"[...] parece-me injustificada a lenda defendida no
Ocidente de que se Trotski tivesse tomado o poder teria havido um
desenvolvimento mais democrático do que sob Stálin. Basta pensar nas discussões
realizadas em 1921 sobre os sindicatos para compreender que se trata de pura
lenda. Trotski sustentava então, contra Lênin, a tese de que era preciso
estatizar os sindicatos para incrementar de maneira mais eficaz a produção, o
que significava que objetivamente os sindicatos deviam deixar de ser
organizações de massa com uma vida própria. Lênin, que partia do exame da
situação concreta e defendia o sentido da democracia proletária nas relações
dos sindicatos com o partido, e o poder central, empreendia a defesa dos
interesses materiais e espirituais dos trabalhadores onde quer que essa defesa
se fizesse necessária, e mesmo em face de um Estado burocratizado. Não quer e
não posso aqui abordar toda a questão, mas é certo que Stálin, nos anos que se
seguiram, prosseguiu de fato (ainda que não na argumentação) na linha de
Trotski e não na linha de Lênin. Assim, se mais tarde Trotski acusou Stálin de
ter-se apropriado do seu programa, pode-se dizer que neste ponto, em muitos aspectos,
ele tinha razão. Aquilo que hoje consideramos despótico e antidemocrático na
época staliniana tem ligações estratégicas bastante estreitas com as ideias de
Trotski. Uma sociedade socialista dirigida por Trotski seria pelo menos tão
pouco democrática quanto a staliniana e ainda se teria orientado
estrategicamente à base do dilema política catastrófica ou capitulação,
afastando-se da tese substancialmente justa defendida por Stálin acerca do
socialismo em um só país. A impressão que tive do meu encontro com Trotski, em
1921, deixou-me a convicção de que ele, como indivíduo, seria levado ao
"culto da personalidade" em forma pior do que Stálin."
György
Lukács
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