sábado, 9 de novembro de 2013

crônica de uma dor

Poetas
seresteiros e
prostitutas tem algo incomum

todos
durante a execução de suas ‘obras’
suportam
comedidamente
a dor
ainda que esta
seja
lancinante

Jeronimo
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


Ferreira Gullar

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