No Rio de Janeiro, somando os ausentes com os votos nulos e
brancos, quase 40% dos eleitores abriram caminho para a vitória de Crivella.
Sem mencionar o perfil assustador da Câmara de Vereadores. O Rio de Janeiro é
uma distopia em movimento. 2016 tem sido um ano dos mais sombrios de que tenho
memória. E olha que nasci no primeiro ano da ditadura. Em 1965. Familiares e
pessoas muito próximas foram exiladas. Torturadas. Assassinadas. A homofobia
levou meu talentoso tio-irmão. Mas hoje sinto o peso da volta de algo que já
imaginava pertencer ao passado longínquo. Doce inocência. Quanta ingenuidade.
Fascistas proliferam por todos os lados. Os que lutam por um mundo melhor são
acusados de arrogantes, até pelos seus pares. Mundo estranho. A intolerância
reina soberana. Hoje a democracia e o Estado de direito não passam de
formalismo retórico. Mas estamos todos imobilizados discutindo filigranas
ideológicas enquanto o Brasil é tomado de assalto pelas elites de ocasião. Com
nossa falta de reação, deixamos que se destruísse rapidamente um país. Todas as
redes de proteção social estão sendo desmanteladas. Princípios mínimos de
dignidade e cidadania já não fazem mais parte do nosso cotidiano. Capitulamos.
E nos tornamos meros destroços humanos. Despojos descartáveis para o banquete
voraz dos devoradores da vez: Temers, Dórias, Grecas, Marchezans, Moros,
Moraes, Serras, Aécios e Crivellas. Até Donald Trump nos assombra. A lista é
sem fim. A dor é imensa. Faço uma pausa. O amanhã escurece. A tarde se esquece.
A noite é tão longe. Outro mês se aproxima. Não me lembro dos últimos
novembros. Quantos sóis delicados, céus azulados? Quantas nuvens aflitas,
chuvas amargas? Sinto falta de novos setembros... Ah, se eu pudesse apagar
todos os dezembros! Por hora, meus inimigos venceram. Os restos de mim pedem
descanso.
Ulysses ferraz
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