domingo, 30 de outubro de 2016

No Rio de Janeiro, somando os ausentes com os votos nulos e brancos, quase 40% dos eleitores abriram caminho para a vitória de Crivella. Sem mencionar o perfil assustador da Câmara de Vereadores. O Rio de Janeiro é uma distopia em movimento. 2016 tem sido um ano dos mais sombrios de que tenho memória. E olha que nasci no primeiro ano da ditadura. Em 1965. Familiares e pessoas muito próximas foram exiladas. Torturadas. Assassinadas. A homofobia levou meu talentoso tio-irmão. Mas hoje sinto o peso da volta de algo que já imaginava pertencer ao passado longínquo. Doce inocência. Quanta ingenuidade. Fascistas proliferam por todos os lados. Os que lutam por um mundo melhor são acusados de arrogantes, até pelos seus pares. Mundo estranho. A intolerância reina soberana. Hoje a democracia e o Estado de direito não passam de formalismo retórico. Mas estamos todos imobilizados discutindo filigranas ideológicas enquanto o Brasil é tomado de assalto pelas elites de ocasião. Com nossa falta de reação, deixamos que se destruísse rapidamente um país. Todas as redes de proteção social estão sendo desmanteladas. Princípios mínimos de dignidade e cidadania já não fazem mais parte do nosso cotidiano. Capitulamos. E nos tornamos meros destroços humanos. Despojos descartáveis para o banquete voraz dos devoradores da vez: Temers, Dórias, Grecas, Marchezans, Moros, Moraes, Serras, Aécios e Crivellas. Até Donald Trump nos assombra. A lista é sem fim. A dor é imensa. Faço uma pausa. O amanhã escurece. A tarde se esquece. A noite é tão longe. Outro mês se aproxima. Não me lembro dos últimos novembros. Quantos sóis delicados, céus azulados? Quantas nuvens aflitas, chuvas amargas? Sinto falta de novos setembros... Ah, se eu pudesse apagar todos os dezembros! Por hora, meus inimigos venceram. Os restos de mim pedem descanso.


Ulysses ferraz

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