturais (hoje qualquer coisa é cultura e arte) chamando arte de produto como já vi na televisão e em jornais é melancólico. Para esses zé ruelas tudo isso que você escreveu aí é bobagem, não faz sentido algum. A única coisa que faz sentido para esses mercenários é a palavra estourar e sucesso, sendo que se sucesso é isso que eles imaginam, o traficante também é um homem bem sucedido, e daí ?

Mario Domingues Marilia Kubota, vou de moderado nesta questão... a iniciativa do mapeamento é da BPP, para a qual chamou o Ademir Demarchi... concordo com a má qualidade do Candido, na mesma linha rasteira do Rascunho (abordagens sempre calcadas em "mensagem" e significado" como se fosse possível fazer arte com espuma ou fumaça, e destaque editorial para os compadres, polemicas com grandes poetas, só pra chamar a atenção, etc). Mas discordo do fim marketeiro da iniciativa, porque poesia não traz cartaz pra ninguém no mundo em que a gente vive. Outra coisa: o produto é uma antologia, este é o resultado mais concreto. Topei participar porque respeito o crivo crítico do Demarchi, que não trabalha na linha dos compadrios... Longe de mim defender a a direção da bbltk, mas... ninguém consegue ser medíocre sempre, o tempo todo... até pouco tempo atrás estes meninos nem sabiam o que era poesia. Até a Gazeta do Povo, que escreve pra uma província tão minúscula que me recuso a chamar de Curitiba, até a Gazeta já anda publicando poesia, então, este mundo nem sempre é raso e rasteiro o tempo todo. 

Ademir Demarchi respeito as opiniões pessoais e as admiro, como a postura crítica da Marilia, que tentei convencer em participar da antologia, inutilmente, pois ela foi firme em sua decisão de não participar. No entanto, no que me diz respeito esse assunto, em primeiro lugar devo dizer que, embora procurando participar ativamente da cultura do Estado (entre antologias, ensaios e resenhas e revistas, escrevo há mais de 5 anos num jornal em Maringá) resido fora, muito longe daí da província, portanto alheio às questões locais que, sei, são figadais, sempre, e não me interessaram para decidir fazer o trabalho. Recebi um convite da instituição Biblioteca Pública do PR, que está acima das pessoas que possam eventualmente administrá-las, é uma instituição pública, tive total liberdade para fazer um trabalho que julgo sério, de pesquisa e de seleção e análise, no qual em nada teve interferência de qualquer pessoa. Os livros é que falam por si, no que há neles, não no que fazem deles. Antes de terem lido o trabalho que fiz, sequer o ensaio que escrevi já o estão tachando de "produto" me colocando na bacia de zé ruelas... Ora, zé ruela é o que não lê... Creio que o melhor a fazer é abandonar essa leitura desfocada e discutirem o conteúdo, o ensaio que escrevi e as questões que lá coloquei, bem como a antologia que sairá. A discussão está aí, e não nesse panfletarismo que somente seria aceitável se meu trabalho fosse o tal produto esvaziado que o Fora de Hora aí comenta sem ter lido... Além disso, no que diz respeito à instituição pública, cabe a ela realizar ações educativas e nesse quesito, no que diz respeito à antologia e ao ensaio e poemas publicados no Candido, não vejo marketing,mas o cumprimento dessa função, uma vez que os trabalhos falam por si - a antologia será distribuída em todas as bibliotecas publicas do Estado. E com isso não estou defendendo governo nenhum. Vejam a coleção Brasil Diferente feita no governo Lerner - ele se foi, mas o trabalho realizado pelo Miguel Sanches Neto está aí ainda ecoando para quem lê. Há que se fazer essas distinções e não confundir tanto as coisas. Estou preocupado com a formação de novos leitores, com a circulação da cultura do Estado (especialmente da poesia), que vai se disseminar com trabalhos como esse que tem um valor acima de questões políticas (que não devem ser menosprezadas, afinal isso também está no meu trabalho, não de forma partidarizada).

Marilia Kubota Tem razão, Jorginho, estamos na época de pleno vapor do marketing cultural. Para que possa sobreviver, a cultura está enquadrada em editais. Todos nós , artistas, nos últimos anos, corremos atrás de editais para poder sobreviver de nosso trabalho. Mas há quem se desvie dos editais e, por ser amigo do rei, tenha privilégios. Conhecemos esses casos aqui em Curitiba.

