quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Carta sobre o Stalinismo – 1963

"[...] parece-me injustificada a lenda defendida no Ocidente de que se Trotski tivesse tomado o poder teria havido um desenvolvimento mais democrático do que sob Stálin. Basta pensar nas discussões realizadas em 1921 sobre os sindicatos para compreender que se trata de pura lenda. Trotski sustentava então, contra Lênin, a tese de que era preciso estatizar os sindicatos para incrementar de maneira mais eficaz a produção, o que significava que objetivamente os sindicatos deviam deixar de ser organizações de massa com uma vida própria. Lênin, que partia do exame da situação concreta e defendia o sentido da democracia proletária nas relações dos sindicatos com o partido, e o poder central, empreendia a defesa dos interesses materiais e espirituais dos trabalhadores onde quer que essa defesa se fizesse necessária, e mesmo em face de um Estado burocratizado. Não quer e não posso aqui abordar toda a questão, mas é certo que Stálin, nos anos que se seguiram, prosseguiu de fato (ainda que não na argumentação) na linha de Trotski e não na linha de Lênin. Assim, se mais tarde Trotski acusou Stálin de ter-se apropriado do seu programa, pode-se dizer que neste ponto, em muitos aspectos, ele tinha razão. Aquilo que hoje consideramos despótico e antidemocrático na época staliniana tem ligações estratégicas bastante estreitas com as ideias de Trotski. Uma sociedade socialista dirigida por Trotski seria pelo menos tão pouco democrática quanto a staliniana e ainda se teria orientado estrategicamente à base do dilema política catastrófica ou capitulação, afastando-se da tese substancialmente justa defendida por Stálin acerca do socialismo em um só país. A impressão que tive do meu encontro com Trotski, em 1921, deixou-me a convicção de que ele, como indivíduo, seria levado ao "culto da personalidade" em forma pior do que Stálin."
 György Lukács 

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