"... povo é um conceito contraditório e fantasmático. O
povo, que só pode ser representado, desaparece no seu representante – o qual é,
por sua vez, o fruto do engano visual que compõe muitos seres em um só.
Portanto, a multitudo dissoluta, única presença na cidade, se dá por conta da
constituição do soberano. Mas ela é também o sujeito da guerra civil (Behemoth)
que permanece assim inseparável do Leviatã como uma projeção do estado de
natureza, da luta de todos contra todos, no coração da civitas. Behemoth e
Leviatã convivem e, seja segundo a tradição (na origem talmúdica), seja segundo
a lógica rigorosa (isto é, profética) de Hobbes, acabarão por matar um ao
outro. Somente então, com o desaparecimento do estado profano, poderá
afirmar-se, entre os homens, o Reino de Deus: a ficção da representação será
apagada e a multidão restituída a si mesma."
Resenha de "Stasis. Homo sacer II, 2" feita por Andrea Cavalletti (traduzida no Flanagens):
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