Admirado e odiado. Assim era Fidel Castro. Pode-se concordar
ou não com suas posições, mas jamais ignorá-las. Isso porque Fidel não foi
apenas o principal líder de uma das mais extraordinárias páginas da história do
século XX – a Revolução Cubana. Ele se tornou uma referência mundial de
rupturas revolucionárias com intensa participação popular e exemplo de
libertação para povos oprimidos do mundo todo. E mostrou com sua longeva
liderança que um povo pode resistir às investidas da maior potência bélica
durante quase seis décadas sem abrir mão de sua soberania. Fidel tornou-se
símbolo de um tempo: aquele em que homens e mulheres enfrentavam corajosamente
a morte em busca da liberdade, como fizeram antes dele Martí e Bolívar, como fizeram
depois dele milhares de revolucionários em todo o mundo. Mas Fidel é também um
homem do nosso tempo. E por isso suas ideias continuaram ecoando. De um lado,
com o controle mundial da mídia, os capitalistas e reacionários combatendo com
todas as forças a revolução cubana, hostilizando-a e manipulando a realidade.
De outro, essa revolução humanista e seu comandante continuaram sensibilizando
milhões de lutadores por uma sociedades mais justa e igualitária, erguendo alto
a bandeira do socialismo.
Minha geração aprendeu a admirar Fidel, sem deixar de
criticar seus erros. Isso porque ele jamais abandonou seu compromisso com a
humanidade e a igualdade social, na lógica de que o homem não pode ser o lobo
do próprio homem. Para quem foi forjado na luta contra a Ditadura Militar, isso
não era e não é pouca coisa.
Fidel nunca cedeu às tentações do voluntarismo ou da
conciliação, como fizeram e fazem muitos outros líderes políticos de seu tempo.
Da guerrilha de Sierra Maestra à resistência à invasão da Baía dos Porcos, da
ameaça nuclear contra Cuba e o seu povo ao bloqueio imperialista, do
internacionalismo socialista ao desaparecimento da União Soviética que tanto
sacrificou o povo cubano, Fidel demonstrou coragem e liderança revolucionária.
Demonstrou também que os valores da liberdade, da soberania nacional e da
igualdade de direitos para ele não tinham preço. Incorruptível, manteve a
unidade do povo e da revolução através do seu exemplo de vida e dedicação.
Mesmo sendo Cuba uma pobre ilha que teve que reorganizar
completamente seu sistema econômico depois da revolução, Fidel apostou na
transformação cultural do povo para construir o que Guevara chamou de “o novo
homem e a nova mulher”. Com todas as dificuldades impostas pelo cerco
imperialista, construiu um dos melhores sistemas de educação e saúde do planeta
e conseguiu mostrar que mesmo sendo um país pobre, Cuba é exemplo de dignidade
e altivez para o ser humano. E foi o bloqueio imperialista que acabou por
contaminar a florescente democracia cubana, forçou a militarização da sociedade
e a formação de uma burocracia forte. Os imperialistas e o capitalismo mundial
cercam e oprimem Cuba durante décadas e querem exigir uma democracia liberal
semelhante às suas. A pergunta que fica é: como obstinadamente o povo cubano
conseguiu construir, na América Latina, a sociedade menos injusta?
Pode-se afirmar desse revolucionário que atravessou o século
XX para chegar ao XXI que ele é um homem de seu tempo, mas que esteve vários
passos à frente, elevou como ninguém essa condição de humano, portanto
imperfeito, mas vocacionado a trazer a esperança de um mundo de iguais.
Por isso, neste dia triste para a esquerda mundial, lembrar
da trajetória de Fidel e seu legado é a melhor forma de reafirmar nosso
compromisso com a transformação social, a ética e a justiça também no Brasil.
Ivan Valente .
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