sábado, 14 de maio de 2016

1878: A lei antissocialista de Bismarck


No dia 18 de outubro de 1878, o chanceler imperial Otto von Bismarck aprovou uma lei proibindo os partidos social-democrata, socialista e comunista.

Era um fantástico domingo primaveril de maio, o sol brilhava e o imperador Guilherme 1º fazia um passeio de carruagem com sua filha pela pomposa alameda Unter den Linden em Berlim. De repente, um tiro. O imperador não foi ferido. Mas o chanceler Otto von Bismarck telegrafou imediatamente ao seu secretário de Estado: "Não deveríamos tomar o atentado como motivo para medidas urgentes contra os socialistas e sua imprensa?"

Bismarck temia os social-democratas, que se tornavam cada vez mais fortes. Ele lhes atribuiu a culpa pelo atentado e, no verão europeu de 1878, preparou um projeto de lei proibindo as organizações socialistas. Mas o chanceler não conseguiu o apoio da maioria dos deputados no Parlamento alemão, o Reichstag. Uma semana após a votação, houve outro atentado contra o imperador e, desta vez, Guilherme foi ferido. A fim de obter a aprovação da lei, Bismarck mandou forjar uma confissão, segundo a qual o autor do atentado teria admitido ser socialista.

Divulgada a falsa confissão, Bismarck fez com que fosse eleito um novo Parlamento. No dia 18 de outubro de 1878, a chamada lei antissocialista foi votada pela terceira vez no Reichstag e, desta vez, Bismarck tinha o apoio garantido da maioria. Um dia depois, a "lei contra as metas perigosas da social-democracia" entrou em vigor.

Começa era difícil para social-democratas

A imprensa social-democrata foi proibida, da mesma maneira como as suas organizações. Somente a representação parlamentar pôde continuar existindo. No final de novembro, inúmeros socialistas foram expulsos de Berlim. Outras cidades seguiram o exemplo.

No entanto, um panfleto conclamava os banidos a não promover uma revolução e sim a manter a calma: "Qualquer erro de uma única pessoa poderia ter consequências desastrosas e daria à reação uma justificativa para os seus atos de violência".

O trabalho na clandestinidade começou com mil marcos na caixa do partido. Nas cidades grandes, surgiram associações socialistas, disfarçadas de clubes de fumantes, de jogadores de cartas ou clubes de ginástica. Panfletos e revistas eram impressos no exterior e contrabandeados para a Alemanha.

Num castelo, nas proximidades de Zurique, o partido reuniu-se em agosto de 1880 para debater seu futuro. A revolução e o anarquismo foram rechaçados. A bancada do Reichstag, ainda existente, assumiu oficialmente a direção do partido.

"Agitadores em busca de simpatizantes"

Apesar da proibição, os socialistas conquistavam cada vez mais adeptos. Para o deputado Ignatz Auer, tal fato era também uma conseqüência da lei antissocialista: "Se antes era necessário enviar agitadores pagos a todo o país para difundir os princípios do socialismo, esses foram agora substituídos em grande número por trabalhadores instruídos. Eles se tornaram agitadores e buscavam simpatizantes para a social-democracia entre os trabalhadores que antes não tinham nenhum conhecimento da existência do partido".


Nas eleições seguintes, os social-democratas conquistaram cada vez mais votos, embora oficialmente não pudessem fazer campanha eleitoral. Bismarck introduziu o seguro-saúde, o seguro-desemprego e o seguro de acidentes, a fim de reconciliar os trabalhadores com o Estado e esvaziar a  força dos social-democratas. Mas, em 1890, o Partido Socialista dos Trabalhadores tornou-se a principal força no Reichstag e a lei antissocialista não foi mais prorrogada.

Ralf Geissler/ DW

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