A nossa doença é a nossa máscara.
A nossa doença é tédio sem fronteiras.
A nossa doença é como um extrato de acomodação e inquietação
perpétua .
A nossa doença é miséria.
A nossa doença é estar aprisionados a um lugar.
A nossa doença é nunca podermos estar sós.
A nossa doença é não termos profissão, e se tivessemos uma
[seria] a de a termos.
A nossa doença é desconfiarmos de nós, dos outros, do saber,
da arte.
A nossa doença é falta de seriedade, falsa serenidade,
sofrimento duplo. Alguém nos disse: como o vosso riso é estranho. Se esse
alguém soubesse que este riso é o reflexo do nosso inferno, o amargo contrário do:
"Le sage ne rit qu'en tremblant" de Baudelaire.
A nossa doença é a desobediência a Deus que nos impusemos a
nós próprios.
A nossa doença é dizer o oposto daquilo que gostaríamos de
dizer. Temos de nos torturar a nós próprios, observando as expressões fisionômicas
dos que nos ouvem.
A nossa doença é sermos inimigos do silêncio. (...)
A nossa doença. É provável que alguma coisa a pudesse curar:
o amor. Mas tínhamos de acabar por reconhecer que nós próprios nos havíamos
tornado demasiado doentes para amar. Uma coisa porém existe que é a nossa
saúde. Dizer três vezes "apesar disso", cuspir três vezes nas mãos
como um velho soldado, e continuar então a avançar pela nossa estrada fora,
como nuvens puxadas pelo vento do ocaso, em direção ao desconhecido.
_____________________ GEORG HEYM
[Do poema em prosa '' Eine Fratze '', '' Uma Careta'' .
Tradução : Anabela Mendes]
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