Mario Domingues o resultado, a culminância, o objetivo, o suporte, Ademir, é a antologia...todas palavras melhores que produto, palavra bastante judiada, que empreguei mal neste contexto. Abraço e parabéns pelo trabalho.

Ademir Demarchi Prezada Marilia, ainda que talvez (espero) não queira, sua afirmação, tal como está, deixa sugerido, já que o motivo originário dos comentários é o trabalho que fiz para a BP, que me enquadro nos que desviam dos editais, são amigos do rei, tem privilégios - por isso, já que você generaliza não fazendo a devida ressalva, digo que fui convidado a fazer um trabalho sobre poesia em nome da minha experiência (ou notório saber, como se diz no jargão legal para explicar por que às vezes não se faz licitação para elaborar um trabalho) que ela sim me autoriza a fazer isso, acima de todas essas questiúnculas, uma vez que, só para ficar no último trabalho, editei 6 números da Babel Poética, resultado de um projeto premiado em primeiro lugar entre 170 outros - nacionalmente - pelo MinC, por uma comissão composta por críticos e professores de universidades federais acima de qualquer suspeita. Indo por esse caminho anulatório do trabalho realizado daqui a pouco estarei sendo chamado de Leni Riefenstahl, ilustre colaboracionista do regime nazista... Ora, ora, ora, ocorre que estamos num espaço democrático, as instituições existem e falam mais alto que os que as ocupam eventualmente, instituições essas construídas graças ao esforço coletivo e das quais devemos exigir que tenham ações positivas como essas de publicar livros, publicar editais. Cordialmente, vou ler poesia. Abraço

Marilia Kubota Mário, um jornal patrocinado por uma Secretaria da Cultura não tem uma linha editorial totalmente isenta. Nem o Nicolau, que nasceu com uma concepção muito mais libertária tinha, sofria imposições na pauta. O "Cândido", com certeza, funciona para pagar dívidas de campanha eleitoral. É "obrigado" a trazer artigos sobre escritores do Paraná por ser patrocinado pelo governo do Paraná. Por isso encomenda pautas a gente que tem aval, como Ademir Demarchi, ou, se serve de nomes dos autores do Paraná, como Valencio Xavier. São duas publicações distintas, o "Candido", cujo co-editor é o diretor da Biblioteca Pública do Paraná e o "Rascunho", cujo editor é o empresário Rogério Pereira. Engraçado por tudo estar concentrado numa mesma pessoa, uma publicação, que cresceu espicaçando os poetas do Brasil se confunde com outra, que precisa tanto dos poetas como dos escritores do Paraná para ter legitimidade. Creio que o conluio entre o público e o privado confunde a todo mundo, e aí não se sabe o quanto um favorece o outro. A minha crítica em relação à atual gestão da Biblioteca Pública do Paraná sempre foi essa. Se isso não é mediocridade cultural , não sei o que é.

Marilia Kubota Ademir, em primeiro lugar: em termos de literatura, não há províncias. Há, sim, atitudes provincianas. Contesto a quem diga que Curitiba é uma província cultural, se há grandes escritores que nasceram aqui. Dalton nasceu aqui e se correspondia com os maiores escritores do Brasil, e lia literatura russa e alemã. Portanto, não é preciso morar em Nova Iorque para ser cosmopolita. Mas há os que dizem, em todos os lugares em que vão: "Curitiba é uma merda". E acham que a partir deles é que começaram as luzes na cidade. Esses provincianos, que ignoram a história da cidade, do Estado, do país e do mundo é que precisam do poder para se assegurar de suas virtudes nulas. O seu trabalho, Ademir, tenho, certeza, é muito profissional, como já foi a antologia "Passagens". Mas eu não tenho o mesmo ponto de vista em relação a "relações figadais". É muito mais do que divergências pessoais, se trata de postura política. Ou você aceita uma política cultural ou não. Em relação ao mapeamento, sei que listou muita gente boa e competente. Prefiro comentar quando ler a matéria impressa.

Marilia Kubota Ademir, o "amigo do rei" é outro...
Rogéria Reis Existe um plano nacional de cultura que o Estado busca cumprir. Assisti a uma palestra de uma representante do Minc em que afirmou a existência de verba para a cultura. A burocracia e complexidade dos editais deixa de fora os artistas populares e estes realizam uma arte independente com todas as dificuldades que todos já conhecemos.

Ademir Demarchi Marília, será um prazer ler suas críticas tanto ao ensaio do Candido quanto à antologia, se isso te motivar. Como disse antes, respeito e admiro sua opinião e meus comentários aqui são posturais, nada pessoais. abraço

Marilia Kubota Rogéria, as políticas culturais são determinadas por cada administração, de acordo com seu perfil. Do MinC vem a política dos editais , em que o Estado não pode mais criar projetos com recursos próprios. O jornal Nicolau, por exemplo, foi patrocinado pela Secretaria do Estado do Paraná, nos anos 90, não era projeto de lei de incentivo. Até a gestão anterior (Requião) havia projetos diretamente administrados pela Secretaria da Cultura que não eram terceirizados. Um artista poderia fazer uma reunião com o Secretario da Cultural e propor um projeto . Hoje isso não é mais possível, só os que são muito amigos conseguem reunião e aprovação de projetos fora das leis de incentivo.

Rogéria Reis Temos observado um movimento no campo da poesia.Digo movimento, pois tem se expandido a cada dia. Um movimento que se iniciou nas periferias de SP.Os rappers tem grande contribuição nisso.São coletivos de poesia por todo lado, com microfone aberto.Fora os grupos nas redes sociais. Uma febre que tem atraído a mídia. João do corujão, um grande incentivador da leitura e da poesia com seu coletivo "Corujão da poesia", ganhou destaque na mídia e já conta com apoio de artistas.
Penso que poesia já é economicamente viável sim até pelo recente interesse editorial. Vejam que Leminsnki vendeu horrores.
Aqui no RJ carioca que não é bobo nem nada já mapeou os coletivos de poesia e incluiu no circuito cultural.

Rogéria Reis E já lançou o movimento Rio capital da poesia, baseado no princípio da economia criativa, cidade criativa coisa e tal. É uma corrida do ouro. Diante disso é necessário que as cidades, regiões, seja lá o que for elejam seus nomes no cenário poético e invistam nesses nomes. Me parece que foi isso que a biblioteca pública tentou fazer e nisso vocês saíram na frente.

Rogéria Reis Achei interessante o Ademir Demarchi, ter esse cuidado de incluir na lista, os poetas que sempre acreditaram na poesia. Pensem que grande parte dos poetas mais expressivos não estão entre nós.Precisamos de um sociedade de poetas mortos mas também de vivos. Quanto as instituições? Cumprem seu papel positivista de legitimar.

Marilia Kubota Bem, sempre houve movimento na poesia, a questão é que agora há um maior interesse da classe média na poesia. Quando eu comecei, os conceitos de poesia e marginalidade andavam juntos. Não existiam saraus de poesia, as declamações eram feitas nos bares, como no Bar do Cardoso e no Trem Azul, e improvisadas, sem luzes e microfones. Hoje, para falar em público é preciso que tudo seja produzido. No recital "Cutucando a inspiração", em que participei, vi que para poetas como Baptista do Pilar e Altair de Oliveira, e próprio Geraldo Magela, falar um poema em público é algo muito natural. Gostaria de ter o dom desses poetas. Aliás, Magela foi outro que parece ter ficado fora do mapeamento do Ademir, e também Monica Berger, Eudes Berger...

Rogéria Reis Não que não houvesse mas era mais focal.Hoje o movimento é mais propagado até por conta das redes sociais e busca uma unificação. Não sei aí em Curitiba mas a poesia no RJ está com força total nas periferias e chegando nas escolas públicas. Em São Paulo também. Já temos festas literárias nas periferias e favelas.

Rogéria Reis Veja que dias atrás o Roberto Prado foi em um evento em Natal, onde o Marcos Prado foi homenageado. Achei interessante essa iniciativa e essa interação. E quanto a poesia marginal, o movimento não envolvia as donas de casa, por exemplo. Hoje, elas tiram seus caderninhos da gaveta e vão embora. Lindo de ver e muito emocionante também. Mulheres das favelas que perderam seus filhos na guerra do narcotráfico, encontraram na poesia uma forma de expressão.

E por aí vai.

Nenhum comentário: